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terça-feira, 21 de outubro de 2003

Como disse? 


As saudades que eu tenho do “Acontece”! Gostava particularmente daquela parte em que aquela Senhora muito bem apessoada, cujo nome não me recordo (amor, ajuda-me com a tua memória prodigiosa!) nos vinha dar alguns esclarecimentos sobre a língua portuguesa. Deliciava-me, não sei porquê, aquele tom tão maternal quanto condescendente com que perguntava: “Como disse?” antes de corrigir o erro.

É pois, nesse mesmo tom que me apetece perguntar:
Como disse, Hugo Almeida?"


1. Disse que não tem “qualquer tipo de asco ou aversão a quem possui opções sexuais diferentes das suas”. Acaso escolheu a mulher por quem se apaixonou? Acaso consegue racionalizar o amor e os impulsos? Acredite, caro amigo, a homossexualidade não é uma opção! Não quero generalizar e por isso falo apenas do meu caso: comecei a sentir-me atraída por mulheres muito antes de conhecer o termo “homossexualidade” e as suas consequências. Não se escolhe ser homossexual, simplesmente nasce-se homossexual!

2.Disse que não considera os homossexuais “’seres inferiores’ ou, tão inferiores que não sejam passíveis de crítica”? Mas então em que ficamos? Quanto mede afinal a nossa inferioridade? Qual a medida afinal da nossa fobia pela igualdade? Ou até onde vai a tão negada homofobia?

3. Disse que “muito mais do que saírem do armário, está na hora de esquecerem que existe ‘O Armário’.”? O.k., está combinado. Nós esqueceremos que existe armário quando o meu caro amigo conseguir partir um braço e esquecer que lhe dói ou quando conseguir ouvir o mesmo insulto dez vezes por dia e não responder. Temos acordo?

4. Disse que não nega que nós carregamos “um fardo muito pesado, sobretudo num país bafiento como o nosso” mas que nos cabe a nós “mais do que ninguém, erguer a cabeça.”? E, no entanto, quando o fazemos, quando transformamos a homossexualidade no tema principal de um blog e tentamos discuti-la com toda a frontalidade e honestidade, o caro amigo critica-nos por “transpirarmos uma atmosfera gay” ou por estarmos a criar um gueto… Simplesmente porque estamos a fazer aquilo que nos diz para fazermos: erguer a cabeça e falarmos daquilo que é efectivamente o nosso dia-a-dia… E lamentamos informar, mas o nosso dia-a-dia passa inequivocamente por todas estas questões que aqui têm sido focadas!

5. Como disse? “Complexo de vítima”? “Comunidade fechada”? Caro amigo, acredite que por aqui o que menos há é gente complexada ou fechada! Aqui apenas falamos de factos e pontos de vista… E, como facilmente constatará pela leitura integral deste blog, aceitamos aqui todo o tipo de pontos de vista, todo o tipo de perspectivas. Podemos falar maioritariamente sobre a comunidade LGBT, mas fazemo-lo conscientemente, porque entendemos que é necessário um espaço de debate sobre o tema… No entanto, não confundamos as coisas: optar por um tema não significa, de modo algum, tratá-lo de um modo fechado, como bem compreenderá.

6. Disse que “no caso do blogue Assumidamente, dá vontade de perguntar, por alma de quem?” E sugere “’Timidamente Assumidas’”. Confesso que gostei da sugestão! Gosto de ironias!... Foi aliás esse gosto pela ironia que me levou a escolher este nome para o blog e para mim própria, sendo que, na assinatura decidi substituir o advérbio pela frase. Sim, porque caso não tenha reparado “Mente” é uma das formas do verbo mentir! Minto por alma de quem? Ó caro amigo, por alma de todos aqueles que não conseguem compreender para além da sua normalidade!

7. Disse que “não há queixa desses bloguers (aqueles que falam de outras sexualidades, heterossexualidades) de serem tratados de forma discriminatória.”? Realmente nunca tinha pensado nisso! Agora que reparo, verifico também que não há queixa dos casais hetero serem tratados de forma discriminatória... Será que isso apenas se deve ao facto de eles não serem efectivamente discriminados?... Será?

8. Finalmente disse: “há uma falta de naturalidade no assumir da sexualidade?” E eu pergunto-lhe haverá uma falta de naturalidade no assumir da sexualidade ou haverá uma falta de naturalidade na forma como essa assumpção é encarada por quem a ela assiste? Dê-me um só exemplo de falta de naturalidade em todo este blog e eu deixarei de pensar que o Hugo Almeida é apenas mais um heterossexual a quem a homossexualidade não incomoda desde que não se fale nela, desde que ela não se manifeste, desde que ela não se assuma… nem sequer na penumbra de um blog como este!

Em jeito de conclusão, não pense Hugo Almeida, que neste post vai algum género de quezília pessoal. Se aproveito os seus comentários para transmitir aqui algumas ideias é porque ouço aquilo que diz saído da boca da esmagadora maioria dos meus amigos heterossexuais diariamente e lamento profundamente toda essa convicção, como se conhecessem profundamente aquilo de que estão a falar!
Não caiamos numa das maiores falácias de todos os tempos: falar daquilo que não conhecemos! Escolhamos as palavras certas para dizermos aquilo que pensamos e, acima de tudo, informemo-nos sobre aquilo que pensamos antes de proferir qualquer tipo de juízo sobre o assunto!

E quase que me apetece voltar ao “Acontece” para dizer: “Assim se fala em bom português!”

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