segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Histórico?
Sucede que o fim não justifica o meio. A medida vem tarde, carregada de oportunismo político e, ademais, recomenda que o entusiasmo seja contido. Isto porque se trata apenas de uma menção numa moção: não está no programa de governo e, como já escreveu o Héliocoptero no Devaneios LGBT, «O comportamento errático não é sinal de credibilidade e o PS não é crível nesta matéria. Já o foi, mas mandou isso pela janela fora quando fez tábua rasa das suas próprias palavras em Outubro passado. (...) quem já foi cobarde uma vez, pode sempre voltar a sê-lo».
De paleio estamos nós fartos. Não consigo, por isso, rejubilar por aí além com o discurso proferido ontem por Sócrates, muito menos consigo apelidar o anúncio de "histórico", como faz a Fernanda Câncio (em comentário a este post). Histórico teria sido demonstrar coragem e vontade política há três meses. Não posso simplesmente considerar histórica uma medida que deixou em suspenso a vida de tantos LGBT, nos quais eu me incluo, sem qualquer razão válida para tal a não ser os interesses eleitorais do Partido Socialista. Daqui até o casamento entre pessoas do mesmo sexo ser uma realidade no meu país posso muito bem morrer. E não serei apenas eu a morrer solteira: assim também morrerá a culpa.
De igual modo, não acho histórico que o Senhor Primeiro Ministro só agora tenha chegado à conclusão de que a questão da igualdade entre todos os cidadãos é uma prioridade. Na realidade, acho até bastante triste.
Ainda que todos os pontos da agenda de que fala o Miguel se concretizem, uma coisa é certa: este tema será sempre uma mancha no currículo do PS e nenhum LGBT deveria esquecer-se disso. Estou optimista em relação à mudança, claro, mas até que ela opere tenho todo o direito de duvidar das boas intenções dos socialistas.
Nota: este texto foi publicado (com ligeiras alterações) como comentário a este post do Miguel Vale de Almeida.
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