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domingo, 26 de junho de 2005

É esta a nossa hora! 

Este ano teria descido convosco a Avenida!
Não tanto pelo orgulho, já se sabe. Não sinto, confesso, um orgulho particular em ser lésbica, como não sinto particular orgulho em ser mulher pelo simples facto de o ser… ou portuguesa, ou destra, ou morena... Orgulho espero sim um dia sentir, daqui a uns cento e setenta anos, quando, olhando para trás, puder dizer que fez sentido a minha vida... quanto ao resto, não consigo encontrar motivos de orgulho em características que me são inatas e para cuja existência em mim em nada contribuí.
Bem sei que o orgulho de que se fala não é bem esse, mas antes o de pertencer a um grupo de pessoas que, apesar de constante e reiteradamente discriminadas, vilipendiadas e mal tratadas, têm conseguido levantar a sua voz e clamar por mais direitos; é o orgulho de fazer parte de uma "comunidade" que, não contra ventos e marés, mas contra verdadeiras tempestades, tem tido a coragem de anunciar a sua diferença e pugnar por um tratamento digno. Conheço e reconheço até os argumentos, mas não me dobram... Definitivamente, está avariada em mim essa capacidade de, por osmose, sentir orgulho de louros que obviamente não são meus.
Por tudo isso não seria a bandeira colorida do orgulho que levaria Avenida abaixo. Levantaria, isso sim, e com fervor, a bandeira verde-esperança. Sim, porque estes são, reconhecidamente, dias de esperança, dias de mudança!

Não é que vão longe os dias em que a cor da Marcha era a cor da coragem, em que caminhar de bandeira às costas e cara erguida era oferecer o resto dos dias a uma luta pessoal contra uma sociedade que negava por completo a existência de homossexuais e calava as vozes que pudessem surgir, atirando-as cruelmente para a lista dos doentes a curar.
Não vão longe esses tempos, mas estão (e também isso é motivo de esperança) irremediavelmente ultrapassados! A batalha da visibilidade está inequivocamente ganha! A homossexualidade saiu da penumbra de bares escuros e sombrios para se instalar nos dias das cidades, nas capas das revistas, nas campanhas publicitárias, até já mesmo nas novelas e nas conversas políticas... Por muito que alguns tentem ainda fechar os olhos, a verdade que já não se consegue viver em sociedade sem se "tropeçar" na evidência de que o verbo amar nem sempre se conjuga entre géneros diferentes!
É agora, que a batalha da visibilidade está ganha que chega a nossa hora! Sinto, sinceramente, que os tempos que se avizinham estão para os direitos LGBT como Abril esteve para a liberdade (para os mais preciosistas, subtraia-se à comparação o PREC e tudo o que se lhe seguiu e atente-se apenas naquele momento supremo em que o povo sentiu que lhe foram arrancadas todas as mordaças)!
Agora que a homossexualidade está cá fora, que conquistou até lugares de destaque em parangonas, romances, bancos de faculdade ou corredores de muitos locais políticos, é a hora de falarmos todos e de falarmos a uma só voz, independentemente de todas as diferenças que inequivocamente nos separam, para fazermos ouvir bem alto a única coisa que todos queremos: os nossos direitos em geral e o direito ao casamento muito em particular!*
Acredito, convictamente, que se soubermos, todos nós, lutar por este único objectivo de modo coerente e concertado, não estarão longe os dias em que os laços jurídicos que me ligam à Mente poderão ser mais fortes que os meros laços corporativistas de uma mesma Ordem (consequência de termos a mesma profissão mas que, enquanto casal não nos dá quaisquer garantias!).
Há ventos favoráveis a soprar de Espanha, imagens que nos apoiam a entrar por essas casas dentro, uma Constituição do nosso lado e mentalidades em mudança! Se não for esta a nossa hora, então ela nunca chegará!
Bem sei que tudo isto poderá parecer conversa fiada, principalmente se tivermos em conta que todas as palavras aqui escritas o são por alguém que está assumidamente na penumbra. Julgo, porém, que a penumbra não me retira legitimidade para afirmar esta minha firme convicção de que está na hora de centralizarmos as nossas atenções num único objectivo: o direito ao casamento! Esqueçamos todas as inimizades, todos os conflitos e todas as diferenças que nos afastam e unamo-nos na luta comum pelo direito a celebrarmos um contrato que nos é vedado única e exclusivamente com fundamento na nossa orientação sexual!

E para que este texto não seja um mero aglomerado de exortações, vazio de concretização, aqui fica uma sugestão para que alguma Associação ou alguém que perceba um pouco mais destas novas tecnologias do que eu, agarre: porque não aproveitarmos o excelente veículo de informação que a Internet é e lançarmo-nos, desde já, numa iniciativa que não custa nada, e quem sabe pode gerar bons frutos? Porque não criarmos uma corrente de e-mail e encharcamos as caixas de correio electrónicas, por esse país fora, designadamente as caixas de correio da comunicação social, dos deputados da Assembleia da República, dos membros do Governo, dos candidatos a Presidentes de Câmara e dos magistrados judiciais, com a nossa reivindicação e com os motivos que nos dão razão?
Bem sei que pode não resultar, ou não dar em nada, mas se formos muitos a pedir a muitos para colaborarem connosco, talvez a iniciativa resulte, talvez os mails vão chegando... talvez vão sendo lidos... talvez vão dando que falar... talvez vão dando que pensar! Monetariamente não custa nada... e, quem sabe, pode ajudar. Eu por mim, ofereço-me, desde já, para colaborar na elaboração dos textos. Alguém se oferece para pegar na ideia?!...
Quem sabe, se a coisa resultar, talvez num ano breve desça já convosco a Avenida, bandeira verde-esperança concretizada, substituída pelas seis cores da alegria de simplesmente participar na comemoração de muitos aniversários de casamento… mas enquanto o verde é verde, que a Marcha não termine no fim de uma Avenida colorida de Lisboa!

* Sinto sinceramente (e tantos “sinceramentes” ao longo deste texto só servem para demonstrar o quanto este tema me faz fervilhar!) que é este o direito por que temos que lutar. Penso que colocar o assento tónico na adopção é desnecessário, por fazer suscitar susceptibilidades que, com a questão colocada do ponto de vista do casamento talvez fossem evitáveis. Não acham que é mais fácil convencermos os outros de que temos direito a amarmo-nos do que convencer os mais cépticos de que temos o direito a adoptar sem que sejamos sequer um casal?! A mim parece-me que primeiro temos que conseguir o menos para, depois sim, lutarmos, já em terreno firme, pelo mais!

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