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sexta-feira, 20 de maio de 2005

As razões 

O prometido é devido: impõe-se expor aqui as razões pelas quais eu ontem acordei assim. Os motivos que despoletaram tamanha alegria foram descobertos na leitura de duas notícias do Público sobre o papel das mulheres na sociedade portuguesa, uma no domínio partidário, outra no domínio científico.

Fiquei a saber que José Sócrates quer que o departamento das mulheres do PS seja "dócil". As mulheres socialistas vão a votos nos próximos dias 3 e 4 de Junho, para eleger a presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas (DNMS). Há duas listas candidatas, uma liderada por Sónia Fertuzinhos (que se recandidata ao cargo) e outra por Maria Manuela Augusto. Ao que parece, esta última é apoiada por Sócrates.
Ora, aqui, permito-me citar Maria António Palla, que teceu estas considerações sobre Sócrates. Palla afirmou que o secretário-geral do PS e Primeiro-Ministro português desvalorizou o trabalho de Fertuzinhos, que tem "o mérito incontestável de ter feito mexer aquele departamento, mas a cabeça altamente misógina de Sócrates não pode suportar isso".
Pois é, pois é. E é preciso lembrar que o DNMS não apoiou nenhum dos candidatos à liderança do PS e Sócrates não gostou... Continuou Palla: "Agora quer um departamento dócil, integrado numa linha que existe dentro do PS e que faz dele uma máquina eleitoral". Mais preocupante foi o que afirmou sobre eventuais pressões que estão a ser exercidas sobre as apoiantes de Fertuzinhos: "há mulheres a quem lhes tem sido transmitida a ideia de que poderão ser prejudicadas se votarem na lista A".
O meu gáudio reside nisto: ler que uma mulher teve a coragem de apelidar Sócrates de ter uma "cabeça altamente misógina" enche-me de orgulho. E isto não porque a afirmação se refira a Sócrates, mas porque se refere a um homem que constituiu um governo quase exclusivamente composto por homens, desconsiderando as mulheres socialistas e, por reflexo, as mulheres portuguesas. Desejo apenas que a candidata vencedora seja capaz de ter a coragem política que Sónia Fertuzinhos e as suas apoiantes demonstraram e continuam a demonstrar.


Depois deste regozijo, segui-se um outro. Fiquei a saber que ontem, um grupo de mulheres cientistas apresentaram a sua associação em Portugal: chamar-se-á Amonet, o nome de uma deusa do Baixo Egipto, geradora do vento do Norte, que soprava sabedoria nas mentes [;)] das elites e dos governantes.
Esta iniciativa será importantíssima para combater a invisibilidade de que as investigadoras científicas padecem no nosso país. Para ilustrar o que digo, reproduzo aqui um excerto com uma declaração da ecóloga Maria Rosa Paiva, catedrática da FCTUNL e uma das fundadoras desta associação: "As mulheres estão sub-representadas nas posições mais avançadas da carreira. A percentagem das que atingem posições de chefia é muito pequena. As mulheres perdem-se pelo caminho. É um desperdício grande de recursos humanos, porque investimos na educação de metade da população e depois ela desaparece, sublima-se".
Consultando a página da associação, fiquei a saber que "em 2003, as comissões de avaliação das licenciaturas de Ambiente e de Química (nomeadas pelo Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior) não tinham uma única mulher - apesar de, nestes campos, mais de 50 por cento dos docentes e investigadores serem mulheres. Quase todas as restantes comissões de avaliação de licenciaturas de áreas científicas apresentavam distorções inaceitáveis, na sua composição, relativamente a uma justa representatividade de mulheres", e que em Portuga só há duas reitoras, nas universidades de Aveiro (Maria Helena Nazaré) e Aberta (Maria José Ferro Tavares).
A Amonet foi criada por 16 investigadoras, quase todas catedráticas com o intuito de fomentar a participação das mulheres na ciência e tecnologia e aumentar a sua visibilidade, nomeadamente, através da realização de estudos sobre estas questões e a apresentação de propostas de diplomas, ou a alteração de legislação, para se obter igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. Entre os objectivos da associação contam-se a promoção do debate sobre a situação das mulheres cientistas, a divulgação dos seus direitos, a denúncia de formas de discriminação e o intercâmbio com outras organizações portuguesas e internacionais.
Os estatutos da Amonet prevêm que os homens cientistas possam tornar-se membros agregados, o que demonstra que esta associação não é só feminista, é igualitária.


Agoram digam lá se eu ontem não acordei com razões suficientes para me orgulhar de ser mulher?

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