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domingo, 29 de fevereiro de 2004

Logo à noite... 

Óscar
Vou torcer por eles:

Melhor filme: Lost in translation

Realizador: Sofia Coppola

Melhor Actor: Jude Law

Melhor Actriz Charlize Theron

Melhor Actor Secundário: Benicio del Toro

Melhor Actriz Secundária: Renée Zellweger

Melhor Argumento Adaptado: Cidade de Deus

Melhor Argumento Original: Lost in Translation

Melhor Filme Animado: Finding Nemo

Melhor Banda Sonora Original: Cold Mountain

Quanto a todas as outras categorias, ficarei feliz sempre que não ganhar o Senhor dos Anéis!... O que querem? Do imperialismo americano só gosto da água suja... e da noite dos Óscares :-)

Ainda a adopção! 

Mais um argumento
contra a adoção por homossexuais!...

Menina da Lua 

Quero que desprendas
De qualquer temor que sintas
Tens o teu escudo
O teu tear



Horas extraordinárias... 

... Normalmente sou contra elas, mas desta vez, ao ler este post da menina do cacao não resisti em vir aqui a correr dizer três coisas muito rápidas e muito simples:

1. A Lei da união de facto existe, está em vigor e confere-nos direitos bastante consideráveis, que não deveremos nunca deixar de invocar!

2. Para efeitos de IRS, para provar a união de facto basta que se verifique a identidade de domicílio fiscal dos sujeitos passivos durante pelo menos dois anos e a assinatura, por ambos, da respectiva declaração de rendimentos.

3. Se não quiserem estar sujeitos às perguntas chatas dos senhores das finanças entreguem a declaração por via electrónica!

... Mas às vantagens que já podemos retirar da Lei que temos voltarei em horário de expediente. Para já cá fica este piqueno apontamento, para quem anda às voltas com os impostos!

Direitos Humanos e Orientação Sexual 

Nações Unidas
E porque hoje estou numa de espalhar notícias. Vamos a correr dizer que, tal como os brasileiros, cada um de nós também está profundamente preocupado com "(...) a occorência de violações de direitos humanos no mundo contra pessoas com base na sua orientação sexual (...)". Por muito exortativo que pareça o documento, analisado o desenvolvimento do direito internacional noutras matérias, dúvidas não podem restar que, mais cedo ou mais tarde Resoluções como aquela que os brasileiros apresentaram a votação hão-de ter efeitos práticos bem positivos!!

Dias de esperança! 

Euro 2004
Ainda hoje, quando nos cruzámos com mais um dos milhões de sinais de que o Euro2004 está mesmo aí não tarda nada, comentava com a cara metade que, se não for este ano que Portugal vai para a frente, então nunca mais será!
Bem sei que, por vezes (99% das vezes!), sou tão optimista que me torno quase panfletária, mas a verdade é que considero mesmo que esta será uma excelente oportunidade de o nosso país poder avançar, não só ao nível económico, mas também social: se as pessoas ficarem com vontade de regressar para conhecer melhor este país à beira mar plantado, talvez consigamos erigir o turismo como grande fonte de receitas nacionais (Manelinha, escuta!)... E, concretamente, se conseguirmos atrair o turismo lgbt, conseguiemos uma visibilidade que só nos poderá ser favorável.
Corrijam-me se estiver enganada no raciocínio: se lgbts de outros países começarem a vir a Portugal com uma certa regularidade, contribuindo para o melhoramento da economia portuguesa, os portugueses irão tratá-los bem porque compreendem que, para além da orientação sexual, ali estão pessoas que acabam por enriquecer cada um dos nossos cidadãos individualmente... e isso poderá abrir mentes... e caminhos...

Enfim, devaneios, sonhos ou raciocínios (riscar o que não interessa!) à parte, foi com este espírito que abri a minha caixa de correio electrónico e, eis senão quando, me deparo com uma notícia directamente vinda da mailling list do Clube Safo, mas que também se pode encontrar aqui. Para os mais preguiçosos, aqui vai a transcrição da notícia:

Portugal quer atrair turistas gays que vão à Copa Euro2004

Portugal quer atrair os turistas gays que vão ao país para a copa de futebol Euro2004. E a iniciativa partiu da própria comunidade gay da cidade do Porto, ao norte do país.
A campanha vai incluir um guia de estabelecimentos do chamado "comércio rosa" do Porto, mais de 15 espaços da cidade dedicados ao mundo homossexual, incluindo bares, discotecas, restaurantes, lojas e serviços "gay-friendly", e ainda uma campanha de prevenção contra a Aids.

O guia vai ter uma tiragem de 20 mil exemplares e o objetivo é possibilitar aos turistas portugeses ou estrangeiros que estiverem na cidade para a Copa de futebol tomarem contato com os locais GLS. O próprio guia trará várias frases de sensibilização sobre os riscos de transmissão da Aids.

O campeonato Euro2004 vai ser realizado em meados deste ano. Os ativistas também querem dar as boavindas aos turistas em pleno estádio onde vai ser realizada a partida de abertura da copa, PortugalxGrécia.


Iniciativas assim só podem ser de aplaudir e acompanhar! Por muito que não gostemos de futebol (é o caso!), ficarmos indiferentes às potencialidades que a afluência de tanta gente ao nosso país proporciona, será perder uma oportunidade senão única, pelo menos escassa, não só a nível económico, mas também de estabelecimento de contactos e aumento de visibilidade!!! Até apetece dizer: estamos convocados ;-)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Silêncios 


Lost in translation podia ser ela… Perdida algures no meio de tudo… no sítio que a viu nascer, entre as pessoas que a viram crescer… perdida por entre os sentidos que as palavras e as vidas assumiam num meio que jamais seria o seu… estrangeira no próprio mundo…

Sair dali para outras bandas não lhe custou sequer um olhar para trás, um singelo adeus, uma lágrima retida… foi com o conforto de quem finalmente encontraria justificações para a sensação de estranheza que o mundo sempre lhe causara.
Partia com o desprendimento de quem não tem raízes nem laços suficientemente sólidos para se sentir presa. Gostava das pessoas obviamente… Gostava muito das pessoas… De umas chegara até a gostar mais do que seria devido gostar… Mais do que as “regras” e os “sentidos” e as “palavras” alguma vez permitiriam que gostasse… E por isso gostava em silêncio, num mundo só seu, que poderia ser vivido ali ou em qualquer outro lugar…
Partia sem esperanças, expectativas ou ansiedades... A idade, apesar de parca, já lhe permitira perceber que por muito que tentasse seria sempre difícil aos outros entender os significados que iam implícitos nas suas palavras… de todas as vezes que havia tentado que o seu mundo interagisse com o mundo quotidiano a falha de comunicação revelou-se de tal forma densa que acabou sempre por desistir… e cada nova tentativa falhada silenciava um pouco mais o mundo onde se revelava na sua essência.

Foi por isso uma pessoa fechada sobre si mesma, escondida entre sorrisos quotidianos e conversas banais, que a cidade viu chegar. Tudo estava já mecanizado em si: as respostas, os olhares, as conversas… tudo medido ao pormenor, com o profissionalismo de uma actriz que conhece de cor o seu papel, o papel que percebeu ser o mais confortável de interpretar: o da pessoa socialmente integrada, feliz e de bem com a vida que lhe era imposto viver...

… E no entanto… Apesar das máscaras e das representações, quando já ela própria se conformava e confundia com o personagem que havia incarnado, foi ali que se encontrou… Surgido do nada, reencontrou os seus olhares num outro olhar… o eco dos seus sentidos em palavras proferidas por outra voz… o mesmo jeito perdido… o mesmo sorriso disfarçado… a mesma máscara… o mesmo mundo…

E quando o véu finalmente se dissipou por completo e os sorrisos se transformaram em lágrimas e daí em abraços de um encontro especial, compreendeu que o mundo de silêncio em que vivera até então não era apenas seu… e o silêncio transformou-se em minutos, horas… anos de um diálogo interminável, sobre máscaras, silêncios e magia!...

Não era, por isso, estranho que ainda agora, anos volvidos, fosse ali, a mais de cem quilómetros do sítio que a viu nascer, que se sentisse em casa. O som da cidade devolvia-lhe ecos de si mesma, cada rua partilhava consigo a cumplicidade de uma história, o rio conhecia as suas ansiedades, o sino repicava as suas alegrias… e as palavras…

… curiosamente, as palavras que agora trocava, alguns anos volvidos sobre o dia em que ali chegara, já não eram o monólogo de então, nem apenas o diálogo de magia, mas uma conversa duplicada, a fazer crer que aquele era muito mais que um mundo fechado na mente de alguém …

… E por entre a conversa fluida de quem está final e verdadeiramente feliz e de bem com a vida que sempre quis viver, deu por si a perguntar-se quantos mundos existirão ainda em silêncio? Quantas vozes por ouvir?... Quantas pessoas ainda lost in translation?...

… E como poderia ouvir-se longe o eco deste mundo se não se calassem todos esses silêncios!...


domingo, 15 de fevereiro de 2004

Cenas urbanas... 

Um bom exemplo de como a literatura lésbica tem potencialidades para produzir verdadeiros best sellers!

I am mine!!! 


The selfish, they’re all standing in line
Faith in their hope and to buy themselves time
Me, I figure as each breath goes by
I only own my mind
Pearl Jam
The north is to south like the clock is to time
There's east and there's west and there's everywhere life
I know I was born and I know that I'll die
The in-between is mine
I am mine


And the feeling, it gets left behind
All the innocence lost in a long time
Significant behind the eyes
There's no need to hide...
We're safe tonight

The ocean is full cause everyone's crying
The full moon is looking for friends at high tide
The sorrow grows bigger when the sorrow's denied
I only know my mind
I am mine

And the meaning, it gets left behind
All the innocence lost in a long time
Significant behind the eyes
There's no need to hide...
We're safe tonight

And the feelings that get left behind
All the innocence broken with lies
Significance, between the lines
We may need to hide

And the meanings that get left behind
All the innocence lost in a long time
We're all different behind the eyes
There's no need to hide




Três linhas... três simples linhas:

I know I was born and I know that I'll die
The in-between is mine
I am mine


... e o mundo de teses que se poderiam escrever em torno destas linhas!!!...

A música invade-me a alma... I am mine... Am I really mine?... E a sociedade?... E os outros?... E as responsabilidades?... E as leis?... E...

... E não quero saber!... Deixem-se as teorias... soltem-se os medos... aumente-se o som para ser mais verdade:

I know I was born and I know that I'll die
The in-between is mine
I am mine
...

... and... we're safe tonight!

sábado, 14 de fevereiro de 2004

Definições... 

homossexual


Porque o sentido de humor é um ingrediente essencial para nos mantermos vivos, descubram lá a verdadeira noção de "homossexual"!!!







quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

Mas o que é que aconteceu... 

... Ao Alvim hoje na Antena 3?... Quando liguei o rádio o programa já ia a mais de metade, por isso não sei qual era especificamente o tema. Sei que se discutia a nudez e a sua banalização actual, tudo em torno do episódio burlesco Janet Jackson/Justin Timberlake... E o programa teria corrido às mil maravilhas não fosse o Fernando Alvim ter sido invadido por um ataque de machismo crónico e falado do corpo feminino como se de um mero objecto se tratasse... Ah, e ainda para mais, um "objecto" só passível de ser apreciado por homens!...
Haja dignidade por parte destes incontroláveis machos latinos e sensibilidade estética, por parte de todos - homens e mulheres - para admitirem que sabem reconhecer um corpo belo, com a mesma facilidade com que reconhecem qualquer outra obra de arte... independentemente do sexo!

domingo, 8 de fevereiro de 2004

Conceitos 


A tradição…

Domingo, uma da tarde. O cheiro a carne assada invade todos os cantos da sala. É assim desde que se conhece. O menu do almoço de Domingo é sempre aquela carne assada com batatas assadas e arroz de forno. Uma tradição que se mantém, já quase transformada em dogma. Não interessa que há muito se tenha cansado daqueles temperos, da carne seca… ou que estejam quase quarenta graus lá fora e tudo o que lhe apeteça seja uma salada fresca… a tradição é para cumprir, sem questionar – e a travessa já lá está na mesa… A mesma travessa… a mesma mesa…
Senta-se no seu lugar de sempre. Serve-se e diz qualquer coisa à irmã, do outro lado da mesa, que a faz soltar uma gargalhada sonora. O pai franze o sobrolho irritado: “silêncio que estou a ouvir isto”… Como sempre…
E “isto” pode ser desde o Telejornal, à Operação Triunfo, passando pelas corridas de Fórmula 1 ou os comentários da BBC Vida Selvagem… Qualquer coisa que a televisão esteja a debitar … Desde que se conhece que é assim: as refeições são passadas a ver televisão, por muito pouco interesse que o programa tenha, por muito importante que seja o assunto a debater à mesa.
O diálogo há muito desaparecera do dicionário daquela casa. Pai e mãe, casados há mais de trinta anos, como manda a tradição… à pressa para esconder uma gravidez antecipada… há muito esqueceram o fogo que os juntara na noite da concepção daquele filho… Talvez se tivessem amado nos primeiros tempos… talvez tivessem sido felizes… Não se recorda. Sempre se lembra de ter visto a mãe assim, como hoje, submissa… e o pai ausente, silencioso, num monólogo constante com a televisão…
Como filho mais velho aprendeu a brincar à imagem dos pais… em silêncio… fechado no seu mundo. Às vezes ficava a olhar, da janela de sua casa, os miúdos lá fora a jogarem futebol… Ainda arriscava: “ó mãe, posso ir brincar com os vizinhos?”… A resposta era sempre o início de um longo jogo: “vai pedir ao teu pai!”… e lá ia ele: “a tua mãe é que sabe, mas eu acho que não deves ir”… E ele ali ficava, io-io tonto no meio de uma guerra que não compreendia…
Talvez tenha sido por isso que se sentiu tão feliz com o nascimento da irmã. Finalmente alguém com quem brincar, com quem partilhar os silêncios e as gargalhadas, com quem se entreter nos intervalos dos almoços e jantares, em que a televisão sempre imperava… Alguém com quem, mais tarde, começou a poder partilhar a tristeza daquela casa onde ninguém falava com ninguém… E ambos tentaram mudar as coisas… até descobrirem que é impossível entrar em corações fechados…
... O almoço acaba depressa… Quem come sem falar come a correr… Depressa se levantam da mesa e fogem dali… para os livros, para o computador ou para amigos que os pais não conhecem nem de nome… A mãe ali fica, como sempre, entre tachos e panelas… mais tarde agarrar-se-á à tábua e ao ferro de passar, ou ao pó que não existe… inventando ocupações que não tem, para não parar e perceber no vazio em que a sua vida há muito se transformou… O pai ficará pelo sofá da sala, entre os jornais e a televisão… nos infindáveis monólogos televisivos de sempre…
Mais tarde, à hora do jantar, a família voltará a reunir-se… quatro desconhecidos em torno de uma mesa… devorando em silêncio o que o prato tiver para lhes oferecer… cada um guardando para si, os seus sonhos, anseios e alegrias… em garfadas isoladas… sozinhas… os quatro… a família tradicional: o pai, a mãe e os dois filhos…

… Reinvente-se a tradição!!!


Domingo, uma da tarde. Hoje o menu é especial. Como o é todos os domingos… Gosta de “caprichar” aos domingos. Os “miúdos” vêm almoçar a casa e a família toda reunida merece um repasto especial.
A casa assim com tanta gente ganha vida própria. A ânsia por falar, contar, rir e conversar é tanta que as palavras se atropelam… Finalmente a travessa vem para a mesa e um silêncio momentâneo de admiração instala-se… “Mmmm, já te disse que és provavelmente a melhor cozinheira do mundo?”. Era assim desde sempre… Os trinta anos de vida em comum, longe de terem apagado a chama fizeram aumentar o amor, carinho e admiração dos primeiros tempos… E nunca perdiam uma oportunidade para trocar entre si pequenos afagos, como este.
… “Por acaso, o João passa a vida a dizer-me que por muito bem que eu cozinhe os meus cozinhados nunca chegarão aos calcanhares da comida cá de casa!”… E o assunto está lançado para o resto da refeição. Maria, a mulher de João, o filho mais velho do casal, conta como o “menino mimado”, como se refere ao marido, passa a vida a falar do arroz da mãe e do bacalhau com natas da mãe e de mais não sei o quê… Joana, a filha mais nova, aproveita logo para dizer ao namorado que não julgue que os dotes gastronómicos são genéticos… porque quando se casarem os cozinhados vão ser feitos a meias: “ah pois é, meu menino… e se começas a dizer ‘ó querida cozinha tudo que cozinhas muito melhor que eu’, começo a pôr uns temperos tão esquisitos que nunca mais me queres perto dos tachos!”… E o almoço lá continua alegre e divertido… Há espaço para todas as conversas, para todos os assuntos… para todas as pessoas…
A vida não foi sempre fácil… Lutar por aquele amor foi complicado… Muito… Lutar por aquela vida, também… Lutar por aqueles filhos… indescritível… Ao princípio ainda pensaram adoptar… Perante tanta burocracia e papelada optaram pela inseminação artificial… O amor é o mesmo independentemente do meio.
As crianças lá nasceram, fortes, saudáveis e muito acarinhadas… é assim com todos os filhos muito desejados… É claro que a educação não foi fácil… Não foram simples as respostas às suas perguntas e às perguntas/provocações que traziam de fora… A todas foram conseguindo responder sempre com calma, paciência, tolerância e muito amor… O objectivo era fazer deles duas pessoas boas e bem formadas… Duas pessoas conscientes e inteligentes, capazes de saberem, perante todas as situações da vida, tomar o rumo certo, o melhor para si e para os outros, aquele que os faria felizes… Agora, ao fim de trinta anos, sentiam que estavam a conseguir cumprir bem a sua missão!
Os filhos agora já crescidos estavam “encaminhados”… O João, o “menino mimado”, inteligente, astuto e com um humor corrosivo, médico a acabar a especialidade em cirurgia, casara-se há dois anos e esperava agora uma menina. A Joana, aérea, despistada e sonhadora, mas meiga, ternurenta e muito lutadora, acabara o curso de Música há um ano e tinha sido logo convidada a dar aulas na Faculdade… preparava-se agora para casar, “mas com calma que ainda sou nova e tenho a vida toda pela frente”.
... O almoço prolongava-se sempre pela tarde toda… Depois lá iam ficando, por ali… Ou então saíam os seis, a dar uma volta pela Baixa, ou em passeios pausados à beira rio… E como lhes sabiam bem aqueles fins de tarde, sentadas no banco de jardim, observando os seus “rebentos” passear de cara feliz, olhando babadas a sua família: duas mulheres e os seus dois filhos… com um neto a caminho…

Ponderem-se os discursos…

Se pensam que estes textos são mais do que duas meras descrições inofensivas de duas famílias distintas, então pensam muito bem!
Bem sei que venho tarde, e o debate sobre o assunto já fez correr muita e muito acertada tinta lá para o início da semana… Mas há definitivamente coisas que não consigo ouvir/ler sem ficar indiferente, calada, sem reacção.
Penso que estes textos, analisados e confrontados, permitirão tirar as devidas conclusões a quem a elas estiver disposto.
Gostava apenas de reforçar dois ou três pontos. Bem sei que vou repetir muitos dos argumentos esgrimidos na blogaysfera, mas sinceramente penso que este é um daqueles assuntos em que, por muito que digamos, nunca diremos vezes demais… Assim sendo, cá vai:

1. Se o conceito tradicional de família é aquele que se materializa “na união estável e leal de um homem e uma mulher”, quantas famílias tradicionais preenchem verdadeiramente este conceito?... Em quantas famílias tradicionais a união entre o homem e a mulher é estável?... E leal?... É verdade que nunca saberemos, porque é impossível perscrutarmos o íntimo de todas as famílias… Mas ou tenho muito azar com as pessoas que conheço, ou não serão tantas quantas seria desejável para se alegar que o conceito é correcto e exprime inequivocamente a realidade!!!... Sem dúvida que ele existe, em termos ideais, há vários anos… mas existirá na prática tal como é descrito?

2. Desejar que o conceito jurídico (porque é disso que se trata) de família seja alargado às famílias de casais homossexuais não coloca em causa qualquer conceito, nem sequer a forma como qualquer cidadão rege a sua vida, ou constitui a sua família. Simplesmente se regula juridicamente uma realidade que na prática já existe (pasme-se!) há milhares de anos! "Ubi societas ibi ius"… é simples... é milenar!

3. Não consigo perceber como é que se aceita que os casais homossexuais podem ser reconhecidos como casais, mas não se aceita que possam invocar o direito a casarem-se… Agora sou eu que estou com os conceitos confundidos… Ou será aqui o meu espírito latinista que não me consegue fazer esquecer que os étimos são exactamente os mesmos?...

4. E os conceitos continuem a confundir-se-me quando leio que as relações homossexuais são “novas realidades”... Qual é afinal o conceito de novo, se temos notícias de relações homossexuais desde… desde… alguém sabe desde quando?... É que a minha memória histórica só me leva até à Grécia Antiga!!!

5. E quando finalmente leio no discurso: “isto por uma razão muito simples”, penso: “ok, vão seguir-se os argumentos válidos, insusceptíveis de críticas e assertivos que me vão fazer pensar duas vezes quando arguir que eu e a minha mulher somos uma família”… e aqui vão os argumentos de peso: “a família, enquanto união de um homem e uma mulher, é, para mim, a célula fundamental da sociedade e, deve ser a partir dela que se deve fomentar a descendência”… Pois, a célula… o átomo… o princípio dos princípios, para mim que sou católica, é o amor: o amor que tudo cria, o amor que tudo gera, o amor que tudo move… o amor sim deve ser a célula da sociedade, o amor sim, deve fomentar a descendência!!!... E curioso, como em todo o texto nunca se fala de amor… Sintomático!?

6. E a pérola final… “a formação e educação de uma criança deverá ser concedida, quanto a mim, apenas aos casais heterossexuais, pois uma criança que cresça num ambiente dominado pela homossexualidade terá sempre dificuldade (nem que seja inconscientemente) de descobrir e exteriorizar a sua tendência sexual, já para não falar da falta que lhe fará a figura do pai ou da mãe.”… E eu que nasci e cresci no seio de uma família heterossexual e (há que admiti-lo) homofóbica, pergunto-me onde terei eu ido desencantar a minha "tendência sexual"… e pergunto como é possível que tantos dos meus amigos filhos de casais divorciados, que nunca conviveram (maioritariamente) com o pai se tenham transformado nas pessoas felizes e bem formadas que hoje são!...

Pena que discursos como estes se fiquem quase sempre por um post, por uma farpa lançada, sem réplica à contestação… Que falta faz um debate aberto, esclarecido e fundamentado sobre todas estas questões…
Como me ferve o sangue nas veias quando leio coisas assim!

domingo, 1 de fevereiro de 2004

Pensamentos em torno de uma mulher bonita... 


Ainda que apressada, como sempre, corredor fora, de olhos no infinito e pensamento mergulhado no processo que levava debaixo do braço, seria hipócrita se dissesse que não reparei nela! Reparei, como qualquer ser humano com a mais elementar sensibilidade estética repararia…

Deixarmos que o nosso espírito acorde, por breves instantes, da absorção do dia-a-dia, para ser atravessado pela surpresa de uma mulher bonita tem, quanto a mim, muito mais de estético do que de lésbico – porque a obra de arte é apreciada muito antes de se transformar em objecto de desejo, ou mesmo sem que tal transformação se opere obrigatoriamente… mas isso daria mais não sei quantas linhas, que agora não vêm ao caso!

Por momentos, verdadeiros milésimos de segundo, o processo deixou de ser assim tão importante, o prazo tão apertado e a questão tão complexa, para o pensamento ser invadido pela imagem daquela mulher alta, imponente, cabelos longos e pose estudada… “Deve ser modelo”, lembro-me de ter pensado, enquanto me cruzava com ela e lhe sorria um “boa tarde” genuíno, sem todavia lhe fixar as feições…
De novo o prazo me invadiu o pensamento… e a mulher bonita, lufada de ar fresco, ter-se-ia varrido totalmente da minha memória, como tantas outras obras de arte com as quais já tive o privilégio de me cruzar por breves instantes, não fora ter acontecido o que se seguiu.



A minha colega entrou esbaforida, porta dentro, vermelha como se tivesse visto o diabo, ele próprio, e com risos histéricos como se tivesse ganho o Totoloto: “Meninos, está ali um travesti!!!!” “Vá meninos, vão lá ver o travesti!”…
E os meninos (e meninas) lá foram, todos juntos, com risinhos histéricos, nervosos e imbecis, ver o travesti ao corredor, como quem vai ver os cavalinhos ao circo…

Confesso que também a mim me apeteceu levantar da cadeira e ir ter com a mulher com quem me cruzara… Não para passar por ela com os risinhos abafados e ridículos que saíam dos meus colegas, mas para me apresentar e dizer-lhe, com um sorriso cúmplice: “Perdoai-lhe, Senhora, que não sabem o que fazem!!!”…
Escusado será dizer que fiquei presa na cadeira sem me mexer, à espera que terminasse aquela chacota geral… Escusado será também dizer que, pelo que me contaram mais tarde alguns colegas desocupados que encontraram ali assunto para a tarde toda, a mulher bonita, revelou-se também uma grande Senhora: ignorou todos os risos e bocas declaradas, tratou do seu assunto com toda a seriedade e lá foi embora à sua vida… Muito provavelmente deixando, por onde passava um rasto de comentários aos quais, penso eu, do cimo da minha ingenuidade, já estará imune!...

O episódio mexeu comigo, confesso. Estou habituada a pensar a questão LGBT, acima de tudo, de uma perspectiva homossexual. E, reconhecidamente por umbiguismo crónico, não me tenho sequer preocupado em querer conhecer muito sobre a “última” consoante da designação.
Só esta semana, depois deste episódio infeliz, dei por mim a pensar no quão mais complicada deve ser a vida de um transgénero do que a de um homossexual… É que a nossa homossexualidade não está escrita na cara, não nos denuncia pela voz nem pelo tamanho das mãos… Mantenhamos nós o recato e dificilmente seremos perturbados com pessoas na rua, constantemente a sussurrarem por onde passamos ou a não conterem o riso e a curiosidade quando lhes dirigimos as palavras…

Já com os trangéneros as coisas serão bem mais complicadas… E dou por mim a nem sequer conseguir imaginar o que será movimentarmo-nos num corpo que não sentimos como nosso, a ter que lutar por uma operação que nos devolva a identidade e, no fim, quando finalmente nos re-encontramos no espelho ter que continuar a levar com comentários mesquinhos de pessoas que tornam risível tudo o que vai para além da sua triste monotonia...

Foi assim, com um respeito acrescido por tod@s aquel@s que simplesmente nascem com o corpo trocado que, a navegar por aqui, fui dar ao blog da Lara, uma mulher interessante, inteligente e divertida, que, entre quinhentas outras peripécias que, com certeza, já passou na sua vida, um dia teve que fazer uma operação para se sentir melhor consigo própria e poder finalmente dar corpo à sua alma de mulher!

… E trago comigo o gosto amargo do silêncio perante aqueles risos incontidos de quem simplesmente ignora em absoluto o significado da palavra respeito!

Uma tempestade... 


... foi o que pareceu vir cair aqui ao blog, só porque me lembrei de tentar corrigir alguns erros na página...

Depois de algumas horas lá consegui voltar a tornar esta página minimamente apresentável!... Foi-se, infelizmente, o sistema de comentários que a minha querida Mente tinha "comprado" na altura do Natal com tanto amor e carinho, e com ele as palavras que por lá se haviam trocado... Ao fim e ao cabo nada de novo, na blogosfera, verdade?

Qualquer reclamação é favor clicar aqui em baixo no novo "livro amarelo"!
A gerência agradece a compreensão e perde perdão pelos eventuais incómodos causados ;-)



Somos altos, baixos, magros, gordinhos, extrovertidos, introvertidos, religiosos, ateus, conservadores, liberais, ricos, pobres, famosos, comuns, brancos, negros... Só uma diferença : amamos pessoas do mesmo sexo. Campanha Digital contra o Preconceito a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros. O Respeito ao Próximo em Primeiro Lugar. Copyright: v.


      
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