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quarta-feira, 30 de agosto de 2006

O papel da memória 

Entre algumas das peculiares características que reúno conta-se a "mania" (é mesmo uma "mania", ao ponto de estranhar bastante se não o fizer) de guardar todo o tipo de papéis e papelinhos.
Ainda hoje, por exemplo, a caminho do parque de estacionamento, uma senhora dirigiu-se jovialmente a mim e entregou-me um desdobrável onde se lia em letras gordas «A Vida Num Pacífico Novo Mundo». Está bom de ver: era testemunha de Jeová. Ora, eu, que muito respeito as crenças dos homens, todas as crenças de todos os homens, poderia simpaticamente ter recusado e seguido caminho. Mas não. Um estranho impulso apoderou-se de mim, movido pela cordialidade da abordagem e pela minha incapacidade de recusar informação sobre coisas que desconheço. Aceitei, claro. Mesmo assim, poderia simplesmente ter atirado o desdobrável na primeira papeleira por que passasse. Mas também não. Primeiro porque não passei por nenhuma papeleira, depois porque logo enfiei na cabeça a ideia de ler o seu conteúdo. Sou assim, leio tudo: dos rótulos dos detergentes e do dentífrico a graffittis de rua. Um vício, uma quasi obsessão. Guardei o papelinho no bolso. Tenho-o à minha frente, em cima da secretária, enquanto escrevo estas linhas. Já passei os olhos por ele. Não sei se o lerei a fundo, mas penso que não. Assim sendo, deveria deitá-lo fora, reciclando-o, obviously. Era, não era? Pois, 'tá bem, 'tá...
Lots and lots of paper. A lifetime of memoriesA verdade é que terei dificuldade em despedir-me deste papelinho. Tal como tenho dificuldade em despedir-me de todos os papéis que guardo. Quando a carteira ameaça a vomitar tickets de restaurantes e do multibanco, facturas disto e daquilo, talões de promoções e cartões de visita e um sem número de tralhas ao ponto de eu me auto-colocar em situações menos agradáveis (não sei se já vos aconteceu caírem estes todos que enunciei no chão da loja quando tudo o que vós querieis era tirar o cartão para pagar um par de calças - que, por sinal, até estavam em saldo -, mas acreditai que é profundamente dramático), lá me decido a deitar alguns deles no lixo (uma ínfima parte, claro), enquanto os outros vão para um dossier qualquer que assim fica recheado de inutilidades.
Inutilidades, pensava eu. Mas estava enganada. Graças a este meu estranho hábito/mania/whatever, sou capaz de reconstituir os últimos anos da minha vida (a coisa vem-se agravando com o avançar da idade). E alguns deles muito detalhadamente, com pormenores como saber onde almocei, que peças de roupa comprei, quanto paguei pelo lanche, quem esteve comigo e onde, o que comi ao jantar, que palavras de amor me foram escritas naquele dia (acreditem que foram muitas e eu guardo-as a todas no coração, muito para além do singelo papel).
Assim me dou conta que tenho a vida toda registada em retalhos de celulose. E isso é bom, muito bom. Porque se até tenho boa memória hoje, posso perdê-la amanhã (é verdade, é outra coisa que costuma agravar-se com a idade) e estes papéis ajudar-me-ão a recordar todos os momentos, bons e maus, desta minha estranha às vezes, mas ainda assim maravilhosa vida. E sempre é uma excelente herança para deixar aos filhos que continuo a fazer tenções de ter. Se eles vão achar graça à coisa ou não, logo se verá. Eu, pelo menos, dou-lhes essa possibilidade.

Sim, hoje deu-me para rever muitos desses papéis que trago aprisionados à memória. Digamos que tenho fortes motivos para isso.

:: Na grafonola, Des’ree canta You Gotta Be, uma espécie de lição de vida que tenho de memorizar e pôr em prática, seguindo instruções superiores. Exceptuando, obviamente, a parte do «read the books your father read» (Deus me livre!). Ora toca a aumentar o volume e cantarolar a letra bem alto, fáxavor! ::

Des'ree - You Gotta Be

Listen as your day unfolds
Challenge what the future holds
Try and keep your head up to the sky
Lovers, they may cause you tears
Go ahead release your fears
Stand up and be counted
Don't be ashamed to cry

You gotta be...
You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together
All I know, all I know, love will save the day

Herald what your mother said
Read the books your father read
Try to solve the puzzles in your own sweet time
Some may have more cash than you
Others take a different view
My oh my, yea, eh, ee

You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together
All I know, all I know, love will save the day

Time ask no questions, it goes on without you
Leaving you behind if you can't stand the pace
The world keeps on spinning, can't stop it, if you tried to
This best part is danger staring you in the face

Listen as your day unfolds
Challenge what the future holds
Try and keep your head up to the sky
Lovers, they may cause you tears
Go ahead release your fears
My oh my yea, ye, ee

You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together
All I know, all I know, love will save the day
yea, yea, YEA!

You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together
All I know, all I know, love will save the day
yea yea...

Got to be bold
Got to be bad
Got to be wise
Do what others say
Got to be hard
Not too too hard
All I know is love will save the day

You gotta be bad, you gotta be bold, you gotta be wiser
You gotta be hard, you gotta be tough, you gotta be stronger
You gotta be cool, you gotta be calm, you gotta stay together

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