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terça-feira, 30 de dezembro de 2003

Gritos 

Foi com certeza um sorriso de indisfarçada alegria aquele que esbocei quando ela me disse que um grande amigo seu se tinha declarado homossexual. E só não lhe disse tudo o que me apetecia dizer-lhe ao ouvir que aquela revelação, longe de a ter incomodado apenas fez com que compreendesse melhor aquela pessoa e com que os laços de amizade e cumplicidade se estreitassem entre eles, porque a quantidade de gente que nos ouvia não permitiu que abordasse o assunto!

Ela é uma daquelas amigas que já nasceu connosco. Que nos acompanha desde que… Nem sabemos bem desde quando, apenas sabemos que olhando para trás ela esteve sempre lá e, olhando em frente, não conseguimos sequer conceber a ideia de que não esteja!... E, no entanto, como todos os amigos de longa data, chega a uma altura dos nossos dias em que a vida faz o favor de nos separar, e lá fomos nós, cada uma para seu lado… aumentam-se as distâncias e regalam-se os sócios da TMN à nossa custa!... Mas há assuntos sobre os quais não dá para falar por telemóvel… Ainda sou muito adepta do “olhos nos olhos”, que hei-de eu fazer?!
Foi por isso que os dias foram passando sem que nunca lhe tenha revelado a minha homossexualidade… Foi por isso, também, que os olhos sorriram quando soube que alguém se adiantara a mim na abordagem do tema. Pensei que seria uma boa oportunidade para falar sobre o assunto sem tabus e também para adivinhar a reacção do meu grupo de amigos a uma temática pouco frequente entre nós… A questão foi tratada com naturalidade quando nos contou da identidade do seu amigo, e nunca mais a ela se voltou.

Nas férias de Verão a minha amiga foi passar uma semana a casa do seu amigo gay e respectivo namorado… Ao fim dos sete dias lá regressou à cidade e ao café de sempre, para o balanço habitual de férias. À pergunta pelas suas passeatas com o N. e o namorado, a minha amiga respondeu-me com um (então) surpreendente: “Correu muito bem e eles são muito simpáticos e tudo! Mas já estava cansada de tanto gay e lésbica… Chegou a uma altura que me comecei a sentir mal. Parecia que eu é que era a diferente no meio daquilo tudo. Comecei a sentir-me esquisita ali, parecia que não estava neste mundo! Só me apetecia gritar que era hetero a torto e a direito, para que não me confundissem!
Na altura não consegui resistir e lá tive que recalcitrar: “Pois é, mas se calhar ficaste a perceber melhor como é que os homossexuais se sentem num mundo onde os hetero são a maioria!”… Na altura confesso que fiquei quase violenta, de tão desiludida que me senti com a minha amiga. Tinha-a como uma pessoa extremamente tolerante e ela saía-se com aquela do “parecia que eu é que era a diferente” e mais não sei o quê!... Ao fim de alguns dedos de conversa, a minha amiga que, além de tolerante, é inteligente e sabe ouvir e compreender aquilo que lhe dizem, estando sempre disposta a mudar de opinião, quando reconhece que a sua não é a mais correcta, lá acabou por dar o braço a torcer e reconhecer que aquela semana que tinha vivido tinha sido apenas uma pequena amostra do que é a vida de um homossexual numa sociedade maioritariamente heterossexual!

Até então. ela também era daquelas que defendia que cada um era aquilo que quisesse ser e não valia a pena falar sobre isso, a homossexualidade era um assunto da intimidade, assim como a sexulidade hetero e ninguém teria que estar a comentar fosse o que fosse da vida privada de cada um…

E foi assim até se ver do outro lado do filme, passando de maioria a minoria, de “tolerante” a “objecto de tolerância”… e aí, “desse lado da barricada”, o instinto foi gritar logo “eu sou heterossexual”, porque a sua identidade sexual passou a marcar a diferença e pesou-lhe na sua relação com os outros…

Na altura em que discutimos este assunto a actividade blogaysférica ainda dava os primeiros passos e eu ainda não falara sobre isto com ninguém. Pensei então que aquele fora apenas um comentário infeliz e isolado da minha amiga e que, no fundo, aquela semana de férias lhe fizera muito bem para compreender como se sente um homossexual numa terra castradoramente heterossexual…

Hoje, que a blogaysférica dá já passos seguros compreendo que o grito que a minha amiga deu no fim daquelas férias, se assemelha em muito ao grito que dão alguns leitores hetero no fim da leitura de blogs como este!...

Em face de tais gritos dou por mim a interrogar-me porque incomodará tanto a temática LGBT? Pois se a blogoesfera é um espaço de liberdade, sem éticas nem deontologias que não aquelas que cada autor queira estabelecer para si próprio, porque razão hão-de alguns bloggers sentir-se incomodados com blogs como este? Sei qual é a resposta: custa sentir-se minoria, não custa?!

Gostava de dizer como o André: “I don’t give a damn”… Mas a verdade é que dou! Não deixo de me sentir surpreendida quando pessoas que tenho como intelectualmente interessantes, como o Alexandre, cujo blog leio diariamente, não conseguem compreender que quando estão colocados na pele do outro (leia-se quando estão a ler um blog com temática diferente da temática convencional que se foi instalando numa certa blogoesfera e, por isso se sentem minoria) reagem exactamente com as mesmas atitudes que criticam em nós, gritando "num tom militante e aguerrido: 'este blog é 100% assumidamente heterossexual'”!



quarta-feira, 24 de dezembro de 2003

Hoje é dia de ser bom, diria o Gedeão...  


... Direi eu antes: hoje é dia de ser verdadeiro! Apetece-me ser sincera mais do que em qualquer outro dia. Apetece-me falar do coração, mesmo correndo o risco de ser kitsch, apetece-me esquecer teorizações, convenções ou seja lá o que for!...

Hoje é dia de Natal... Melhor dizendo, dia de consoada que vai quase dar ao mesmo. Os meus pais mal se falam... Eu quase não falo com eles... E eles quase não falam com os irmãos... E, no entanto, lá vamos alegremente distribuir presentes, comer à mesma mesa e fingir sorrisos durante umas boas horas... Amanhã repete-se a romaria e, com um bocado de sorte, prolonga-se pelo fim de semana...

E, apesar de todas as hipocrisias, sinto-me hoje feliz! Feliz porque o Natal é muito mais que estes almoços e jantares com um conceito de família "avariado"... O Natal é (não poderia cá faltar) a celebração do nascimento de Cristo, com tudo o que isso significa de esperança, amor e partilha... E porque hoje em mim não falta a esperança de um Natal bem diferente deste, o Amor a tanta gente e a uma pessoa muito particularmente... e, muito especialmente, porque ao longo deste ano e deste blog descobri muitas pessoas que sabem do que falo quando falo de esperança e de amor e com as quais gosto de partilhar dias, sentimentos e até "discussões"... Apesar das horas dolorosamente fingidas que se aproximam este será um Feliz Natal!

Bem sei que roço quase a pirosice, mas não resisto em agradecer a todos os vizinhos da blogosfera o facto de, só por existirem, só por estarem desse lado e interagirem connosco, permitirem que este Natal, vivido longe de quem efectivamente quero e amo, não seja mais um Natal de solidão!...


terça-feira, 23 de dezembro de 2003

Carta Aberta à Anabela Rocha 


A propósito do post anterior, comentou a Anabela Rocha:

Mente Assumida: nada disto é para mim surpresa, desde quase o primeiro post que aqui colocaste. Confesso que foi uma das razões que me fez hesitar inicialmente em alargar as minhas experiências blogoesféricas. Tanta gente tão diferente de mim, com ideias que eu abomino (não, não vou ser mole)! No entanto, gabo-te a coragem de finalmente o expressares com toda a inteireza.
E abomino porquê? Porque penso que nos incutem sofrimentos e culpas totalmente desnessários; já basta a imperfeição dos nossos actos e amores para que soframos. Para quê acrescentar-lhe razões ontológicas, teleológicas, etc.? Já sofremos o bastante com as contas que temos de nos prestar. Quem são eles para adicionar ainda mais sofrimento? NÃO, NÃO E NÃO. Sanguessugas das misérias humanas, é o que são. Get a job! Get a life!


Reservo-me o direito de contra-argumentar, mas por uma questão de organização de espaço e de "separação das águas", chamemos-lhe assim, não no sistema de comentários, mas num post.


Minha cara Anabela Rocha,

Senti um tremendo orgulho quando li a sua primeira frase. Na minha interpretação, significa que sou uma pessoa coerente, que mantém os seus pontos de vista sempre que considere que eles são válidos e que vale a pena lutar por eles. De facto, nunca ocultei - nem, sequer, procurei fazê-lo -, desde o início deste blog, que além de lésbica, também sou de direita e católica. As frases estão espalhadas um pouco por todo o lado, desde os posts ao sistema de comentários deste blog e dos da vizinhança, passando pelos comentários que fui/vou deixando noutros blogs...

No entanto, isso nunca me impediu de

1. Criticar as actuações dos partidos de direita, incluindo o meu (ainda há dias o fiz no blog da Sara, a propósito da propaganda polí­tica que o senhor Dr. Pedro Santana Lopes tem vindo a espalhar pela cidade de Lisboa.

2. Criticar uma certa camada da comunidade lgbt, que se julga detentora de "verdades absolutas" e que passa a "vidinha" a excluir os outros: ou porque não são da mesma cor política, ou porque não professam a mesma religião, ou porque não abdicam de serem mulheres - isto é, de terem, se lhes apetecer, aparência feminina e, até, filhos - apesar de serem lésbicas, ou porque pura e simplesmente não têm condições para assumirem a sua homossexualidade e, no pleno uso dos seus direitos, decidem não o fazer, etc., etc., etc.. Os exemplos de discriminação no seio da comunidade são inúmeros.

3. Criticar aberta e declaradamente a Igreja Católica, sempre que considerei que os seus comportamentos merecia reprovação. Foi e será assim relativamente
I) à sua posição face à alteraçãoo da lei da interrupção voluntária da gravidez, porque - e isto é um dos princípios basilares do Estado de Direito (separação de poderes) - os poderes judicial e legislativo são totalmente independentes da Igreja, e há que entender, respeitar e aplicar isso, doa a quem doer, ainda que implique a perda de privilégios ou de status quo;
II) face ao uso de preservativo (já aqui apelei à importância da prática de sexo seguro e à  necessidade de educar as populações no sentido não de punir os seus comportamentos, mas de os alertar para o perigo da sua prática);
III) face à homossexualidade (mais adiante referir-me-ei detalhadamente a este ponto)
IV) e a muitos outros assuntos, que não importa agora enumerar (os principais estão referidos).

Posto isto, algumas clarificações.
Disse-o no post anterior e volto a repeti-lo: para se integrar/compreender qualquer fenómeno de massas como a Igreja Católica(e até mesmo a comunidade lgbt) é necessário ter muito sentido crí­tico. E eu tenho-o. Daí­ que tenha o discernimento e a capacidade de apontar problemas no seio da Igreja Católica. Referi-me, inclusivamente, ao lobby constante que a Igreja Católica faz ao poder polí­tico, cuja última demonstração foi o ridículo (a meu ver) abaixo-assinado para a inclusão da referência à tradição judaico-cristã da Europa no texto da Constituição Europeia. A Anabela desconhece a minha verdadeira identidade, mas posso garantir-lhe que o meu nome não está e nunca estará entre os dos mais de 55 mil portugueses que subscreveram o documento.
E, tal como fiz relativamente a este assunto, fi-lo a muitos outros. Seguem-se alguns exemplos.
a) Neste blog foi focada a intolerabilidade de um documento como o que o senhor Cardeal Ratzinger divulgou há alguns meses, pela carga homofóbica que contém (pela mão da Assumida Mente, é certo, mas eu revelei o meu completo acordo com o que ela escreveu).
b) Digo no post que deu origem ao seu comentário que não creio no dogma da infalibilidade do Papa, pelo que me permito discordar de muitas das suas posições - divórcio, adopção, eutanásia e, evidentemente, homossexualidade. Ou seja, Anabela, lá porque sou católica e não tenho receio de o afirmar (ainda que já soubesse que nenhum dos meu "vizinhos" o é), isso não significa que aceite tudo o que a minha Igreja impõe.

A ver se nos entendemos.
Acredito profundamente na religião em si, nos princí­pios, nos valores, mas aponto o dedo à Instituição e à Doutrina, sempre que considero que não é justa. E não é justa, certamente, no que diz respeito à homossexualidade. Vejamos.
a) Utiliza termos profundamente infelizes e que revelam ignorância, tais como "perversão grave", "pecado contra a natureza", "pecado da carne", etc..
b) Apela à castidade dos homossexuais, isto é, de pessoas que têm todo o direito de não se subjugarem a ela. Não segui nenhum sacramento que me impusesse o celibato, porque haveria de não viver a minha vida em plenitude, incluindo a parte sexual, abdicando da minha felicidade?
c) Apela à compaixão e ao respeito por parte dos que não o são, perante os que são homossexuais. Compaixão que se deve a quê? Que se explica como? Através da noção de pecado.
d) Porque a Igreja Católica classifica como pecado a homossexualidade.

E é aqui, precisamente, que é necessário esclarecer uma coisa: nem eu nem a Assumida Mente vemos a homossexualidade como um pecado. Para nós, a homossexualidade é algo de tão natural como a heterossexualidade, como ser branco, como ser negro, como ser alto, baixo, magro ou gordo. Não defendemos que seja contranatura, muito pelo contrário - está na nossa natureza (na minha e na da Assumida Mente) que sejamos homossexuais, porque assim somos desde que nos recordamos de sermos nós, desde que despertamos para o mundo dos afectos e da sexualidade.
Logo, o que acontece é que, no que concerne é nossa sexualidade, não aceitamos o jugo que a Igreja Católica impõe aos homossexuais. Não o aceitamos, precisamente, porque à luz dos valores que a Igreja tem na sua génese - e que são, sinteticamente, os do Amor, da Compreensão, do Bem, da Entrega, da Entre-Ajuda, do Respeito por si mesmo e pelo outro - ele não se nos afigura razoável. Como há-de um Deus Pai misericordioso, que me criou homossexual, julgar-me por este mesmo facto? Sou como sou porque Deus me fez assim. A minha sexualidade não está na minha disposição, não compreende o meu livre-arbítrio. Logo, se é algo que me é intrínseco, não poderei abdicar dela, sob pena de ser infeliz - e Deus não quer ver nenhum dos Seus filhos infelizes! Deus é Amor - e Amor é sinónimo de Felicidade e não de sofrimento, castração, tortura e comiseração. E o que a Igreja Católica quer impôr aos homossexuais é este sofrimento, esta castração, a tortura e a comiseração. Rejeito veementemente esta perspectiva da Igreja Católica. Rejeito-a porque de outra forma nunca poderia cumprir o plano de felicidade que Deus traçou para mim.

No entanto, cara Anabela, isso não significa que encare este aspecto como contaminante, aceitemos esta expressão, de toda a actividade da Igreja Católica. Encontro nela muitos aspectos positivos, que superam em larga medida os negativos. Quando assim deixar de ser (espero que esse dia nunca chegue), então aí­ sim, talvez mude de religião ou me torne, simplesmente, agnóstica. Por isso tenho um imenso respeito por todos aqueles que professam religiões diferentes da minha, por todos os que, sendo católicos, um dia ousaram mudar de religião e tentar ser mais felizes e mais realizados noutras comunidades. Porque no fundo, todos têm em mente fazer o Bem e atingir a realização pessoal e colectiva dos indivíduos, servindo ao seu Deus, quer lhe chamem Javé, Jeová, Alá ou Buda. Porque o meu Deus não tem um nome - tens muitos nomes. Porque ele não se manifesta só pela boca dos Papas, dos cardeais, dos bispos e dos padres católicos, mas sim pela boca de todos os que praticam o Bem e contribuem para a Felicidade dos outros. Porque ele não habita simplesmente na Igreja Católica, mas sim em todas as Igrejas e na casa de todos nós, desde que sejamos capazes de o receber. E ele pode entrar sob a forma de um moribundo, de um sem-abrigo, de um amigo que está triste, de alguém que sofreu uma perda, de um filho recém nascido, de um pai inválido. Pode entrar através de um raio de sol que alegra as nossas manhãs.

É neste Deus que eu creio - e aprendi a vê-lo assim no seio de uma Igreja que, em muitos aspectos, é lúcida o suficiente para o proclamar. O Papa João Paulo II ficará conhecido na história mundial como o Papa mais ecuménico de sempre, porque, como nenhum seu antecessor fez, apelou para a união de todas as religiões e todos os credos em volta de um só valor - o Bem/Felicidade do Homem. Porque, contrariamente àquela que é a convicção de muitos - e, pelo que li, também a sua - a Igreja Católica já deu mostras de querer mudar certos aspectos da sua conduta. Ponto de viragem foi, indubitavelmente, o momento em que João Paulo II afirmou na Praçaa de São Pedro que pedia perdão a todos os que foram vítimas da Santa Inquisição, uma das (sim, infelizmente, não a única) páginas mais negras da história desta instituição. Muito provavelmente, nenhum de nós sabe que é descendente de uma vítima da Inquisição, pelo que nenhum de nós aceitou individualmente aquele pedido de perdão. Mas nenhum de nós, no entanto, deixou de reconhecer que o Papa demonstrou uma coragem admirável ao proferir aquelas palavras.
É essa coragem que eu anseio ver no que diz respeito aos homossexuais. E é, também, por isso, que não desistirei de lutar no seio da própria Igreja Católica, até que um dia ela admita que está errada. É a isto que eu também chamo "evangelizar".

Não aceito imposaições de sofrimento nem de abdicação da minha sexualidade, mais uma vez, repito, porque não está nas minhas mãos deixar de ser lésbica. Não classifico de outro modo senão como contranatura - agora sim - o facto de os homossexuais se remeterem à castidade, por isso, não a aceito também. Proclamo o respeito pelo ser que sou enquanto obra de Deus, criada à sua imagem, pelo que repudio a comiseração dos meus semelhantes. A consumação de um amor tão puro e verdadeiro como o que sinto pela Assumida Mente não pode, de forma alguma, ser pecado, pelo que me recuso a classificá-lo de tal forma e a penitenciar-me pelo facto de ser feliz.


A missão de alguns de nós é o activismo. A sua missão, Anabela, talvez o activismo social. A minha, poderá muito bem ser o activismo religioso. Nenhuma de nós detém verdades absolutas. Apenas perpectivas diferentes. Eu entendo que é assim que se combate o erro - através da clarificação, pelo que tento abrir os olhos e os ouvidos dos que, tal como eu, são católicos. É uma escolha que faço, esta sim, livre e conscientemente. E lutarei por ela, com coerência, dignidade e honestidade, como faço com todos os meus ideiais. Enquanto valer a pena.


Um abraço,

Mente Assumida

domingo, 21 de dezembro de 2003

Um post longo e entediante sobre Catolicismo e Homossexualidade, de leitura não aconselhável a quem já esteja cansado do tema. 

Conservadorismo. Já falei aqui dele, hoje volto a falar. Para muitos, ser de direita, advogada e católica praticante poderia traduzir-se numa expressão ("fascista, aldrabona e papa-hóstias") ou numa simples palavra: conservadora. Serei conservadora, então.
Desde sempre que me lembro de ir à Igreja. Fui baptizada aos dois meses, fiz a Primeira Comunhão, a Profissão de Fé, o Crisma. Vou à Missa, por vezes, dois dias por semana. Participo activamente na minha e noutras paróquias. Por volta dos meus quinze anos, comprei a recitação do Rosário, pelo Papa João Paulo II, em cassetes, para rezá-lo em conjunto com ele sempre que me apetecesse. Aos dezassete anos, já havia lido todos os livros da Bíblia. Dos meus momentos de oração, fazem parte muitos Salmos, orações retiradas do meu livro preferido. Quando vou em viagem a essa hora, ouço e acompanho quase sempre a recitação do Terço na Rádio Renascença, às 18h30. Se estiver em casa dos meus avós, este ritual é feito em família. Quando o sono não vem, refugio-me na oração para melhor aproveitar as horas. Na Quaresma, faço muitas vezes a Via Sacra. Na Sexta-Feira Santa, às 15 horas, nuns minutos de oração e recolhimento, medito na Paixão de Cristo. No Ano do Jubileu assisti à Missa todos os Domingos, o que me permitiria alcançar a indulgência plenária, caso tivesse comungado nessas Missas. Na família da minha mãe, há um tio bispo e um outro que é sacerdote. Colecciono livros de orações do início do século, que vou comprando em alfarrabistas, um pouco por todo o lado…
As referências à diversidade de presenças/acontecimentos na minha vida relacionadas com a Igreja Católica poderia continuar. Mas não vale a pena. Provavelmente, a estas horas estão a imaginar-me como um Eusebiozinho Silveira, que Eça de Queirós tão bem retrata n'Os Maias: uma sumidade na doutrina, com a cartilha na ponta da língua, molengona e taciturna, com expressão grave e séria, de quem tem mentalidade de abade… Mas não. Faltou-me o método. Se "é preciso método - as crianças dormem à noite", como afirma Afonso da Maia pela pena do Eça, comigo isso nunca aconteceu. Cá em casa, cada um deita(va)-se quando quer(ia). Daí que admito ter uns laivos de Teodorico Raposo, ainda que sem Relíquia e sem Titi Patrocínio, mas isso é outra história...
De facto, penso que para estar inserido numa comunidade como a Igreja Católica, é necessário saber compreender os "fenómenos de massas". E ter, naturalmente, sentido crítico. Muito sentido crítico.
É por isso mesmo que tenho o discernimento e a frieza necessários para viver deste modo sem cair em fundamentalismos nem exageros. Acredito profundamente nos ideais cristãos e católicos na sua essência, enquanto princípios, mas não com todas as formas de explicitação que lhes foram sendo dadas ao longo dos tempos. Porque os princípios vêm de Deus, e a doutrina vem dos homens. Ainda que sejam Papas...
O dogma da infalibilidade do Papa (que afirma que este é infalível quando se pronuncia quanto a questões de doutrina) é o único em que não consigo aceitar sem reservas. E os dogmas, supostamente, enquanto dogmas, significam apenas isto: crê-se sem se questionar. São exemplos de outros a Santíssima Trindade, a Imaculada Conceição, a Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Nestes, creio profundamente. Quanto ao outro...
E isto porque não consigo conceber a ideia de que um Papa que proíbe o uso de preservativo, que não admite o divórcio, que condena a fornicação (estou a usar os termos doutrinários, pelo que fornicação significa qualquer contacto sexual fora do matrimónio) e a homossexualidade seja absolutamente infalível. Não consigo, ponto. E olhem que já muitos mo tentaram explicar... Enfim, são limitações da minha condição humana/pensante... Adiante.

Rezam assim os pontos 2357 a 2359 do Catecismo da Igreja Católica:

A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para com pessoas do mesmo sexo. Reveste formas muito variáveis, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua, em grande parte, por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, receber aprovação.

Um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundas. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui; para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se são cristãs, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.


Estes três parágrafos são cortantes para alguém que, como eu, acredita e quer viver segundo o modelo cristão e católico. Li-os pela primeira vez em 1993, mas desde então até hoje, meditei inúmeras vezes sobre eles e, muito provavelmente, continuarei a fazê-lo ao longo da minha vida. Foi exactamente a partir daqui que passei a ter consciência do “pecado” da homossexualidade. Até então, sabia que apenas uma minoria de pessoas era homossexual, que os homossexuais não podiam ter filhos entre si, que não podiam casar, etc.. Não sabia, no entanto, que devíamos ter compaixão "deles". "Deles" porque na altura nunca tinha sentido atracção sexual por ninguém, homem ou mulher. Com o passar dos tempos, por volta dos meus 15/16 anos, percebi que aquele "eles" era, afinal, "nós". Perante isto, que fazer? Valeu-me a lucidez de espírito que, felizmente, Deus me deu. Passei a encarar estes três parágrafos de outra forma.
Li por diversas vezes as Sagradas Escrituras e sei que as passagens a que se refere o parágrafo 2357 que, naquela interpretação, apresenta os actos de homossexualidade como, cito, depravações graves, podem ser objecto de outra interpretação. [Exemplo muito vivo desta disparidade de interpretações dos referidos textos (mesmo entre os teólogos), mas relativamente a outros aspectos que não a homossexualidade, é a Igreja das Testemunhas de Jeová, que não acreditam na Virgindade de Maria após o nascimento de Jesus, nem que Jesus seja o único filho de Maria e José, etc. (não vale a pena estar aqui a enumerar, porque não vem ao caso) ]. A outra interpretação que se dá a essas passagens (que, praticamente, se resumem à destruição das cidades de Sodoma e Gomorra - Génesis 19,1-29), pode ser bem diversa e nada ter a ver com a homossexualidade. Mas um dia, se calhar, voltaremos a falar disso. Só por curiosidade, há até quem afirme que Cristo seria, possivelmente, homossexual, invocando como prova a afectividade que o aproximava de João, o seu discípulo predilecto, mais jovem do que Jesus uns bons anos… Mas isto são "outros quinhentos"...

Pasme-se. Quando, num momento de desespero, contei em confissão ao sacerdote que era homossexual, não recebi em troca palavras de censura e compaixão. Pelo contrário, quando demos conta, estávamos ambos a falar de castidade. Pelos vistos, não era só a mim que tal tarefa se revelava difícil. O padre com quem falava, acabou por confessar que até bem perto dos quarenta anos, tinha mantido relações sexuais esporádicas com mulheres, cedendo, como dizia, à tentação da carne. Não consegui reprovar aquela atitude do padre. Eu, que defendo, ainda hoje, a castidade e o celibato dos sacerdotes enquanto cumprimento do seu sacramento de ordenação, face àquela revelação, só consegui esboçar um sumido "É difícil, não é?", que obteve por resposta um aceno de cabeça: "É quase sobre-humano", disse ele.
Sobre-humano. Que vai para além da natureza do homem. Que o supera. Que lhe é inatingível. Quase sobre-humano. Que, nalguns casos, é atingível.
O conselho do meu interlocutor foi o de tentar manter castidade, nas palavras, nas obras e nos pensamentos. O de tentar. Mas logo a seguir disse-me que, quando sentisse necessidade de confessar novamente o mesmo pecado, não era necessário descrevê-lo, bastando que dissesse que tinha cometido "aquele" pecado, que ele já sabia qual era... Isto demonstrou que, se não resistisse, podia ser novamente perdoada. Este momento da confissão teve um enorme significado para mim. Tirou-me a lama dos olhos e fez-me ver que os braços do meu Deus estão sempre abertos para me receber. Fez-me ver que o meu Deus é grandioso e magnânimo, ao ponto de aceitar que, mesmo que não atinja a perfeição por essa via (da suposta castidade no que concerne aos meus actos homossexuais), há muitas outras vias para o fazer.
Não será necessário dizer que não resisto à "tentação da carne" [que expressão infeliz, Deus meu!], pois não? ;) Por isso mesmo é que procuro atingi-la nos outros aspectos, o primeiro dos quais, pondo os meus talentos ao serviço da Igreja da qual faço parte, pondo-os ao serviço de quem deles precisar. Ecoam no meu pensamento muitas vezes as palavras de São Paulo: "Ai de mim se não evangelizar!"
Acredito que esta evangelização não tem de ser feita apenas fora da Igreja Católica. Há muita gente no seu seio que necessita de evangelização. Um deles, é o Senhor Cardeal Ratzinger... Outros são os sacerdotes que se recusam a absolver os homossexuais em confissão. Outros são os católicos que criticam e discriminam os homossexuais, porque estes, ainda que guardem castidade, resistam à tentação da carne ou usem batina, estão ainda muito longe da perfeição. Possivelmente, mais do que eu, mas disso não tenho a certeza...
Esta é uma das razões que me leva a não desistir de ter um papel activo dentro da Igreja Católica. Porque penso que é possível evangelizar estas pessoas. Estou convicta que a minha postura contribuiu para criar no padre que me confessou, senhor dos seus 65 anos, a convicção de que os homossexuais não são um bando de homens pervertidos como os retratados na passagem bíblica que há pouco evoquei. A minha e não só a minha, pois há um outro homossexual que tem também funções nessa paróquia. Demonstramos que, ainda que sejamos gays e cometamos o "pecado contra a natureza", somos pessoas bem intencionadas, justas, que sabem dar sem receber, que procuram, todos os dias, fazer do mundo em que vivemos um mundo um pouco melhor, à semelhança do que fez Cristo.
O segundo motivo que me leva a permanecer no seio da Igreja Católica é o facto de não acreditar nos célebres três parágrafos do Catecismo [estou a candidatar-me à excomunhão, mas tudo bem...]. Não acredito que aquelas palavras transmitam a visão que Deus tem dos homossexuais, que também são Seus filhos e que foram criados à Sua imagem. Transmitem antes, a visão dos Seus bispos, cardeais, dos seus Papas, que também são Seus filhos, criados à Sua imagem. Ou seja: ninguém, nem o Papa, está livre de errar. Ninguém é infalível. Porque todos somos humanos, e a nossa perfeição pode estar próxima da de Deus, mas não a alcançará nunca, porque Ele é divino e nós nunca o seremos.
É por tudo isto que, muito mais do que ouvir a expressão "Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", anseio muito mais pelo dia em que o Papa peça perdão a todos os homossexuais, por ter nos ter provocado tanto sofrimento ter apelado à compaixão por nós, muito mais do que ao respeito, ao amor e, sobretudo, à nossa não diferenciação enquanto cristãos. Já o fez em relação à Santa Inquisição. Um dia, chegará a nossa vez. Espero que esse dia esteja próximo. Se não poder assistir a ele na Terra, tenho a certeza que vou vê-lo ao colo de Jesus, de mão dada com a Assumida Mente.


sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

Este post não está aqui!  


Não está não senhor! Ele está ali em baixo, nos comentários ao post anterior e vocês só o vêem aqui porque assim é de mais fácil leitura!
Quando escrevi o post anterior sabia que não escrevia sobre um tema pacífico… Se fosse também não tinha piada, não é?...

O que estranhei foi a consensualidade dos comentários, a grande generalidade foi num único sentido: a maior parte das pessoas que comentou o post anterior afirmou-se como tendo já estado ligada à Igreja Católica, mas essa mesma generalidade afirmou também que, por um motivo ou por outro, num determinado momento da sua vida, se afastou dessa mesma Igreja.

Não quero que me interpretem mal nas palavras que se seguem. Não tenho por hábito julgar ninguém e nem sequer estou a fazer a defesa seja de quem for (dado o adiantado da hora já fechei o estamine de advogada há muito!). Simplesmente vejo as coisas de forma diferente.

Eu também concordo, Sara, que “muitas vezes, a postura oficial da Igreja como instituição caminha a passos largos e numa direcção oposta à bondade, caridade, misericórdia e profundo amor ao próximo”; reconheço Janela, que há coisas na Igreja “dificilmente suportáveis”; muitas vezes, também não consigo, como a Eu Mesma, deixar de associar a Igreja “à hipocrisia” e obviamente sei do que fala a Teca quando fala do “divórcio entre os valores cristãos e a realidade da instituição”… mas, ainda assim, não concebo a ideia de cortar relações com a Igreja Católica. Fundamentalmente por duas ordens de razões:

Antes demais, por uma razão pessoal, “íntima e transmissível” – como as entrevistas da TSF! Simplesmente a Igreja e os rituais a ela associados são parte integrante da minha personalidade. Para me sentir feliz, completa e de bem comigo mesma preciso de ir à missa todos os domingos, preciso de momentos de oração, preciso de me sentir integrada no meu grupo de sempre… preciso também da confissão em alguns momentos da minha vida (da confissão verdadeira e sentida e, por isso, como bem devem calcular, nunca confessei a minha homossexualidade simplesmente porque não estou nem nunca estarei arrependida dela!)… e precisava até da comunhão!!!... Abdicar de tudo isto. Abandonar tudo isto far-me-ia sentir amputada enquanto ser humano, porque foi esta a cultura em que nasci e é assim que estou habituada e gosto de viver!

Mas também por uma razão utópico-ideológica!
Porque acredito, como também referi no post anterior, que as grandes mudanças devem ser feitas dentro das instituições, de dentro para fora e não ao contrário. E porque, se, apesar de saber que o mundo é um mundo cão, hipócrita e segregacionista, não me mudo para Marte, antes tento criar aqui uma área dignamente habitável, porque não hei-de fazer o mesmo no seio da Igreja? Porque hei-de fugir para Marte se é neste mundo que me sinto bem, ainda que lhe reconheça enormes falhas?!

… Sei que é muito utópica e idealista esta minha atitude. Mas fiquei contente com a informação da nossa querida jornalista de serviço, de acordo com a qual “há um grupo de católicos que se reunem em Lisboa quase todos os meses, liderado por um padre francês, que já faz trabalho do género há anos”… pena que seja a trezentos quilómetros de casa :-)



quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

Sim, creio! 

Do órgão soaram as primeiras notas. As pessoas começaram a organizar-se em duas filas no corredor central da Igreja, como sempre… Já não me lembro o que cantavam… Sei que, nesse momento, o meu pensamento voou. Pela primeira vez nessa semana dei por mim a vacilar… Seria mesmo aquilo que eu queria? Estaria eu certa do caminho que tomava? Valeria a pena pôr em causa todo o percurso até então percorrido?

Ajoelhei-me e fechei os olhos. Ensaiei o início de uma oração, mas o turbilhão de pensamentos e emoções que me invadiam não me deixavam concentrar… As vozes arrastadas ressoavam dentro de mim como se do eco de frases que havia já lido e ouvido sobre o assunto se tratassem… Revi, em fracções de segundo, como a minha vida havia sido conduzida até ao princípio daquela semana: a luta por um ideal de perfeição, os passos dados com os olhos postos num determinado modelo de vida… num determinado modelo de homem – Cristo!...
Abri os olhos e olhei em volta. A fila para a comunhão diminuíra já consideravelmente. Sentia-me impelida a ir também eu cumprir o meu ritual de tantos anos… Mas a minha consciência não mo permitia… Nunca mais!... Havia cometido um pecado contra a natureza, pecado mortal… pecado que, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, “brada aos céus” e, por isso mesmo, aquele ritual estava-me vedado…

Compreendo que seja difícil para os agnósticos, ateus, não católicos ou católicos desiludidos perceber o que quero dizer ao afirmar que a grande luta interior que tive que travar comigo mesma quando concretizei a minha homossexualidade no beijo que vos descrevi e em tudo o que se lhe seguiu (não é preciso fazer um desenho, pois não?) foi a luta da compatibilização de todos os dogmas, através dos quais norteara a minha vida, com a constatação incontornável de que era lésbica, estava apaixonada e não conseguia, porque não queria, resistir a essa relação.

Desde que me lembro de mim enquanto “ser pensante” me recordo que sempre acreditei que algo superior a nós existiria. Sem temores e sem receios, mas com a segurança de quem sabe que, por muito mal que tudo corra, haverá sempre algo a “zelar” por nós.
Cresci com essa certeza. E em muito tal certeza contribuiu para a construção da pessoa calma, confiante e persistente em que me tornei… Mesmo nas adversidades que a vida já me foi dando a conhecer nunca desesperei. Sempre soube que havia algo mais forte do meu lado e não me enganei…


… Releio as últimas linhas… Parecem-me tão vazias de significado. Tão aquém do que quero dizer… Não me peçam para explicar a fé… A fé, como o amor, não se explica. Se nasce connosco ou nos é culturalmente induzida não sei. Sei que nos incendeia a alma sem que nunca, jamais, consigamos materializá-la devidamente, nem que seja em palavras…

Coisa diferente é a Religião. É verdade que acredito em Deus porque acredito ponto. Sem argumentos e sem falsas lógicas … simplesmente porque algo dentro de mim me diz que Ele existe… No entanto, admito que a questão já possa ganhar contornos de debate se afirmar que me habituei, desde sempre, a personificar essa ideia de Deus na imagem de Cristo, a admirar a sua vida e a de sua Mãe… e a sentir-me inserida na Igreja Católica.

Reconheço, sem qualquer ressalva, que a Religião abraçada por uma pessoa nada mais é do que uma questão cultural. Sou Católica porque, aos quatro ou cinco anos, gostava de fazer com a minha avó, ao raiar da alva, o caminho para a Igreja, gostava de observar o fervor daquela gente enquanto rezava… algumas velhotas até choravam de comoção de tão imbuídas que estavam nas suas orações… e isso mexia comigo…
Entretanto fui crescendo. A catequese proporcionava momentos de reflexão, auto-conhecimento e, acima de tudo, a construção e o aprofundamento de amizades que a lufa-lufa da escola nunca proporcionou… Criei nesses grupos de adolescentes e jovens católicos um bom e verdadeiro grupo de amigos que, ainda hoje, se mantém…

Cresci, por isso, a olhar a Igreja Católica (e os católicos em geral - porque assim eram, na sua maioria os que me rodeavam) como uma comunidade de boas e bem intencionadas pessoas, de valores bem definidos e que procuravam, no seu dia-a-dia, colocar em prática os ensinamentos que os Textos Sagrados nos transmitiam.

Não se pense com isto que era uma pacífica seguidora do sistema. De forma alguma! O espírito crítico é em mim contemporâneo da fé e do lesbianismo. Sempre reconheci falhas na Igreja Católica. O facto de as mulheres não poderem celebrar a Missa ou os Padres serem obrigados ao celibato, só para citar dois exemplos, são situações com as quais nunca concordei… E já nem sequer vou falar da Opulência em que uma certa Igreja vive, que reconheço vergonhosa!

No entanto, porque sempre acreditei que a melhor forma de combater algo seria internamente, sempre discuti tais assuntos no seio da Igreja. Mesmo durante o tempo em que dei catequese tentei transmitir aos que me ouviam o espírito crítico de quem, sendo católico, não pode esquecer que muitas das regras que a Igreja nos impõe são resultado de cogitação humana e não divina, consequentemente não perfeita!

Confesso que, quando a homossexualidade deixou de ser em mim um sentimento e se transformou em algo bem concreto e palpável (ez ez ez), num primeiro momento me apeteceu quebrar correntes e afastar-me completa, total e irremediavelmente da Igreja Católica, quebrar todos os laços e abandonar o barco...

Graças a Deus, os valores culturais enraizados não o permitiram… E muito menos o permitiu a minha forte convicção de que a religião, para que possa ser cultivada e partilhada não pode, de modo algum, ser anárquica, antes tem de estar sustentada em valores, princípios e regras através das quais nos possamos orientar… Se tivesse abandonado a Igreja Católica teria sido uma parte de mim que me teria sido totalmente amputada… Mas também não podia deixar fugir a oportunidade de ser feliz que a vida me oferecia de mão beijada… Foi complicada, chegou mesmo a ser angustiante, a opção!

Ainda pensei recorrer ao conselho de um Padre, falar com ele, ouvir o que teria para me dizer… Mas convivi demais com eles para saber perfeitamente que palavras utilizariam… Falar-me-iam de abstinência, castidade, controlo de sentimentos, sacrifícios, entrega a Deus… Frases-feitas vazias de sentido para quem está inflamadamente apaixonado, para quem sabe que encontrou aquilo por que sempre procurara… para quem, pela primeira vez na vida, se sentia verdadeiramente feliz!

Pensei imenso sobre tudo isto… Pensei… Repensei… E quase deitei tudo a perder… Até que compreendi que não havia nada por que optar. Compreendi que seria muito mais católica, porque muito mais calma, de bem com a vida e, consequentemente, muito mais disponível para “amar aos outros como a mim mesma”, ao lado da Mente Assumida do que angustiada e deprimida, auto-flagelando-me num isolamento em que jamais me sentiria eu própria!...

Tenho pena que os homens que ditam as regras na Igreja Católica não compreendam isto… Tenho pena que quem faça a doutrina não compreenda nada: os sentimentos, os afectos e o verdadeiro Amor. Lamento profundamente que os porta-vozes da Igreja releguem sempre a mensagem principal que Cristo lhes deixou como herança - uma mensagem de amor e compreensão - a favor de mensagens de intolerância e, quantas vezes, ignorância…

Mas lamento também que toda a Igreja Católica seja confundida com tais homens e tais ideias, muito mais políticas do que religiosas. Chego a irritar-me quando, ao afirmar-me como Católica praticante, as pessoas me bombardeiam logo com o preservativo e o machismo e a virgindade e… mais uma enormidade de balelas que um certo núcleo de Católicos institucionalizados decidiu dogmatizar!... É pena que a generalidade das pessoas só consiga ver na Igreja os padres e os bispos, mais as suas palavras e opiniões tantas vezes infelizes… porque humanas!… A Igreja Católica é uma instituição da qual fazem parte milhões de pessoas, a maior parte delas, bem intencionadas, sempre prontas a ajudar, sempre prontas a ouvir, sempre prontas a apoiar… como Cristo lhes ensinou…

Pelo menos essa é a minha Igreja, aquela à qual pertenço e aquela na qual, quero acreditar, haverá sempre lugar para mim… Independentemente da pessoa com quem queira partilhar o meu caminho… independentemente de, respeitando as regras, me excluir de um antigo e indispensável ritual…

E enquanto observo as pessoas que avançam na fila da comunhão, dou por mim a indagar-me quantas pessoas como eu, como nós, permanecerão ainda a observar dentro das Igrejas um ritual que nos é negado... Dou por mim a perguntar-me quantas pessoas estariam dispostas a efectuar a luta pelo reconhecimento da homossexualidade no seio da própria Igreja...

Ok... bem sei o que estão a pensar... Mas a que saberiam os dias sem pitadas de utopia?!



Numa de "pride"!!! 



I Am What I Am
Jerry Herman
I Am What I Am, 1984 © Gloria Gaynor


I am what I am
I am my own special creation
So come take a look
Give me the hook or the ovation
It's my world that I want to have a little pride in
My world, and it's not a place I have to hide in
Life's not worth a damn 'til you can say
"Hey world, I am what I am!"

I am what I am
I don't want praise
I don't want pity
I bang my own drum
Some think it's noise
I think it's pretty
And so what if I love each sparkle and each bangle?
Why not try to see things from a different angle?
Your life is a sham 'til you can shout out loud:
"I am what I am!"

I am what I am
And what I am needs no excuses
I deal my own deck
Sometimes the ace, sometimes the deuces
There's one life and it's no return and no deposit
One life, so it's time to open up your closet!
Life's not worth a damn 'til you shout
"Hey world, I am what I am!"

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Mais do mesmo... 


Lembro-me exactamente de como passei a noite em que a guerra no Iraque teve início. Agarrada ao televisor, assistia ao directo do Carlos Fino. Ouvi o rebentar do primeiro raid aéreo em directo. Pensei para os meus botões: "Vais ter o que mereces e ver o que é bom para a tosse, Saddam. A partir de hoje, far-se-à justiça". No dia seguinte, comprei a edição "Especial Iraque" do jornal Público, que devorei de uma ponta à outra, para não me escapar nada. Durante quase três dias, não preguei olho.
Foi assim que vi esta guerra - como um acto de justiça, de libertação, de travão ao despotismo cruel de um ditador. Dito isto, não é difícil perceber que eu fui a favor da invasão do Iraque, o que me valeu algumas acesas discussões com quem vocês sabem... Cheguei a passar uma noite inteira, entre copos e muitos eloquentes cigarros, que fumava desalmadamente enquanto combatia os argumentos da Assumida Mente e de um casal amigo, a defender a minha perspectiva. Fui chamada de neo-fascista e outros impropérios só porque estava de acordo com uns certos senhores...
Hoje tomei conhecimento de que o ditador foi finalmente capturado. A minha reacção foi bem outra. Assisti à notícia enquanto golpeava o bife, impávida e serena. No fim, a minha mãe (tal como, minutos depois, faria José Pacheco Pereira, na SIC) comentava que as imagens exibidas eram de uma crueza inaceitável. Eu disse simplesmente que me traziam à memória as de um Savimbi barbaramente assassinado, que jazia num carro de mão, cadáver, já fustigado pelas moscas.
- Há gente (?) que se regozija com o espectáculo da morte e da humilhação. - concluí.
Quando reergui os olhos para a televisão, surgiu a imagem de G. W. Bush. Coincidências da vida...
Tudo isto para dizer que a minha reacção foi de indiferença. Total indiferença. Porquê? Porque não acredito, simplesmente, que se trate verdadeiramente de Saddam Hussein.
Estando ele armado, como foi descrito pelos americanos, face à iminente captura pelos americanos, que corresponderia, para Saddam, a uma humilhação muitíssimo superior à de uma (mais do que provável) condenação à morte por crimes de guerra pelo T.P.I. ou por um tribunal de guerra, não consigo conceber a ideia de que ele se entregasse sem oferecer resistência. Não creio, também, que desperdiçasse muitas balas. Uma, pelo menos, certeira, gastaria, e depositá-la-ia no seu próprio cérebro. Esta seria a atitude de Saddam Hussein. Face a isto, só o imagino a suicidar-se.
Além disso, tudo me parece coincidentemente suspeito... Esta captura surge num momento muito bom para W. Bush, por vários motivos.
1. O motivo económico.
A economia america começa a mostrar sinais de recuperação. Esta é, sem dúvida, uma excelente notícia para todos os americanos e, no fundo, para todo o mundo. Face a isto, nada melhor do que aproveitar o momento em que as atenções estão voltadas para os aspectos positivos da sua governação para dar uma notícia como esta.
2. O motivo social.
Aproxima-se o Natal. Para muitas famílias americanas, italianas, japonesas, não será um Natal qualquer. Será o primeiro Natal que viverão após a morte do seu filho, marido, namorado, irmão, tio, sobrinho, pai... morto no Iraque. Certamente que a notícia da detenção de Saddam amortecerá esta dura realidade, dando-lhes a sensação de que a vida do(s) seu(s) ente(s) querido(s) não foi desperdiçada em vão... Talvez até nem mudem o seu sentido de voto e continuem a acreditar em W. Bush...
3. O motivo político.
Na passada semana, os partidos da oposição debruçaram-se sobre a governação de Bush e os principais candidatos adversários voltam a apostar na guerra contra o Iraque como argumento de descrédito para Bush. Se até agora podiam dizer que "nem armas nucleares, nem Saddam Hussein", o discurso terá de ser revisto e outros factores negativos terão de ser encontrados. Estou certa de que não faltarão, mas não terão o impacto que este tinha.

O timming também é certeiro para os governos dos senhores Tony Blair, José Maria Asnar e Durão Barroso, pelo motivo político e para Silvio Berlusconi, pelo motivo social (se bem que, no caso do primeiro-ministro italiano, qualquer timming seria perfeito...).
Assim, da confortável posição de quem foi uma defensora assumida do conflito armado no Iraque como único meio de pôr fim à situação insustentável que era vivida naquele país, para quem muito relevaria a notícia da captura de Saddam Hussein, admito - não acredito que se trate do verdadeiro Saddam Hussein. Não nutro qualquer tipo de admiração pelo déspota, antes desprezo, mas reconheço que se trata de alguém que morrerá como as árvores: de pé. As imagens disponibilizadas, além de infelizes por revelarem à comunidade internacional o total desrespeito pelos direitos humanos por parte das autoridades americanas (mas que outra postura esperar de um país que impõe a pena de morte aos seus cidadãos), são ainda muito pouco convincentes e merecem da minha parte o completo descrédito.
A ver vamos se o tempo me dará razão ou se serei forçada a mudar de opinião. Ao contrário do que possam pensar, sou capaz de o fazer, com muita dignidade e sem quaisquer complexos. Porque, por vezes, a razão não está desde o início do nosso lado - conquista-se.
A ver vamos, senhor Bush, a ver vamos...

domingo, 14 de dezembro de 2003

Não posso deixar de partilhar... 


... o calafrio que senti com a notícia. "We got him", gritaram. E eu automaticamente pensei "talvez fosse melhor não o terem feito!"...

Não estou minimamente creditada para discutir política... muito menos política internacional... Por isso espero que esteja completamente errado este meu sentimento de que a captura de Saddam vai significar um marco negro na História da Humanidade...

Provavelmente hoje não se acordou com mais tranquilidade no Iraque... Só me pergunto como terão acordado os iraquianos no mundo!!!

Havia muito mais a dizer sobre a prisão de Saddam... Muitas mangas terão para tecer os analistas à custa de tamanho pano...

A mim resta-me observar... e partilhar convosco o calafrio que só a ideia da corda bamba em que o mundo vai viver a partir de hoje me provoca!



sexta-feira, 12 de dezembro de 2003

As iluminações de Natal - a visibilidade lgbt em toda a sua pujança!!! 


Acontece desde há já alguns dias a maior manifestação do "orgulho gay" do país! Sim, que não consigo arranjar outra justificação para o tamanho assoberbamento de cores utilizado nas janelas das casas por este país fora, com a desculpa de que são lâmpadas de Natal!
Lâmpadas de Natal coisíssima nenhuma, é mas é uma alusão ao arco-íris que serve de símbolo à nossa comunidade e nada mais!!!
Com tanta cor que por aí anda estou sempre à espera de encontrar um cartaz a dizer "assuma-se e venha acender mais uma lâmpada no arco-íris!"... Ainda assim não sei se assassinaria o meu pinheirinho de Natal com bolas de todas as cores do arco-íris... é que o meu pinheiro é um miúdo com um mínimo de sensibilidade estética... e, além disso, não é assumido. ;-)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

Por isso, eu corro demais... 



Esta música vai ser transcrita aqui por dois motivos:
1. Porque a Assumida Mente ma dedicou hoje.
2. Porque é da autoria de uma das lésbicas que mais admiro, que escreve e compõe lindamente e toca violão que se farta!

Obrigada, meu amor. Adorei! E ainda por cima, é tudo verdade! Acho que nunca te agradecerei o suficiente todos os esforços que fazes para que estejamos juntas... Obrigada por me tranquilizares e me amares.


Por Isso Eu Corro Demais
Adriana Calcanhotto
Marítimo, 1998 © Adriana Calcanhotto


Meu bem, qualquer instante que eu fico sem te verAumenta a saudade que eu sinto de você
Então, eu corro demais
Sofro demais
Corro demais
Só p'ra te ver

E você ainda me pede para não correr assim,
Meu bem, eu não suporto mais você longe de mim
Por isso, corro demais
Corro demais
Então, eu corro demais
Só p'ra te ver

Se você está ao meu lado eu só ando devagar
Esqueço at de tudo, não vejo o tempo passar
Mas se chega a hora de ir p'ra casa te levar
Corro p'ra depressa outro dia ver chegar
Então, eu corro demais
Corro demais
Corro demais
Só p'ra te ver

Se você vivesse sempre ao meu lado eu não teria
Motivo p'ra correr e devagar eu andaria
Eu não corria demais
Agora, corro demais
Corro demais
Só p'ra te ver

Corro demais
Então, eu corro demias
Corro demais
Só p'ra te ver

Corro demais
Então, eu corro demais
Corro demais
Corro demais
Só p'ra te ver

Corro demais
Então, eu corro demais
Corro demais
Corro demais
Só p'ra te ver...



quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

Há dias em que mais vale... - um post tão non sense quanto o foi este dia 


Talvez sejam indícios de uma esquizofrenia nunca despistada, talvez sinais de uma neurose aguda... quem sabe problemas de audição ou, simplesmente, uma paixão já há muito transformada em dependência pela música!... Seja lá qual for a causa, a verdade é que todos os meus passos, todas as minhas palavras, todos os meus gestos são acompanhados por uma banda sonora que interpreta os mais diversos (e quantas vezes alucinantes) temas em exclusivo aqui no meu cerebrezito... Hoje, por exemplo, o Nuno Guerreiro e o seu grupo fizeram-me companhia desde o momento em que acordei, como que a vaticinar o que estaria reservado para mim neste dia:

Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas

Há dias
Em que cada passo é mais um
Castigo de Deus
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus

À noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p'ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro”

E descobres que ali não há canto, nem escuridão, nem sequer a segurança de um porto...
E descobres que a tua casa não é o lugar onde tens a tua roupa mas o lugar para onde voa a tua alma...

E há dias em que te apetece voar,
Para lá do trânsito, para lá da pressão...
Para lá dos prazos... para lá da razão...

Há dias em que simplesmente te apetece gritar que não...
Que não queres fazer, que não queres saber... que não queres parecer...
Enquanto simultaneamente dizes que sim,
Que és...

E enquanto dizes percebes que há dias em que devias estar calada,
Que as palavras ganharam vida própria,
E ouves saído de ti o contrário do que queres dizer...

Porque há dias em que te pesa a verdade
Tanto quanto a distância,
Tanto quanto o amor,
Tanto mais quando há saudade...

....

“Parece que pagamos os
Pecados todos do mundo
Amarrados aos remos de um
Barco que está no fundo
.”


Graças a Deus, todos os dias chegam ao fim...
Renova-se assim a esperança, para lá do sono...
Talvez haja amanhã menos chuva “nas nossas carecas”... e menos distracção também!

Vale-me, em dias assim, a compreensão e tolerância infinitas, que me chegam por telefone! Obrigada, amor... Desculpa, amor...



segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

Blind Date!!! 


Desliguei, por breves segundos (tão breves que nem sei se terão dado fé que não estava ali) e deixei o pensamento voar. A conversa fora interessante até então... É certo que por mim nunca teria estado sentada naquela mesa. Teria inventado uma desculpa qualquer: um aniversário de um primo, de um tio, de um sobrinho que aliás nem sequer tenho, mas que para todos os efeitos passaria a ter... Enfim, teria feito tudo menos comprometer-me para um jantar com uma pessoa sobre a qual a única coisa que sabia é que tinha um blog, que, por sinal, constava da minha lista de favoritos, desde há muito... Mas a Mente Assumida, sempre muito mais empreendedora que eu nestas coisas da socialização deu o primeiro passo e, porque percebi que a minha cara metade queria mesmo conhecer a pessoa que existia por trás das palavras daquele blog e dos mails que entretanto haviam trocado, lá coloquei de parte todas as minhas reservas, receios e desconfianças e aceitei este jantar a quatro: eu, a Mente Assumida, uma blogger da nossa praça (cuja identidade fica ao seu critério revelar ou não) e o respectivo namorado.

Sei que vão pensar que sou doente, vejo muitos filmes ou tenho a mania da perseguição, mas reconheço que fiquei muito reticente em relação a este jantar... É que desde que li a lista de propósitos do Partido Nacionalista português (leiam o ponto 15!!!) e ouvi um polícia no TIC, de “Mein Kampft”debaixo do braço, apregoar que quem tinha razão era o Hitler e que os “pedófilos e os paneleiros deviam ser todos fuzilados num campo de concentração“(sic), percebi que as histórias que se contam sobre skin-heads votados a perseguir os homossexuais podem muito bem ser mais do que histórias... E, por isso, não me poderão censurar se confessar que sim, temi que por trás da voz simpática que falara com a Mente Assumida ao telefone a combinar uma data, uma hora e um local estivesse alguma dessas mentes perversas e obcecadas... O que querem? Tenho por costume ser cautelosa e ponderar todas as possíveis consequências dos meus actos... Mas também tenho por costume arriscar e, mais do que isso, não deixar ficar mal a pessoa com quem quero viver o resto da vida e que já se tinha comprometido para este jantar, por isso, mais de meia hora depois do combinado (sim, que a pontualidade não é, nunca foi, nem nunca será o meu forte!) lá estávamos no sítio acordado.

É claro que não encontrámos nem skin-heads, nem neofascistas sedentos de “retirar o direito de voto a todos aqueles que praticaram qualquer crime social: como (...) homossexualidade (...)”. Se assim tivesse sido, a estas horas, em vez de estar aqui a escrever-vos estaria algures numa câmara ardente, rodeada de familiares mais ou menos chorosos e umas tantas outras pessoas mais ou menos curiosas!... Pelo contrário, encontrámos um par de caras simpáticas, sorridentes e amistosas.

LÁ nos sentámos à mesa. Entre francesinhas como só no Porto sabem fazer e uma sangria ainda melhor a conversa foi rolando. falámos de tudo e mais alguma coisa. Das diferenças entre o Norte e o Sul, de política, de televisão, de astrologia... inevitavelmente de blogs... e, no meio de tudo, como se de apenas mais um assunto se tratasse, de homossexualidade... As palavras fluíam ligeiras, como sempre fluem as conversas interessantes. falávamos como se já nos conhecêssemos há imensos anos, como se aquele fosse apenas mais um de muitos jantares que houvéssemos partilhado... por momentos esqueci-me que daquelas duas caras sabia pouco mais do que o nome... e, por breves segundos desliguei e deixei o pensamento voar.

Enquanto as vozes tagarelas e divertidas dos meus três companheiros de mesa continuaram a soar apercebi-me que a sensação de “estrangeirismo“que sempre me acompanha desapareceu por instantes, para dar lugar a uma agradável e confortável sensação de verdade.

Ok, eu passo a explicar isto do “estrangeirismo”: acaba por ser o preço a pagar pela vida dupla que assumidamente opto por viver. Sinto-me inevitavelmente estrangeira no “mundo heterossexual“onde me movo, em que vivo e no qual todos me julgam integrada, por razões óbvias: porque de cada vez que calo a relação maravilhosa que vivo e que me absorve os sentimentos por completo, sempre que abafo as angústias por que passo quando a Mente Assumida está doente ou disfarço a euforia dos dias em que as nossas vidas se cruzam, é uma (grande) parte de mim que fica por dizer, por se dar a conhecer, acabando por fazer passar para os outros uma imagem diferente daquela que é a minha... estrangeira de mim!
No entanto, não deixo de ser estrangeira também nos ambientes exclusivamente homossexuais. O peso das quatro paredes a que tais ambientes se costumam confinar não me deixam esquecer que aquele é apenas um microcosmos e que no mundo real os casais de mulheres/homens não andam de braço dado na rua, como ali, não se sentam abraçadas enquanto bebem um copo, como ali, não dançam juntas nem se beijam em público, como ali. Em bares lgbt, ou ainda que fora deles, mas entre homossexuais, quando posso falar abertamente da minha relação com a Mente Assumida sinto-me sempre como uma criança a quem dão um rebuçado para calar o choro: “vá come lá o rebuçado, mas depois tens que te portar bem e não armar muitas ondas na hora de comer a sopa!”... E a sopa logo é servida mal se fecha a porta do bar ou da casa dos amigos homossexuais e entramos num mundo onde nos sentimos mais estrangeiros do que quando dele saímos!!!

E é sempre assim... Ser homossexual não assumida tem implícita esta vivência dupla entre dois mundos estanques e sem qualquer tipo de interacção: de um lado os heteros, que nunca sabem nada; do outro lado os homossexuais, que sabem, mas com os quais apenas podemos partilhar momentos fugazes da nossa vida... É sempre assim... ou quase sempre.


Com efeito, houve um dia em que se tornou simplesmente incomportável não contar à minha melhor amiga que era lésbica e que namorava com a Mente Assumida. Lembro-me de ter temido, na altura, que ela não soubesse lidar com a situação e que algo na nossa amizade se perdesse... Com o tempo os meus receios acabaram por revelar-se fundados: após as palavras de conforto que sempre soube que me daria acabou por afastar-se de nós paulatinamente, por muito que tentássemos que continuasse a ver-nos como a Assumida Mente e a Mente Assumida, suas amigas de sempre, não conseguia nunca esquecer-se que entre mim e a Mente Assumida havia uma relação, temia estar a mais, temia ser inconveniente, temia... sei lá o quê... ainda tentei explicar-lhe várias vezes que o facto de namorarmos não significava que não precisávamos de mais ninguém no mundo, antes pelo contrário, que a nossa relação até se enriqueceria se pudéssemos partilhar bons momentos com os nossos amigos... Mas foi complicado para ela lidar com a situação e a amizade acabou por esmorecer... Sobrevivem-lhe apenas uns quantos telefonemas de vez em quando e aquela empatia que nunca desaparece, por muito que os amigos se afastem.

Depois desta experiência prometi a mim mesma que nunca mais na minha vida revelaria a nenhum amigo hetero a minha orientação sexual. Fiquei com a sensação que partilhar tal coisa seria colocar sobre os ombros do meu interlocutor um fardo enorme, porque seria incomensurável tanto o peso de guardar tamanho segredo como o peso de não saber qual a forma correcta de lidar com a situação... E o muro que separava os dois mundos distintos que servem de cenário à minha vida dupla adensou-se...

Fiquei com a firme convicção que, por muito que quisessem, os heterossexuais nunca compreenderiam as atitudes, os comportamentos e os receios que acompanham um casal homossexual não assumido, como nós, nunca saberiam como se relacionar connosco de um modo natural e despreconceituoso... reconheço hoje que caí no erro que tanto critico nos outros: generalizei e inevitavelmente errei...

Regressei das divagações... Na mesa falava-se de signos. A nossa blogger queixava-se das constantes distracções do namorado, características incontornáveis do seu signo, e a Mente Assumida falava dos meus constantes atrasos perguntando-se se os astros também influenciariam os ponteiros dos meus relógios. Eles falavam de si enquanto casal e nós falávamos de nós, sem tabus, sem preconceitos... De repente deixáramos de ser um casal de lésbicas a jantar com um casal de heterossexuais... Éramos apenas dois casais com muitos interesses em comum, com muito que partilhar e uma empatia que ali brotava para alimentar... deixáramos de estar num mundo de heteros ou de homos para passarmos a estar num mundo de pessoas... simplesmente! Num mundo onde, mais importante do que especular sobre quem amamos ou deixamos de amar, é descobrirmo-nos e encontrarmo-nos mutuamente num debate de ideias são, franco e frutuoso.

Volvido que foi tão bem sucedido jantar, tenho que dar a mão à palmatória: a vida é muito mais leve quando assumidamente vivida... Ou pelo menos seria, se a maioria dos heteros soubesse lidar tão naturalmente com a situação como souberam a A. e o R..

Obrigada aos dois pelos bons momentos passados!... É claro que o cenário que o Cais de Gaia nos proporciona também ajudou a tornar a noite especial...

Cais de Gaia

Não sei porquê tenho o Sérgio Godinho a martelar-me na cabeça: “É que hoje fiz um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há!”


sábado, 6 de dezembro de 2003

A quiz a day keeps the doctor away!* 


Seahorse
Seahorse


?? Que criatura marinha é você??
brought to you by Quizilla


* Provérbio anglo-saxónico adulterado...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2003

Eu?! Eu nem acredito nessas coisas! 


Gemini
You should be dating a Gemini 21 May - 20 June
This mate is inquisitive, entertaining and charming, liberal, broad-minded and youthful. Though Gemini has a tendency to be impatient, gossipy and sometimes irritable, this twin has the ability to expresses his or her pent up emotions during sex!


Por que signo do zodíaco se sente atraído(a)?
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2003

Cacaoccino - ou as amizades que nascem da Internet 


Não conheço a Sara nem a Rita. Nem sei se alguma vez virei a conhecê-las.
Não sei o que fazem, como são, de onde são... ouvi-lhes a voz uma vez no "Maria, Maria", mas não foi o suficiente para que me tenha ficado registado na memória...

E, no entanto, quando leio este blog que agora dá os primeiros passos, tenho aquela sensação, misto de admiração e orgulho, que se tem quando se assiste ao nascimento do trabalho de um amigo!

Vão lá os sociólogos/antropólogos/psicólogos explicar estas empatias que surgem de uma pequena troca de e-mails e comentários!


quarta-feira, 3 de dezembro de 2003

"Com a minha língua amarga no teu sexo agridoce"... 


Hoje, às 21 horas, passará o último Maria, Maria na Rádio VoxX. O último não do ano, mas de todos eles. Este programa fazia parte do projecto Vidas Alternativas, que contava já com três anos de emissão. A rádio foi adquirida pelo Grupo Media Capital e o programa Vidas Alternativas, o único programa lgbt em Portugal, foi retirado da grelha. Muito ficou por dizer...
Obrigada a quem empenhadamente fazia o programa. Ficam-nos as saudades... E a música do genérico a matutar-nos na cabeça!... ;)

terça-feira, 2 de dezembro de 2003

And now, for something completely different... 


Demonstrações de afecto...

cuddle and a kiss
Cuddle and a kiss on the forehead - You like to be
close to your special someone and feel warm,
comfortable, and needed.


What sign of affection are you?
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segunda-feira, 1 de dezembro de 2003

VIH - Que risco para as mulheres? 


Nos países em que a infecção está muito disseminada, é igual o número de mulheres e de homens portadores do Vírus da Imunoficiência Humana (VIH). A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de metade dos adultos recém-infectados são mulheres.
As três principais razões para este incremento são as seguintes:

1. As mulheres são biologicamente mais vulneráveis. Como parceiro receptor, a mulher apresenta uma grande superfície mucosa exposta durante a penetração sexual. Acrescente-se também que o esperma contém uma muito maior concentração de VIH do que o líquido vaginal. Assim, as mulheres correm um risco maior de se contaminarem com o VIH e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST).

2. As mulheres são epidemiolgicamente vulneráveis. Muitas mulheres tendem a casar ou a ter parceiros sexuais mais velhos, que podem, por sua vez, ter tido mais parceiros sexuais (homens e mulheres), tendo, assim, mais possibilidades de se terem infectado.

3. As mulheres são socialmente vulneráveis ao VIH. Na maior parte das relações, é esperada uma atitude activa da parte do homem e passiva por parte da mulher. Quando estas "normas" tradicionais predominam, o resultado é uma subordinação sexual, o que dificulta a prevenção da SIDA. Neste ambiente, é difícil, senão mesmo impossível as mulheres protegerem-se da transmissão sexual, através da fidelidade mútua ou do uso do preservativo.

Tanto as mulheres como os homens podem ser contaminados, através de relações sexuais sem preservativo, por pessoas portadoras do vírus e através da partilha de seringas e de outro material de injecção entre os utilizadores de droga.

A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 13 milhões de mulheres estavam infectadas no ano 2000.


O que fazer?

A. Antes da gravidez
Se prevê uma gravidez, é aconselhável fazer o teste. Fale nisso ao seu médico.
Se você é seronegativa, se o seu parceiro é seropositivo, e deseja engravidar: A relação sexual que pode fazer com que engravide também pode contaminá-la. Cabe ao casal decidir acerca do assunto.

B. Se é seropositiva
Pode usar vários métodos contraceptivos juntamente com o preservativo. O preservativo garante a protecção do parceiro e permite evitar a recontaminação pelo VIH. Na sua vida do dia-a-dia, não há preocupações especiais a tomar, exceptuando um acompanhamento médico regular.

C. Em caso de gravidez
Cabe-lhe a si decidir se deseja prosseguir ou interromper a gravidez. Se decidir levar a gravidez até ao fim, é indispensável que seja vista regularmente por um médico.

D. A seguir ao parto
O vírus pode transmitir-se através do leite materno, por isso, não é aconselhável amamentar. Uma mãe seropositiva pode cuidar plenamente do seu filho. Basta cumprir as regras normais de higiene. Mãe e filho devem ser vistos regularmente por um médico conhecedor da situação.


O que é a infecção pelo VIH?

A SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a forma mais grave da infecção pelo o VIH - Vírus da imunodeficiência Humana (HIV, em inglês). Este vírus ataca células indispensáveis ao funcionamento do sistema imunitário, isto é, à defesa do organismo contra diferentes infecções. Quando uma pessoa está infectada pelo o VIH, o seu organismo começa por reagir produzindo anticorpos específicos que aparecem no soro (sangue) e que são o sinal de que houve contacto com o vírus. É a seropositividade. Estes anticorpos não conseguem eliminar o vírus.

Uma pessoa seropositiva é, portanto, uma pessoa que foi contaminada pelo o VIH, que é portadora do vírus e o pode transmitir em determinadas condições. SIDA: o sistema imunitário tornou-se incapaz, o que deixa o organismo à mercê de todo o tipo de infecções microbianas, que afectam, por exemplo, os pulmões, o cérebro, os intestinos, etc..

Qualquer pessoa contaminada com o VIH, quer dizer, seropositiva, virá a contrair SIDA? Não o sabemos. Existem hoje em dia diversos medicamentos que, em combina-ção, tentam replicação do vírus.

Quando fazer o teste? Não espere por uma gravidez para fazer o rastreio. Aconselhe-se com o seu médico sobre o teste, sobretudo quando o consultar para efeitos de contracepção ou antes de engravidar. Com uma análise de sangue, o laboratório irá procurar a presença de anticorpos contra o VIH.

Atenção:
Passam meses entre o momento da contaminação e o aparecimento no sangue dos anticorpos que fazem com que o teste seja positivo.
Nunca é obrigatório e só deve ser feito com o seu acordo.
Os resultados só podem ser comunicados ao interessado e ao médico que o prescreveu.


Como evitar ser contaminada e contaminar os outros?

O VIH transmite-se apenas de três formas:
1. Relações sexuais.
Qualquer relação sexual não protegida com um(a) parceiro(a) portador do vírus pode causar a contaminação, desde que haja penetração (vaginal ou anal). Com efeito, o VIH está presente nas secreções vaginais, no esperma e no sangue menstrual. Estas secreções são contaminantes quando entram em contacto com as mucosas delicadas e permeáveis da vagina ou do ânus, mas não o são quando entram contacto com pele saudável, sem feridas.
O risco de transmissão oro-genitais (boca-sexo) é menor. Apesar disso, considera-se que estes contactos podem causar contaminação.
Até à data, as pessoas foram contaminadas por causa de certos comportamentos de risco: relações sem preservativo e a partilha de material de injecção. Actualmente, a contaminação está cada vez mais distribuída pelo conjunto da população, devido a esses e à multiplicação de pessoas infectadas.

O preservativo, ou "camisa de vénus" , é hoje a única protecção segura contra a transmissão do vírus por via sexual e, além disso, é um bom contraceptivo associado às pomadas espermicidas. O preservativo também garante uma protecção eficaz contra outras doenças sexualmente transmissíveis – DST's (blenorragia, clamídea, herpes, sífilis, etc.) e todas as consequências que ela podem acarretar (esterilidade, etc.) Os preservativos compram-se nas farmácias, supermercados, etc. As pomadas e óvulos espermicidas, só por si, nada garantem contra a contaminação pelo VIH. Ao preservativo pode associar um espermicida para maior segurança.

Traga sempre preservativos! Não hesite em exigir aos seus parceiros que os usem!
Para um bom uso do preservativo:
- Cuidado para não rasgar o preservativo ao abrir a embalagem (atenção às unhas e dentes);
- Colocar o preservativo sobre o pénis em erecção, antes de iniciar a penetração;
- Não penetrar sem preservativo, mesmo que não haja ejaculação;
- Usar preservativos mesmo para o sexo oral no contacto boca-vagina ou ânus (colocar um preservativo cortado no sentido do comprimento);
- Se o preservativo não possuir reservatório, aperte a ponta para deixar um pequeno espaço para o esperma;
- Não usar vaselina ou outros cremes, mas sim lubrificantes hidrossolúveis (ex: KY Gelly) ou um espermicida à base de água;
- Ao ser retirado, é preciso segurar a base do preservativo e tirá-lo antes do fim da erecção para impedir que o esperma se derrame;
- Nunca voltar a utilizar um preservativo que já serviu
- Não guardar os preservativos ao sol ou em locais que estejam sujeitos ao calor, como, por exemplo, o porta-luvas do carro...

Atenção:
Estar apaixonada não a protege da SIDA: Não se esqueça de usar preservativos, mesmo num encontro inesquecível!

2.º Entre utilizadores de drogas injectáveis.
A partilha de material de injecção significa hoje a cause certeza duma contaminação, quando um dos utilizadores é portador do vírus; o vírus penetra directamente na circulação sanguínea. Para utilizadores de drogas injectáveis, é fundamental nunca partilhar de seringas. Mas, caso o faça, desinfecte a seringa e todo o material usado para a preparação do "caldo" com uma mistura de água e de lixívia (1 parte de lixívia para nove de água).

Durante a gravidez (Transmissão Mãe/Filho).
Uma mulher grávida seropositiva corre o risco de transmitir o VIH ao feto através da placenta, ou durante o parto, pela exposição da criança ao sangue e secreções da mãe.


E no dia-a-dia? O vírus não se transmite pelos gestos do dia-a-dia. Não se transmite pelo contacto com pessoas contaminadas (seropositivas ou com SIDA), no local de trabalho, transportes públicos, locais públicos (mesmo casas de banho, piscinas, restaurantes), nem em escolas ou infantários. O vírus também não se transmite por se viver com uma pessoa seropositiva, nem através de carícias e de beijos.


Gravidez e VIH
Uma mulher contaminada pelo VIH, seja ela seropositiva ou tenha SIDA, pode transmitir o vírus ao filho durante a gravidez ou durante o parto. O risco de contaminar o filho é de cerca de 20%. Talvez haja uma correlação entre a gravidade do estado da mãe e o risco de contaminar a criança. Para a criança contaminada, a doença pode, nalguns casos, ser particularmente grave e até mortal. Ainda não é possível saber de antemão se uma grávida seropositiva vai ou não transmitir o vírus ao filho. Também não se sabe em que momento da gravidez é o vírus se transmite à criança.

É frequente o bebé nascer de aparente saúde; os exames que habitualmente se fazem ao sangue nesta idade não permitem saber logo se houve contaminação.

O que acontece é que todos os filhos de mães seropositivas nascem com os anticorpos destas e podem conservá-los durante um período que oscila entre um ano e dezasseis meses. Só quando a criança chega a essa idade é que é possível dizer se ela está contaminada, a menos que antes tenha manifestado sintomas ou que certas análises especiais (cultura do vírus e/ou procura do antigénico) se revelem positivas.


Extraído do site da Abraço

XI Gala dos Travestis, 2003 


A 11.ª Gala dos Travestis a favor da Abraço, com produção de Carlos Castro, realiza-se no teatro São Luís, dia 1 de Dezembro, às 21.30 horas. O tema da gala é “Revolução 2003”, tem apresentação de Wanda Stuart, a participação especial de:

Raul Solnado - Helena Ramos - Ana - Helena Isabel - Joel Branco - Victor de Sousa - Valentino - Herman José - João Baião - Maya - Lili Caneças - Alexandra - Catarina Furtado - Rita Ribeiro e Hugo Rendas .

Viva a moda:
José Carlos - Fátima Lopes - Ana Salazar - Augustus - João Rolo - Paulo Azenha - Luís Barbeiro - Paulo Cravo. Nuno Baltazar - Paulo Julião

Os travestis:
Vanessa Clark - Betty Brown - Rafaela de Castro - Wanda Morelly - Picatshu - Linda Xenon - Isa ranieri - Suelly Kadillak - Valeria Vanini - Fany Star - Silvie Kass - Cindy Scrash - Oscar - Antonita Moreno - Claudia Ness - Veronica Bianco - Rudi - Luis Henriques - Patricia Roussel - Nani Petrova - Roberta Quinsky - Elsa Martinelli - DJ Ivo - Amalia - Diana Houston - Suzy Becker - Tatiana - Ana Rita - Nelson - Alexandre - Kina Carvel - Niky Fine - Melanie - Perdigão -

Será atribuído o troféu Ruth Bryden - a uma figura pública, o troféu Ruth Bryden - melhor travesti do ano e o troféu carreira.

Os bilhetes estão à venda na bilheteira (tel. 21 325 76 50) do teatro e os preços são os seguintes:
- plateia/frizas /camarotes de 1.ª e 1.ºs balcões – 30 euros
- camarotes de 2.ª e 2.ºs balcões – 20 euros


Extraído do site da Abraço

Somos altos, baixos, magros, gordinhos, extrovertidos, introvertidos, religiosos, ateus, conservadores, liberais, ricos, pobres, famosos, comuns, brancos, negros... Só uma diferença : amamos pessoas do mesmo sexo. Campanha Digital contra o Preconceito a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros. O Respeito ao Próximo em Primeiro Lugar. Copyright: v.


      
Marriage is love.


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