.comment-link {margin-left:.6em;} <$BlogRSDUrl$>

quarta-feira, 13 de julho de 2005

A bissexualidade existe? 


Uma das questões que sempre me deixou curiosa em relação à sexualidade humana foi a bissexualidade. Não que negue a sua existência, ou sequer a considere uma "forma menos honesta de viver a sexualidade", como já lhe ouvi chamar. Nada disso. A minha curiosidade prende-se com saber se, no fundo, o ser humano não será sempre bissexual, sendo que depois, por factores externos, vai involuntariamente formando aquilo que poderíamos designar por identidade sexual, que nuns casos é heterossexual, noutros, homossexual e noutros ainda, permanece bissexual.
Decerto que todos temos a capacidade de nos sentirmos "minimamente" atraídos por pessoas que não correspondem ao sexo pelo qual sentimos atracção predominante. De igual forma, certamente já todos experimentamos esse tipo de atracção (depois uns negam-na e outros não, dependendo da forma como lidam com as questões da identidade sexual). Como muito bem diz a Assumida Mente, "Sou lésbica mas não sou parva: um homem sexy é sempre um homem sexy!". Mas daí a sentirmos atracção emocional, vai uma longa distância. Do mesmo modo, quantas vezes os heterossexuais não sentirão atracção emocional por pessoas do mesmo sexo, mas não atracção sexual?
Mas será que a atracção emocional é dissociável da atracção sexual (física)? Não será que uma desperta a outra, ou seja, que uma é pré-condição da outra?
E será que a orientação sexual é estanque ao longo da vida? Será que passada a fase da sua "definição" (aqui, partindo do pressuposto de que existe tal "definição") o ser humano é eternamente hetero, homo ou bissexual? Não será a orientação sexual algo de flutuante, embora com predominância para um dos sexos? E essa predominância, será fixa ou nem isso?

Esta série de reflexões prendem-se com um estudo sobre a bissexualidade realizado por investigadores norte-americanos e sobre o qual foi publicada uma notícia no suplemento de saúde do El País, mas que também está disponível online. Traduzi-a do espanhol (ou tentei traduzi-la, melhor dizendo) e transcrevo-a abaixo, na esperança de que sirva de mote a uma profícua troca de ideias sobre as questões que abordei (e outras) que espero suceda na caixa de comentários deste post. O desafio fica assim lançado. Aguardo os vossos coming outs! ;)


A bissexualidade existe?

Uns sentem-se atraídos por mulheres, outros, por homens e outros, a crermos em Sigmund Freud, no Dr. Alfred Kinsey e em milhões de pessoas que se declaram bissexuais, sentem atracção por ambos os sexos. Mas um novo estudo levanta dúvidas sobre se existirá verdadeiramente a bissexualidade, pelos menos nos homens. A investigação, da responsabilidade de uma equipa de psícólogos de Chicago e Toronto, vem dar razão aos que há já algum tempo duvidam de que a bissexualidade seja uma orientação sexual estável e específica.

Neste estudo foram medidos os padrões de excitação genital em resposta a imagens de homens e mulheres. E descobriu-se que, na realidade, os homens que se declaravam bissexuais se excitavam com apenas um dos dois sexos, normalmente, com imagens de homens. Este estudo é o mais amplo de entre várias investigações recentes que indicam que os homens que se declaram bissexuais (1,7%, segundo os cálculos) apresentam padrões de atracção física consideravelmente distintos dos desejos que manifestam.

"A investigação sobre a orientação sexual baseou-se quase por completo em declarações e este é um dos poucos estudos que utiliza medidas fisiológicas", afirma Lisa Diamong, professora de Psicologia e Identidade Sexual na Universidade de Utah. A discrepância entre o que ocorre na mente das pessoas e o que sucede no seu corpo, disse, constitui um enigma "que os especialistas agora têm que resolver, e que coloca a questão de sabermos a que nos referimos quando falamos de desejo". "Temos partido do princípio de que todas as pessoas falam do mesmo", acrescenta, "mas agora temos provas de que não é exactamente assim".

Outros investigadores que já observaram as conclusões do estudo, que será publicado na revista Psychological Science, disseram que é necessário repeti-lo com mais homens bissexuais para poderem ser obtidas conclusões claras. Em certos casos, os desejos bissexuais são transitórios e permanecem ainda desconhecidos. Homens e mulheres também parecem apresentar diferenças na frequência com que sentem atracções bissexuais. "O que não queremos", comenta Randall Sell, professor-adjunto de ciências sociomédicas na Universidade de Columbia, "é que algum terapeuta comece a dizer aos bissexuais que estão enganados e que na realidade vão a caminho da homossexualidade". E acrescenta: "Ainda não sabemos o suficiente sobre orientação e identidade sexuais para tirar estas conclusões".

Neste estudo experimental, psicólogos da Northwestern University e do Centro para a Adição e Saúde Mental de Toronto recrutaram 101 homens jovens e adultos, dos quais 33 se identificaram como bissexuais, 30 como heterossexuais e 38 como homossexuais. Os investigadores colocaram-lhes perguntas sobre os seus desejos sexuais e qualificaram a sua orientação sexual numa escala de 0 a 6, na qual 0 ou 1 indicam heterossexualidade e 5 ou 6 indicam homossexualidade. A bissexualidade mediu-se pelas classificações intermédias. Sentados sozinhos numa sala, os homens viam depois filmes eróticos, alguns só com mulheres, outros só com homens.

Usando um sensor para comprovar a excitação sexual, os investigadores constataram que os homossexuais apresentavam excitação perante imagens de homens e pouca excitação perante imagens de mulheres, e que os heterossexuais apresentavam excitação perante imagens de mulheres, mas não de homens. Todavia, os homens que se declaravam bissexuais não mostravam padrões de excitação congruentes com a sua suposta atracção por ambos os sexos. Ao invés, três quartos deles experimentavam padrões de excitação similares aos dos homossexuais; os restantes não eram distintos dos padrões dos heterossexuais. "Independentemente de serem homossexuais, heterossexuais ou bissexuais, os homens apresentavam aproximadamente quatro vezes mais excitação" com um sexo do que com o outro, afirmou Gerulf Rieger, principal autor do estudo, que está a fazer o seu doutoramento sobre este tema na Northwestern University. "Ainda que uma terça parte dos homens de cada grupo não tenha mostrado excitação significativa vendo os filmes, a sua falta de resposta não alterou o resultado", explica Rieger.

Pelo menos desde o século XIX que os cientistas do comportamento concluíram haver atracção bissexual, quer nos homens, quer nas mulheres e têm desde então discutido qual o lugar da bissexualidade na identidade sexual do ser humano. Alguns, como Freud, concluiram que os humanos são de natureza bissexual. Nos seus estudos da década de 1940, Kinsey descobriu que muitos homens casados e publicamente heterrosexuais declaravam ter mantido relações sexuais com outros homens. "Os homens não representam duas populações diferenciadas, os heterossexuais e os homossexuais." escreveu Kinsey. "Não temos de dividir o mundo entre ovelhas e cabras".

Alguns inverstigadores, bem como alguns dos que se declaram bissexuais, consideram a técnica utilizada no estudo para medir a excitação sexual demasiado simplista para captar a riqueza - sensações eróticas, afecto, admiração - que constitui a atracção sexual. As atracções sociais e emotivas são elementos muito importantes da atracção bissexual, opina Fritz Klein, sexólogo e autor de
The bisexual option
. "Afirmar, com base neste estudo, que não existe a bissexualidade masculina é excessivo, parece-me", disse Gilbert Herat, director do Centro Nacional de Recursos sobre Sexualidade, com sede em São Francisco. "É possível que haja muito mais incerteza em volta da existência da bissexualidade masculina do que o que imaginamos, mas se assim é, por que há tantos filmes, novelas e programas de televisão no mundo que tratam o tema? Será fantasia colectiva, mera projecção? Não creio.".

1,5% das mulheres norte-americanas declaram-se bissexuais. E a bissexualidade parece mais fácil de demostrar no sexo feminino. Um estudo publicado em Novembro passado pela mesma equipa chegou à conclusão de que a maioria das mulheres que afirmavam serem bissexuais apresentavam sinais de excitação perante homens e mulheres. Ainda que apenas um pequeno número de mulheres se declare bissexual, Bailey crê que a excitação bissexual talvez seja a norma entre o sexo feminino.

Em meados da década de 1990, Diamond seleccionou um grupo de 90 mulheres em marchas do orgulho LGBT, congressos de especialistas sobre questões de género e outros contextos. Metade dessas mulheres consideravam-se lésbicas, um terço declarava-se bissexual as restantes não definiram a sua orientação sexual. "A maioria parece inclinar-se para um lado ou para o outro, mas isso não as impede de manter uma relação com o sexo não preferido", declara. "Uma mulher pode interessar-se principalmente por mulheres, mas o rapaz que entrega as pizzas hoje está especialmente sexy... o que havemos de fazer?". E acrescenta: "Há muitíssimo movimento e flexibilidade. O que é um facto é que há muito pouca investigação nesta área e muito para aprender".


Fonte:
El País


Adenda (em 28.08.2005)

Resolvi transcrever adiante os comentários que este post suscitou, uma vez que a questão lançada foi alvo de uma interessante reflexão e troca de ideias entre @s noss@s leitor@s e mesmo entre "as Mentes". Porque não faria sentido que se perdessem mercê das limitações do serviço gratuito da Haloscan, aqui se seguem, cronologicamente ordenados, do mais antigo para o mais recente.


Eu cá tenho a certeza que as pessoas bissexuais sabem perfeitamente que o são. E as outras também devem saber - calculo eu...
Mancha 13.07.05 - 1:54 pm


A mim, a maior parte das vezes, chega-me sentir-me sexual. E a vós?
Mancha 13.07.05 - 1:55 pm


Há uma questão que considero fundamental: se a atracção emocional é dissociável da sexual?
Pessoalmente entendo que tudo depende das pessoas e da sua forma de estar na vida... no meu caso são indissociáveis. A resposta está no modo como cada um lida com as suas emoções, se as aceita independentemente das influências exteriores. Se isso acontecesse talvez não existisse esta necessidade de 'categorizar' as pessoas relativamente ao seu comportamento sexual. Porque uma coisa é o que somos, outra o que fazemos. Em que suporte se deve basear então a questão: na 'natureza' ou no comportamento?
M. 13.07.05 - 2:11 pm


Pelo que tenho observado acredito que sim somos todos Bi... com isto não se trata de crer ou não... esse é o meu calcanhar de Aquiles. Contudo esforço-me para provar...
Acho que descuramos muito a influência do meio sobre nós.
AlmaAzul 13.07.05 - 3:21 pm


Miss Mente, muito inspirada e inspiradora!

Miss M., óptima questão!

Vamos lá ao brainstorming...

Quanto a mim, as atracções físicas e emocionais são indissociáveis ... mas, devemos analisar o tipo de relação que estamos a tratar. Se se tratar de relações ocasionais, a emocional contará?...

"Não será que uma desperta a outra, ou seja, que uma é pré-condição da outra?", querida Mente, não penso dessa forma. Acredito que, quando a emocional antecede a sexual ou vice versa, possamos estar a falar de uma outra "palavra" – AMOR ... Mas, muitas das vezes é possível existir a atracção sexual sem existir a emocional, assim como o contrário. Quando esta se verifica (a emocional), e sob o meu ponto de vista, estaremos a tratar de relações de amizade.

Quanto à orientação sexual e sabendo, de antemão, que algumas vozes se levantarão, questiono-me, mais uma vez, não é a nossa tendência natural a bisexualidade?! Se ao cruzarmo-nos com alguém na rua e acharmos piada, independentemente do sexo, não devemos agir em conformidade com a nossa atracção e deixar ver onde nos leva?... E, francamente, não acho que seja flutuante, mas que a pessoa em causa, sempre, tenha tido essa atracção (bem escondida ...), seja homo, hetero ou bi, e que até dado momento nunca se tenha revelado... e quando isso acontece, muitas das vezes, assume-se que a pessoa mudou de orientação ...

Mas, meninas, isto sou eu no meu brainstorming... e lá vou eu a divagar ...
Chocolover 13.07.05 - 3:28 pm


Minhas queridas, penso que vos compreendo a todas e que todas têm muita razão no que expuseram. Mas deixem-me cá acicatá-las...

Seremos todos bissexuais? Se assim é, porque razão uns se dizem hetero e outros homossexuais? Porque razão continua a haver pessoas que passam a sua vidinha inteira a relacionar-se com pessoas de apenas um dos sexos?

Choco, pegando nas tuas palavras: "questiono-me, mais uma vez, não é a nossa tendência natural a bisexualidade?!". Ora bem, minha amiga, o busílis da questão é exactamente esse. Mas então porque dizes mais à frente: "francamente, não acho que seja flutuante, mas que a pessoa em causa, sempre, tenha tido essa atracção (bem escondida ...), seja homo, hetero ou bi, e que até dado momento nunca se tenha revelado..."?
É que se sempre foi homo, ou hetero, ou bi... somos todos bissexuais ou não?

Bolas, agora quem está em brainstorming sou eu...

Nota-se muito que o assunto me interessa? Sou uma curiosa do ser humano, é o que é...
Mente Assumida 13.07.05 - 3:46 pm


E já agora:

Diz a M.: "se a atracção emocional é dissociável da sexual?
Pessoalmente entendo que tudo depende das pessoas e da sua forma de estar na vida... no meu caso são indissociáveis".

E diz a Choco: "Quanto a mim, as atracções físicas e emocionais são indissociáveis..."

Então isso significa que sempre que há envolvimento sexual tem de haver envolvimento emocional? Choco, em que ficamos? Não és tu própria a admitir que "devemos analisar o tipo de relação que estamos a tratar. Se se tratar de relações ocasionais, a emocional contará?..."?

Ora nem mais...
Mente Assumida 13.07.05 - 3:50 pm


E também fiquei a pensar no que a Choco disse... que quando há atracção emocional sem sexual estaremos a falar de "amizade"...

É bem capaz de ser verdade... nunca perspectivei a amizade como uma atracção (atracção no sentido de fascínio), mas antes no sentido de identificação de valores básicos e gostos pessoais... Mas não é de todo despropositado falar em atracção emocional pel@s amig@s. No fundo, gostamos ou não del@s? E esse sentimento não é, necessariamente e por isso passe a redundância, emocional?

Prometo pensar nisso...
Mente Assumida 13.07.05 - 3:56 pm


A orientação sexual é cultural. A bissexualidade é a génese humana.

Explico o meu ponto de vista:

Já diria Aristóteles que "o homem é um animal social", assim sendo tem como padrão a cultura em que evolui. É um processo natural, como falarmos português, porque é a língua que ouvimos no dia-a-dia. Pegando na História (que nos dá todas as luzes e mais algumas) encontramos diversos padrões culturais e, derivados dos mesmos, comportamentos sexuais plenamente aceites. A Antiguidade Clássica é um claro exemplo... qual era o cidadão romano que não tinha um efebo?

Assim, à luz da actual cultura portuguesa e europeia (de matriz judaíco-cristã), a heterossexualidade é o padrão, a norma. Daí ser mitigada a vertente homossexual. Creio que a tendência é serem categorizadas as pessoas e a bissexualidade é demasiado "híbrida" para ser comumente aceite. A bissexualidade é menos explicável do que a homossexualidade.

Quanto ao estudo... creio que as etapas são demasiado parcas para que se possam tirar conclusões, ainda para mais porque cada pessoa é um indivíduo exclusivo e com uma dicotomia feminino - masculino própria. Eu posso ser bissexual e atrair-me por pessoas mais femininas ou então mais masculinas, independentemente do seu sexo...

É nestas coisas que tenho que dar a mão à palmatória ao Marx, porque também tenho curiosidade em saber como seria não termos História e referências... Talvez assim pudessemos analisar tudo como deve de ser.

A minha opinião é de que as categorias simplesmente não existem, os padrões morais e sociais é que geram aquilo que somos. Como explicar o caso de alguém que sempre adorou homens e de repente olha para uma mulher e se apaixona? Mas é só aquela mulher, mais nenhuma a faz virar a cabeça? É isso a bissexualidade? Também não creio que o seja...

O truque reside em despirmo-nos das referências e agirmos de acordo com as emoções.
Label 13.07.05 - 3:57 pm


Identidade sexual?!... hmmm Demasiado complicado pour moi...

Identidade de género de um lado e orientação sexual do outro. Agora se a minha orientação é identitária, não sei...

*Who cares anyway!... I don't!*

Quanto ao plano da bissexualidade, homo ou hetero não tem de estar sempre relacionada com o amor, muitas vezes passa por muitos outros factores. e também não creio que existam só homos, bis e heteros..., mas isso é uma longa história!
sara cacao 13.07.05 - 5:47 pm


Mente...
o que tu foste fazer... os meus neurónios já nadam em tanta água...
Queria apenas pegar em 2 ideias: a Label falou na história e é preciso salientar o seguinte: a maior parte das pessoas utiliza o exemplo da Grécia Antiga como 'modelo' de sociedade onde os homens podiam relacionar-se sexualmente tanto com homens como com mulheres, mas até nesta situação é preciso diferenciar o seguinte: na Grécia, os comportamentos sexuais não definiam a identidade sexual. Os indivíduos eram heterossexuais e não bissexuais, para além de que a relação sexual com um efebo tinha características educativas ao que se chamava de Pederastia e não Pedofilia. Só os homens (note-se: cidadãos livres, ou seja, todos menos os escravos e as mulheres) é que usufruíam desse tipo de relação. Os contextos são diferentes. Actualmente... os comportamentos sexuais definem a nossa identidade e tanto é que a Label tocou nesse ponto quando diz: «Como explicar o caso de alguém que sempre adorou homens e de repente olha para uma mulher e se apaixona? Mas é só aquela mulher, mais nenhuma a faz virar a cabeça? É isso a bissexualidade?»
A segunda ideia prende-se com a flutuação: vocês estão a falar de uma orientação flutuante ou de emoções que são flutuantes e que por vezes nos surpreendem ?
M. 13.07.05 - 6:07 pm


Falta ainda dizer o seguinte: na minha modesta opinião... o mais importante é cada um saber o que sente e o que quer... e o que isso implica! Porque os nossos sentimentos, os dos outros e os investimentos emocionais que cada um(a) faz não são para se brincar! É preciso que cada um tenha consciência do que deseja! Beijos
M. 13.07.05 - 6:10 pm


Antes de mais uma piada do George Carlin : "Ser bissexual deve ser terrível. Querer ir para cama com toda a gente que se conhece! Mais valia andar com uma lista telefónica debaixo do braço!"

Agora mais a sério.
- Eu acho que a já aqui falada cultura judaico-cristã tem muito a ver com a dificuldade de aceitarmos a atracção sexual pelo mesmo sexo. Um bom exemplo é o facto de em criança toda a gente, ou quase toda, ter experimentado sensações homossexuais mais ou menos físicas e chegados a adultos ter um pudor em admiti-las. Eu não lhe chamo homofobia. Chamo-lhe vergonha.
- Sendo a homossexualidade feminina melhor aceite na sociedade que a masculina (isto é pacífico, não é?), não causa estranheza que a bissexualidade feminina seja pior encarada que a masculina. No fundo a razão é a mesma. Um homossexual masculino é repudiado, mas se for bissexual, ou seja, se também gostar de mulheres, é melhor aceite.
- Pode esta questão dissociar-se da forma como os homens e as mulheres amam, fazem sexo? Explicando melhor, o sexo nos homens não é mais físico que nas mulheres, e em sentido oposto, nas mulheres não é mais mental? Partindo deste princípio, não é mais "fácil" para uma mulher libertar-se de preconceitos e ceder a desejos escondidos que para os homens? Da mesma forma, (e porque estamos a falar de sexo e somos adultos eu atrevo-me a levantar também esta questão, que admito, possa ser totalmente absurda) o sexo entre duas mulheres não pode ser mais "parecido" com o sexo heterossexual do que o sexo entre dois homens ? (Eu não queria ser muito gráfico. Penso que percebem o que eu quero dizer.) E sendo assim repito, não é mais "fácil" para uma mulher libertar-se de preconceitos e ceder a desejos escondidos que para os homens ?
- Atracção física e atracção emocional. Sinceramente não compreendi muito bem como podem ser indissociáveis. Não podemos sentir uma emoção por alguém da qual não temos qualquer atracção física? Ou estamos a falar de amor ?
- Por último, e salvo melhor opinião, penso que seria útil para este debate fazer uma declaração de sexo e de orientação sexual. Porque neste assunto, como em qualquer outro, a nossa posição é relevante para a nossa opinião. Por exemplo. Eu sou homem e heterossexual. A minha visão das coisas é diferente de um homossexual e de um bissexual. Essa diferença é fundamental para entendermos melhor a diferença das nossas opiniões. Acho eu.
Mário Almeida 13.07.05 - 8:03 pm


Antes de mais, querida Mente:
Acho que conseguiste suscitar aqui uma profícua discussão, como querias! Se vamos sair com respostas, não sei, mas que ao menos pensamos e refletimos, concerteza!)
Talvez fosse bom começar por explicar a minha "crença" face a bissexualidade.
Durante muito tempo acreditei, tal como muita gente, que a orientação sexaul seria como que categorias estanques, que a pessoa assumia-se como qualquer coisa e que pertenceria a um grupo. Com o decorrer dos anos, cada vez mais me irritam os rótulos. Mas para além disso já vi muitas coisas, nomeadamente pessoas que toda a vida pensaram que tinham uma orientação e um dia apaixonaram-se por alguém que os fez pôr isso em causa. E conheci nos dois sentidos, tanto homo que um dia se apaixonaram por pessoas do sexo oposto, como hetero que se apaixonaram por pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, nem os homo começaram a apreciar pessoas do sexo oposto, nem os hetero pessoas do mesmo sexo, simplesmente foi aquela pessoa que os atraiu, mais nenhuma! E afinal que é isto? Levanto-vos a questão... e gostava que alguém me desvendasse o mistério, ou pelo menos me desse pistas.
Por isto mesmo, cada vez mais acredito que a orientação sexual é como que o espectro de cores, há zonas do espectro em que está tudo muito definido e claro, e há outras em que as cores se esbatem e ninguém sabe muito bem se aquela cor é verde ou azul (como tantas vezes acontece quando olhamos o mar).
E no fundo acabo por dar razão à M., o que interessa no final é aquilo que sentimos e como nos sentimos face a isso.

De qualquer das formas, ao longo do tempo, também descobri que as definições podem ser penosas. Dizer "sou isto.. ou aquilo" é díficil! Implica um assumir e um aceitar para o próprio e, tirando para os hetero (porque são os "socialmente correctos"), eis uma tarefa dificil. Daí que também já ouvi a teoria de que a bissexualidade é a desculpa de alguns homos para não se assumirem como tal. Para vos ser sincera, acho que em alguns casos é mesmo assim. Contudo, noutros não...

Relativamente à primeira sub-discussão de separar ou não a atracção emocional da atracção sexual, acho que isso depende muito da pessoa e da situação. Qualquer pessoa já se sentiu sexualmente atraída por um quase desconhecid@... ou pelo contrário, provavelmente já sentiram fascínio por uma pessoa sem que isso implique atracção física (e sim acredito que pode haver fascínio na amizade!)
O próprio Freud, já mencionado, separa a corrente sensual da corrente sexual, dizendo que elas podem pesar isoladamente (segundo ele, sendo este mecanismo muito pouco saudável).

Já em jeito de conclusão (apesar de me terem ficado muitas ideias penduradas), a verdade é que as emoções e os afectos são complicados de viver e explicar. Um autor interessante que estudou o amor (e aqui vou um bocadinho na linha do que a Choco disse, no fundo estamos a falar de amor) descreveu 8 tipos de amor e nem todos tinham essa componente da paixão (onde entra a atracção física).
No fundo o que me parece que é o busílis da questão é que nós, humanos, temos alguma dificuldade em lidar com o ambíguo, com o incerto, com o indefinivel.

P.S. - Label, era de facto maravilhoso podermos estudar as coisas "brutas", mas a realidade é que a cultura nos está colada à pele e por isso temos de trabalhar com o que temos. Daí que acho dificil algum dia percebermos se, tal como o Freud dizia, nascemos ou não bissexuais.
celtic 13.07.05 - 10:35 pm


Não pegando em Freud,mas em Masters and Johnson, nós , indefectivelmente, somos bissexuais e fazemos uma aprendizagem bissexual...
Só que optamos por uma, agora... a outra... certamente fica adormecida, não morta!
Respeitos!
SGC 13.07.05 - 11:42 pm


Eu bem me parecia que era assexuada... cá está: impossível ser bissexual!
Tangas 14.07.05 - 1:24 am


Podemos voltar à conversa dos rótulos e coisa que tal ... eu cá costumo dizer que me apaixono por pessoas, independentemente do sexo delas ... mas a esta hora ainda estou a dormir e não estou a carburar lá muito bem!!
Bifinha 14.07.05 - 8:53 am


Acho que somos todos bissexuais à partida. Somos é todos condicionados socialmente desde o momento em que nascemos. A homossexualidade como a heterossexualidade são construções sociais. A bissexualidade não se encerra em nenhuma caixinha, logo é mais dificil de controlar e definir. Os bissexuais são, a par com os transsexuais, os mais discriminados na comunidade LGBT. Estranho haver tão poucos estudos sobre bissexualidade e não haver nenhuma associação de defesa e integração de bissexuais.
Sim, pode haver atracção física sem atracção emocional. Agora, para mim não há envolvimento físico sem que haja algum envolvimento emocional.
Não concordo em nada com o que disseste, Mário Almeida. Isso de que o sexo entre mulheres é mais mental é um mito criado porque é dificil para as pessoas perceberem como é que duas mulheres têm sexo.
pequenos_nadas 14.07.05 - 12:07 pm


Eu nem comento... (só posso rir, pq senão choro!)
Bixu 14.07.05 - 1:32 pm


Rótulos - tirou-me a palavra da boca, Bifa senhora. obrigada.
Tangas 14.07.05 - 1:32 pm


Só gostaria de fazer um pedido pititi ao Sr. Almeida: importa-se de fazer o tal gráfico para nos explicar como é o sexo entre 2 mulheres?...
M. 14.07.05 - 2:32 pm


pequenos_nadas:
Eu não disse que o sexo entre duas mulheres era mais mental. Eu disse que o sexo NAS mulheres é mais mental.
Aliás, sendo eu heterossexual como disse só poderia estar a falar de mulheres heterossexuais. E isso não é mito, pelo menos nas mulheres heterossexuais.
E não. Eu não acho que sejamos todos bissexuais à partida. Os genes explicam muita coisa. Podemos é ser heterossexuais ou homossexuais e tornarmo-nos bissexuais, o que é diferente.
Mário Almeida 14.07.05 - 2:47 pm


Minhas caras Bifinha e Tangas, estou a ver que precisam de distinguir entre conceitos e rótulos...

A bissexualidade é um conceito que não tem necessariamente de ser um rótulo. Até porque bem sabemos que "rótulos" têm conotação negativa e os conceitos não, sendo, ao invés, algo de estritamente necessário para que nos entendamos.

Podemos até não os reconhecer e não os usar, e aí deixaria de se falar em hetero, homo e bissexuais. Mas nem por isso deixariam de existir pessoas que gostam de homens e de mulheres, só de homens e só de mulheres (ou predominantemente, em vez de "só", se preferirem).

Para discutir os assuntos é preciso saber de que estamos a falar. É aí que entram os conceitos, para desempenhar um papel imprescindível que é o da definição.

Abraços.
Mente Assumida 14.07.05 - 3:05 pm


Hum... sexo mental. Tive uma visão do futuro, downloads... uploads. "kink".

Mas um pouco mais a sério "now", a bissexualidade existe. Claro que sim, não há como negar.
O que faz mais confusão na tentativa de a organizar, é que como à partida é uma orientação para dois caminhos distintos, o sentido de organização definida perde-se.
E penso que obviamente tem oscilações de sentimentos, quer físicos quer mentais.

Dá-me a ideia que é isso que a maior parte das pessoas tem mais dificuldade em assimilar.

Dizer que à partida todos temos uma predisposição para nos sentirmos atraídos por ambos os sexos não me parece descabido, afinal é a nossa vivência acaba por nos dar a entender o que realmente nos faz "tingle".

Por outro lado, pessoalmente, faz-me alguma confusão tentarem descortinar a bissexualidade com este tipo de 'estudos'. Porque as condições em que estes 'estudos' são desenvolvidos podem não ser 100% fiáveis, e o que advém daí, o resultado, pode ser interpretado como uma verdade maior que leva à criação de opiniões extremistas.

Pergunto, se os sensores e os filmes apresentados não condicionam a excitação, e logo invariávelmente condicionam os resultados?

Mas pronto, chegando a uma conclusão mais pessoal, a bissexualidade existe sim e invariávelmente com uma libertação sexual social mais pronunciada, o número de pessoas que se assume como bissexuais terá tendência para aumentar.

Quer pela aceitação e compreensão de que um homem pode ter uma energia mais feminina, e uma mulher uma energia mais masculina, como a assimilação da androgenidade, são conceitos que (embora não os querendo generalizar) ajudam à compreensão da bissexualidade.

E pronto... calo-me que já escrevi demais.

~~*
omlounge 14.07.05 - 3:21 pm


Sr. Almeida... se é heterossexual e só pode falar das mulheres heterossexuais... Porque razão vem comentar sobre a bissexualidade? E se nas mulheres heterossexuais o sexo é mais mental, está a dizer o quê? Que os homens não têm hipotálamo? E se os genes explicam muita coisa diga-me porque razão (se uma pessoa nasce heterossexual ou homossexual) não pode nascer bissexual? Os genes também explicam a agrassividade, a maldade e a falta de inteligência que grassa na humanidade?
M. 14.07.05 - 3:23 pm


M., tiraste-me as palavras da boca, só me consegui escancarar a rir a cada frase que sr. Almeida escrevia.
Para além de notar uma certa necessidade de afirmação da heterossexualidade (alguma coisa mal resolvida não?) notei que:
Portanto, és apologista da teoria que vem nos genes se somos ou não homossexuais? Estranho. Porque a maior parte dos homossexuais nascem de pais heterossexuais e que esses têm toda uma descendência hetero (teoricamente). Talvez uma mutação genética no caminho? Radiação nuclear, talvez?
Se acreditas nisso que o sexo NAS mulheres (seja qual for a diferença nas palavras, que já agora me poderias explicar qual era) é mais mental, então deixa-me dizer-te que estás muito enganado e que és muito ingénuo. As mulheres são tão animais sexuais quanto os homens, foram foi envolvidas por uma aura de sensibilidade e repressão sexual brutal ao longo dos tempos.
O desejo pelo outro varia (de género, de características, etc.), dependendo de vários factores condicionantes da tua vida. Não é estática a atracção sexual. A bissexualidade é mais um dos tabus deste século. Já o nome bissexualidade pode ser posta em causa, se só se considerar à partida que existem dois géneros...Enfim, isto daria pano para mangas.
pequenos_nadas 14.07.05 - 4:57 pm


Bem...
Não tive senão tempo de ler o post e os comentários na diagonal (ó Bifa, esta aprendi contigo)...

E como duvido que tenha tempo pra o fazer em breve, não queria deixar os meus pedaços de neurónio sobre a questão... correndo o risco de me fazerem falta. Mas quem dá o que tem, a mais não é obrigado! Portantes...

Tendo a concordar ali com a bifa. De facto, é nas pessoas que me revejo mais pelas quais me apaixono, umas vezes com carga sexual, outras sem!... Chamem-lhe o que quiserem...

Esta necessidade desinquietante de querer rotular tudo e todos em relação a cada aspecto do que nos forma como indivíduos, parece-me redutor... Já quanto ao entedimento de conceitos, vou-me pelo mesmo caminho, porque esta necessidade de definir conceitos, está presa com a necessidade de rotular e identificar... e nestas coisas de relações humanas dava mais jeito aprendermos a aceitar e a conviver com
o outro, mesmo não entendendo de que massa é feito... o que é importante é que nos sentimos bem com essa pessoa e nos faz bem estar com ela... sentimos um crescimento mútuo como seres humanos, que nos predispõe a contribuir para o bem individual e comum...
E depois, há a tal questão puxada ali pela Dótora label, de como a cultura nos marca e forma... mas também duvido que seja dificil, senão impossível, analizar o ser humano em bruto. Até porque aí, talvez já nem humanos fossemos... não é o ser social acima de tudo que nos faz humanos?
e mais, também concordo, que muitos de nós, por causa de rótulos e pressões sociais, acabamos por nos associar a estes rótulos, acabando assim também por nos castrarmos noutros domínios, porque é entendido que sendo uma vez o que nos declaramos, somos para todo o sempre!...
E não estamos nós em constante evolução... A vida é tão curta, neste pedaço
à beira-sol, e às vezes duvido que tenha tempo que chegue para me cumprir...

O sexo entre mulheres é mais mental?
umas vezes sim, outras nem por isso, é mesmo uma tesão que de mental pouco tem...

Irra... que já não me lembro de escrever tanto há bastante tempo. Devo andar mesmo inspirada...
mar 14.07.05 - 5:22 pm


E calou-se tudo? Pas pour mois...
mar 14.07.05 - 8:34 pm


Eu sei que já escrevi muito mas tenho de escrever mais umas coisinhas...
Relativamente ao que o Mário disse, acho que ele não se expressou da melhor maneira, mas a ideia original dele tem uma lógica (independentemente de estarmos de acordo ou não). De facto, as mulheres perspectivam o sexo de forma diferente dos homens (penso que independentemente da orientação sexual). Vários estudos indicam isso mesmo, as mulheres tendem a atender mais aos aspectos emocionais e de contexto e os homens tendem a usar apenas o corpo para se excitarem. Daí a velha história que aos homens basta uma revista e as mulheres controem verdadeiros romances. Se é assim para todas? Duvido! Mas para a maioria sim. Basta pensarem que muitas de vocês não conseguiram separar os aspectos emocionais dos aspectos sexuais. Para os homens isso é mais facil (novamente não para todos).
Agora também vos digo, isto é só o caminho da excitação, depois é igual para os dois.
Já em relação à teoria dos genes, isso já é outra história mais complicada que não me faz sentido, mas há que respeitar a opinião de todos.
E devo dizer-vos que se repararem todos estamos a comentar as vários orientações sexuais, por isso não podemos recriminar os outros...

Omlounge: relativamente à fidelidade dos estudos, uma das coisas mais complicadas da área pretende-se exactamente com o facto de estes estudos serem realizados em laboratório, quando, como tu bem referiste, a realidade é bem mais complexa e menos artificial, sendo a sua riqueza dificil de isolar em váriaveis de laboratório. Contudo (e não me referindo espeficimante a estes estudos), a maior parte destes estudos já nos dão muita informação sobre o funcionamento humano.
celtic 14.07.05 - 9:48 pm


Bem, vocês não comentam, fazem tratados! E sabe tão bem que assim seja!

É claro que não vou resistir a fazer um post sobre esta questão, mas não resisto já a sair em defesa do Mário, primeiro porque gosto de o ter por cá, a ele pessoalmente, segundo porque acho interessante que os heterossexuais também se pronunciem sobre esta questão...
Posso não concordar inteiramente com o que diz, mas sem dúvida é interessante termos por cá uma outra perspectiva do assunto...
Mas agora vou "marinar" um bocadinho mais sobre isto tudo e já cá volto!
Assumida Mente 14.07.05 - 9:57 pm


Olá menin@s!!! Sim, porque temos um menino que se revelou!... Andam mais por aí?...

Ok, ok, ok, ok, ok ... adoro estes temas!!!! Mente, és uma querida!

Vou esquematizar algumas ideias:

Gosto de mulheres por cima, por baixo, de lado, deitadas, de pé, sentadas e outras "posições" que agora não me vêm à ideia!

Gosto de homens por cima, por baixo, de lado, deitados, de pé, sentados e outras "posições" que agora não me vêm à ideia!

Gosto de saias p'ra cima, de calças p'ra baixo, sem saias, sem calças, com sapatos, sem sapatos, com soutien, sem soutien, com boxers, sem boxers!

Gosto de gelados, francesinhas, cerveja, coca-cola!

Gosto de jornais, revistas, livros!

Gosto de gostar!!!!!

E parece-me que chega!!!
Chocolover 15.07.05 - 12:53 am


E eu gosto de mim! Sou uma egossexual incurável!
Mente Assumida 15.07.05 - 1:01 am


Antes de mais, agradeço à Assumida Mente as palavras gentis com que se referiu a mim.

Sabia o risco que estava a correr em entrar neste debate. E só o fiz porque gosto do blog e porque entendi que o post era um convite para todos. E obviamente porque entendo que o assunto da bissexualidade não é restritivo a homossexuais e bissexuais. Seria o mesmo que dizer que quem nunca gerou uma vida não pode falar do aborto.

A diferença de "NAS mulheres". Eu estava só a precisar que na minha opinião as mulheres fazem sexo de maneira diferente dos homens, independentemente da sua orientação sexual, porque no teu primeiro comentário disseste: «Não concordo em nada com o que disseste Mário Almeida. Isso de que o sexo ENTRE mulheres...».

Uma correcção a uma coisa que disse: «Eu não acho que sejamos todos bissexuais à partida. Os genes explicam muita coisa. Podemos é ser heterossexuais ou homossexuais e tornarmo-nos bissexuais, o que é diferente.». Dá a ideia que eu disse que a partir dos genes não podemos nascer bissexuais. É óbvio que podemos. O que eu quis dizer foi que não nascemos todos.

Pareceu-me ver alguma relutância em aceitar que os genes tenham influência na sexualidade das pessoas. Não apenas uma discordância da minha opinião, mas uma negação da importância dos mesmos.
Por outro lado, dizer que nascemos todos bissexuais não é o mesmo que dizer que geneticamente nascemos todos bissexuais? Ou podemos nascer todos bissexuais e os genes não terem nada a ver com isso?
Lembro-me que há uns tempos numa entrevista à Judite de Sousa, um cientista, cujo nome infelizmente não me recordo, mas que está ligado à genética, deu como exemplo que o espírito de maternidade nas mulheres era um misto de cultura e genes. Se ele ao criar um embrião destruísse esse gene, aquela possível mulher (gene que ele também controla) nem quereria ouvir falar de crianças. Como podemos então achar que os genes estão "inocentes"?

É claro, embora isto seja outra discussão, que aceitar a influência dos genes implica obrigatoriamente aceitar que de certa forma as nossas acções já estão pré-determinadas. Que se somos assim ou assado é porque fomos feitos assim ou assado. Que se eu matar alguém então é porque tenho o gene de matar, se é que isso existe.
Eu também não gosto da ideia, e quero acreditar que tenho vontade própria. Mas mediante as descobertas que os cientistas fazem todos os dias, sou obrigado a aceitar que muito de mim já está escrito. E o que faz a diferença é a cultura, a moral, os valores familiares, o ambiente em que se cresce, etc.

Ia fazer o gráfico que me foi pedido mas a Chocolover já se adiantou.
Mário Almeida 15.07.05 - 1:40 am


Mente querida ... és uma egg sexual?! Agora deu-te para ser ovo?!
Assumida, faz-me um favor e tira-lhe os ovos do frigo, um dia destes ainda aparecem egg mente(zinhas)!!!
Chocolover 15.07.05 - 1:56 am


Menin@s, se pretenderem mais "gráficos" é só ligar pró 696 696 696 (custo da chamada 0,69 €)
Chocolover 15.07.05 - 1:58 am


E mar, eu não me calo!

Abaixo os calad@s!

Acima os calad@s!
Chocolover 15.07.05 - 1:59 am


Não me calo! Não me calo! Não me calo!

(É tão bom!!!! - variação da música "és tão boa" - poder irromper em casa alheia e prontoS! Esfrangalhar tudo!!!)
Chocolover 15.07.05 - 2:02 am


Ó Choco, eu dou-te a egg sexual! Agora és tu quem tem de começar a correr... e nem te vale de nada esconderes-te por detrás de uma burqa nem nas "profundezas" porque eu dou contigo em qualquer lado! Be afraid! Be very afraid!

[Mente a pegar no bastão de basebol e a dar corda aos sapatos]
Mente Assumida 15.07.05 - 2:31 pm


Eu sou sexolate!!! Oh yeah!

É o que está a dar!...
sara cacao 15.07.05 - 4:58 pm


Desabafo: depois disto tudo! Raios, ainda consigo provar que somos todos bissexuais(em bruto)!

Nunca vi um homossexual que não vacilasse com alguém do sexo oposto nem um heterossexual (por mais que negue!) que não vacilasse com alguém do mesmo sexo... É isto que me move! Desta forma, a hetero ou homossexualidade é apenas um reflexo da aprendizagem social... e, principalmente, pode mudar a qualquer momento da nossa vida com essa mesma aprendizagem!(não concordo com a particularização das emoções como li... mas sim com um conjunto de variáveis quase impossível de definir que definem uma das vertentes de "viver" a sexualidade). Afinal se somos uma coisa ao outra, porque há tantas mudanças ao meio da vida? Não creio que alguém esteja até aos 40 ou mais anos para se aperceber que é homossexual! Mas isto acontece constantemente! Nesta questão só a aprendizagem social me consegue apresentar respostas que me façam sentido...
No cúmulo da minha "teoria" chego a pensar que bi é quem tem consciência que pode ser qualquer coisa, a qualquer momento... os restantes vivem apenas o que são a cada momento (momento que pode ser sempre)...
E porque não estar relacionada com a perspectiva temporal de futuro... agora que penso pela primeira vez nisso...
Esta questão tem um mundo de hipóteses... apresentam-se é muitas possíveis e poucas prováveis...

- Hum... acho que fui um "bocadinho" vigorosa... mas penso mesmo assim...
AlmaAzul 16.07.05 - 5:41 am


AlmaAzul, de acordo. Mas mesmo assim parece-me excessivo dizer que não há homossexuais que não vacilam perante alguém do sexo oposto e que não heterossexuais que não vacilem perante alguém do mesmo sexo. Se empregaste a palavra "vacilar" no sentido de "colocar em questão a sua sexualidade" ou mesmo "sentir atracção sexual", posso dizer-te que julgo, em opinião absolutamente contrária à tua, que pouquíssimos serão os homossexuais e os heterossexuais que sentem o que descreves. Porque uma coisa é reconhecer que pode existir uma atracção estética (tudo o que é belo atrai a nossa atenção, independentemente do sexo), ou mesmo uma identificação emocional (penso que o uso da expressão "atracção emocional" pode conduzir a mal-entendidos), no sentido de descobrirmos que nos identificamos em termos de valores com uma outra pessoa, independentemente do seu sexo, e que apreciamos a sua companhia, mas outra coisa completamente diferente é questionar/alterar/fazer vacilar a nossa orientação sexual. Para tal, é necessário que haja atracção sexual (a orientação sexual tem necessariamente a ver com atracção sexual, ainda que não exclusivamente). E essa atracção sexual não me parece assim tão frequente para que possamos dizer, como dizes, que não há (tu dizes é que nunca viste) homossexual que não tenha vacilado perante uma pessoa de sexo oposto ou heterossexual que não tenha vacilado perante uma pessoa do mesmo sexo...

A sexualidade do ser humano é cheia de múltiplas nuances, mas mesmo assim há de tudo (com muitas e com poucas nuances).
Mente Assumida 16.07.05 - 2:28 pm


No meu caso particular, por exemplo, posso dizer-te que acho o corpo masculino belo, que não me incomoda nada ver nus masculinos, nem mesmo pornografia masculina, bem como o órgão sexual masculino, e que reconheço que há homens atraentes e fascinantes e que compreendo perfeitamente que haja mulheres que se apaixonam por homens assim (que se apaixonem por homens feios, porcos e maus já me faz mais confusão). Inclusivamente, já tive relacionamentos amorosos com homens, mas chegada à situação da iminência do contacto sexual (e aqui não me refiro propriamente à relação sexual com cópula, mas a todo e qualquer contacto de cariz sexual, dos quais, suponho, não preciso de fazer desenhos, porque vão mais ou menos no sentido do comentário da Chocolover), sempre senti uma espécie de barreira inultrapassável, que é precisamente a falta de interesse sexual - simplesmente, as minhas hormonas não "despertam" perante homens, e estar com eles sexualmente assemelha-se a estar com uma porta, porque provoca em mim exactamente o mesmo tipo de estímulo sexual... Isto para te dizer que já senti atracção emocional (lá volta a expressão dúbia) por homens. Mas se tivesses oportunidade de ver os meus ex-namorados (calma, não foram assim tantos quanto isso!), verias que todos são efeminadamente belos, com belezas delicadas, ou seja, muito perto dos padrões de beleza femininos (um deles usava e usa ainda os cabelos pelos ombros), embora tenham traços marcadamente masculinos (como, por exemplo, barba rija e outros pêlos à mistura ou músculos desenvolvidos).

Ou seja, reconheço que mesmo sendo lésbica (e sempre tive consciência de que o era), senti atracção e essa atracção foi o suficiente para potenciar envolvimentos emocionais com homens. Mas se me falares em "vacilar" perante homens, posso garantir-te que tal nunca aconteceu, não do ponto de vista sexual. Logo, a atracção sexual sempre foi inexistente e, como tal, nunca coloquei em causa a minha orientação sexual.
Mente Assumida 16.07.05 - 2:45 pm


Minha querida Mente Assumida: fico contente que ache necessidade de me explicar a diferença entre conceitos e rótulos, até porque eu posso não saber do que estou a falar, certo? Deixe-me ver se percebi bem: conceito é fino, inteligente, mentalmente elaborado, intelectualmente 'bem'; rótulo é negativo quando aplicado a coisas já por si negativas, como estas da bissexualidade, homossexualidade, etc.; porque aplicado ao vinho, por exemplo, já é positivo. É isso? Ai que bem que a menina se sai de vez em quando... Não ao meu gosto, claro, que me irritam as generalidades - mas não ligue porque são só algumas e muito de vez em quando. (Ai, adoro pegar-me consigo.)
Tangas 16.07.05 - 3:11 pm


Só mais uma perguntinha: que hei-se fazer com um conceito negativo sobre alguma coisa? É que, se como diz eles são positivos e os rótulos não, então não terei outro remédio senão deitá-lo para o lixo... Entrei em angústia, só pode!
Tangas 16.07.05 - 3:16 pm


Tangas, decerto já deve ter reparado que umas das coisas que mais gozo me dá é falar/discutir/arguir com outras pessoas, com o objectivo de enriquecer os meus conhecimentos (tenho noção, ao contrário do que a menina tem persistentemente insinuado nos seus comentários, de que ainda tenho muito para aprender, e tenho a humildade de o reconhecer).

Todavia, parece-me que para que possa haver diálogo é essencial que quando um interveniente no diálogo se dirige ao outro, continue a falar do mesmo tópico e não que distorça as coisas. Agradeço-lhe que se quer "pegar-se" comigo, pelo menos não distorça as minhas palavras, caso contrário será impossível o prosseguimento da conversa. Vejamos.

O que eu disse é que a bissexualidade não tem necessariamente que ser vista como um rótulo. Porque raio é que uma característica de alguém (a bissexualidade) há-de ser vista como um rótulo?

Se eu disser que sou caucasiana, lésbica, católica, destra... estou a usar rótulos? Ou estarei antes a utilizar conceitos que ajudam a definir quem eu sou?

Só que ambas bem sabemos que a palavra "rótulo" quando aplicada às pessoas tem conotações negativas. Eu não uso a palavra "rótulo" em relação a pessoas e não a uso precisamente porque entendo que do que se trata é de conceitos, definições, características e não de rótulos. Quem tem rótulos são as embalagens e o ser humano não é uma embalagem.

Se quiserem dizer que eu sou lésbica ou isto ou aquilo, podem muito bem dizer. Não me maça nada, desde que corresponda à verdade. São características minhas, que fazem de mim aquilo que sou.

Quanto aos conceitos negativos de que fala, parece-me que só tem uma coisa a fazer: clarificá-los. Porque em si, não há conceitos negativos nem positivos. Os conceitos descrevem coisas e essas coisas é que podem ser ou não positivas ou negativas. A verbalização de algo não é que faz dela negativa. Eu dou um exemplo. O conceito de homicídio será, aproximadamente (não tenho a pretensão de estar aqui a afirmar conceitos), a acção de matar alguém. Ora, não é a definição que é negativa. O que faz do homicídio algo de negativo é o facto de ele atentar contra a vida. Assim, o que tem a fazer em relação aos conceitos que diz negativos é, julgo, clarificá-los, para que se eles são vistos como definições de algo negativo, passem a ser vistos como definições de algo positivo.

Não tive a pretensão de lhe explicar a diferença entre conceitos e rótulos, até porque a menina não precisa das minhas explicações para nada - já toda a gente que lê este blog percebeu. O que procurei no comentário que lhe dirigi foi clarificar que neste post não pretendia discutir rótulos, mas sim conceitos (o que se entende por bissexualidade).

Por último, não há qualquer "generalidade" no que afirmei. Pelo menos, não aos meus olhos. Mas se quiser esclarecer, esteja à vontade. Pode ser que isso a ajude a ultrapassar essa sua... angústia.
Mente Assumida 16.07.05 - 4:42 pm


Tem razão, tenho mesmo de ultrapassar a angústia. Ufffffffaaaaaa! Já 'tá...
Tangas 17.07.05 - 1:48 am


Obrigadinhas.
Tangas 17.07.05 - 1:49 am


Não afirmo que não haja homossexuais que não vacilem* perante o sexo oposto... mas que eu não conheço nenhum. O que influencia isso não sei... provavelmente não será apenas uma variável. Mas parece-me que a sociedade tem um papel fulcral neste processo de identificação. E que é ela e as aprendizagens que fazemos que vão influenciar os nossos padrões sexuais. Tal como nos vão influenciar a sentirmo-nos atraídos mais por loiras do que por morenas... E também neste caso nada nos impede de nos apaixonar por alguém moreno....Sinceramente, não creio que isso seja geneticamente programado... Aesar de não descurar que os instintos biológicos influenciam os nosso comportamento.
Aquilo que tento dizer é que temos inicialmente a possibilidade de ser qualquer coisa, e que é desde muito cedo que a aprendizagem social nos leva a definirmo-nos de determinado modo... e como estamos em constante formação (eu creio) podemos mudar tanto comportamentos como atitudes ao longo da vida. Podemos ser homossexuais 50 anos e com essa idade nos sentirmos atraídos (vacilar) por alguém do sexo oposto.

* por vacilar entendo sentir atracção por...(eu e os meu dicionário pessoal ) no sentido de amor passional ( físico/cognitivo, não necessariamente sexual).

Que melga sou!...
AlmaAzul 17.07.05 - 6:01 am


Alma Azul, amor cognitivo??!!! Isso é muito à frente! (Estou-me só a meter-me contigo...)
Aí está algo que nunca consegui associar, amor e cognitivo, afinal passamos a vida a separar o cognitivo do emocional... verdadeiramente paradoxal!
celtic 18.07.05 - 11:33 am


Alma Azul, só mais uma coisa que queria perceber: quando falas em aprendizagem social é no sentido de Bandura ou de senso comum?
celtic 18.07.05 - 11:47 am


Meninas... mais um pouquito e estamos a discutir a pirâmide do Maslow, não ? Simplifiquem... a influência social é importante, mas não é determinante... Não nos ensina a gostar de uma mulher quando não temos essa predisposição...
M. 18.07.05 - 1:25 pm


M., nem mais! Se a orientação sexual fosse (apenas) induzida externamente, e dado que vivemos numa sociedade heterossexista, suponho que ninguém teria motivos para ser homossexual...

Daí que as teorias freudianas da bissexualidade à nascença me deixem um pouco apreensiva...

Vamos prosseguir a reflexão e a troca de ideias, que isto há-de ir ter a bom porto! Havemos de chegar a alguma conclusão!
Mente Assumida 18.07.05 - 3:41 pm


Aproveito para agradecer a tod@s a forma entusiástica como estão a aderir à "discussão". É muito gratificante saber que a blogosfera "vive" e que escolhe esta humilde "casinha" (leia-se, blog) para vir beber um copo de sangria e falar de assuntos menos triviais... e com que densidade se fala aqui!

Estou a ficar convencida e a culpa é vossa... Tenho o privilégio de receber em "casa" @s melhores comentador@s da blogosfera!

Um abraço apertado a tod@s!
Mente Assumida 18.07.05 - 3:42 pm


Celtic sente-se gratificada com o "melhores comentador@s da blogosfera" mas ainda não viu o copo de sangria. Onde é que ele pára?
celtic 19.07.05 - 10:42 pm


Celtic, my dear, o copo de sangria é virtual! Afinal de contas, estamos no mundo dos blogs!
Mente Assumida 20.07.05 - 2:12 pm


relativamente à sangria, bem que podiamos passar do virtual ao real...
celtic 20.07.05 - 10:35 pm

Comentários:
Olha, realmente, eu sou homem, me defino como "Bissexual" fiz o teste, em assistir um filme homosseuxal e um de Lésbicas, com o de Homossexual meu penis ficou ereto, quando coloquei o de lesbicas ele parou de ficar ereto... Comei a me masturbar e sentir prazer tanto quanto o de homossexual... Então sim, eu acredito em bissexualidade e acredito "Atração (Desejo) Não é opção". Obrigado ao site, comprovei que pra mim mesmo que bissexualidade existe : )
 
É simples, como um bisexual vou expor aqui como funciona em mim:
É como gostar de carne e vegetais.
Algumas pessoas são carnívoras, algumas vegetarianas.
Mas há quem goste dos dois, não é?
É claro que isto não é a das melhores das comparações.
No meu caso existe uma tendencia ao sexo masculino.
Eu conseguiria ter uma relação sexual prazeirosa com uma mulher.
Mas sentimental e em um nível sexual mais forte somente com os meninos.

Espero que tenha entendido!
Puffff!
 
Enviar um comentário


Somos altos, baixos, magros, gordinhos, extrovertidos, introvertidos, religiosos, ateus, conservadores, liberais, ricos, pobres, famosos, comuns, brancos, negros... Só uma diferença : amamos pessoas do mesmo sexo. Campanha Digital contra o Preconceito a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros. O Respeito ao Próximo em Primeiro Lugar. Copyright: v.


      
Marriage is love.


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

referer referrer referers referrers http_referer