quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
My Son
Nunca acreditei naquela coisa do relógio-biológico. Tudo o que são generalizações e estereótipos (ainda que de base científica) fazem-me franzir o sobrolho e afastar. Mas a verdade é que, por uma causa não apercebida, cada vez mais e de modo mais inequívoco, tem gritado em mim o filho que um dia haveremos de ter.
E isto ao ponto de falar com as minhas amigas, mães de filhos, com a curiosidade e a ânsia dos alunos que tudo querem absorver, ouvir-lhes com atenção as técnicas contra a chupeta, as mézinhas contra as gripes, as façanhas de cada um... e isto ao ponto de ficar horas embevecida a observar as brincadeiras de miúdos que nem sequer conheço... e isto ao ponto de dar já por mim a pensar: "um dia trarei o meu filho aqui", "um dia ler-lhe-ei esta história ao som desta música", "um dia andará nesta escola", "um dia explicar-lhe-ei esta fotografia"... e isto ao ponto de me sentir horrorizada só de pensar na possibilidade de, um dia, todos estes "dias" não chegarem a concretizar-se... e isto ao ponto de não conseguir deixar de me sentir arrepiada ao ler poemas como este:
© Stefan_Beutler
My Son
after Carlos Drummond de Andrade
My son
my only son,
the one I never had,
would be a man today.
He moves
in the wind,
fleshless, nameless.
Sometimes
he comes
and leans his head,
lighter than air
against my shoulder
and I ask him,
Son,
where do you stay,
where do you hide?
And he answers me
with a cold breath,
You never noticed
though I called
and called
and keep on calling
from a place
beyond,
beyond love,
where nothing,
everything,
wants to be born.
Mark Strand
via Stultiferamente
Marriage is love. |