sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
«Coragem doseada»
Eu compreendo que Marinho e Pinto goste de abrir a bocanha para dizer, ou melhor, repetir, aquilo que segundo ele já toda a gente sabe porque veio nos jornais. E compreendo anda melhor que ele tenha à vontade (para não dizer «lata») para acusar em praça pública genericamente («há pessoas», «há políticos», «há grupos económicos», etc.), não diga os nomes. Palavra de honra que compreendo. É que Marinho e Pinto tem aquilo que eu vou, neste preciso instante, baptizar de «coragem doseada»: uma coragem que chega para o boato, mas não é bastante para a certeza; que existe para a acusação, mas não é assim tanta para a nomeação; que é muita para enxovalhar, mas não é assim tanta para confrontar.
Se Marinho e Pinto tem assim tantas provas e tanta certeza daquilo que está a dizer, porque não diz os nomes? Não me digam que é por temer processos de injúrias, porque se há assim tanta prova e essa prova chegou ao conhecimento dele, também a poderia carear para juízo, se fosse o caso, não poderia? Então porque é que «chama os bois pelos nomes», para usar linguagem figurada? Acho que é óbvio perceber porquê...
Marinho e Pinto é daquela cêpa do estardalhaço, da bocarra cariada aberta, da invocação da «crise» por tudo e por nada. E essa cêpa é má e é pernicioso que uma pessoa como ele esteja a ocupar o cargo institucional que ocupa. Marinho e Pinto sabe que esta actução é útil para o transformar numa pessoa mediática, mas também sabe que não é a melhor para a instituição a que preside. No entanto, está disposto a sacrificar aquilo que é basilar para que a máquina judicial funcione - o bom relacionamento entre as instituições - por mais meia dúzia de minutos na TV e uma chamada ao Parlamento. Marinho e Pinto disfere ataques - francamente infundados - às Magistraturas, especialmente ao Ministério Público; aponta o dedo ao Procurador-Geral da República; critica a actuação da Polícia Judiciária... enfim, é um não mais acabar de críticas que só ajudam a reforçar a primeira ideia com que começou o seu discurso na abertura oficial do Ano Judicial, ou seja, a de que vivemos presentemente a pior crise de semmpre da justiça em Portugal - o que não é verdade.
Marriage is love. |