Um blog assumidamente lésbico, assumidamente apaixonado, assumidamente cultural, assumidamente meu... assumidamente na penumbra!
Por Mente Assumida. Ano VII [desde 02/08/2003]
sexta-feira, 18 de agosto de 2006
As Filhas do Botânico
Esta semana tive o grato prazer de, em muito boa companhia, assistir ao filme As Filhas do Botânico (tradução portuguesa de Les Filles du Botaniste). Resumindo em duas penadas, o filme aborda a história do relacionamento entre Min (Mylène Jampanoï) - uma órfã que é indicada para realizar um estágio com Chen (Dongfu Lin), um botânico chinês de renome - e a filha deste, An (Li Xiaoran). Entre as duas jovens desenvolver-se-á uma relação de progressiva intimidade que as levará a descobrir sensações inesperadas e, na China dos anos 80, ainda proibidas.
Ao longo dos 105 minutos de duração do filme somos confrontados com dois retratos em paralelo. Por um lado, a autoridade e agressividade do botânico que, apesar de cuidar das suas plantas com enorme cuidado e carinho, trata a filha com desprezo e rudeza. A jovem, subserviente, não questiona nunca o ascendente que o pai tem sobre si, que atribui o facto de ele ser um homem muito reservado, mas não nega que se sente, naquela ilha luxuriante, aprisionada e infinitamente só; por outro lado, a delicadeza e a entrega total do relacionamento que se vai desenvolvendo entre An e Min que, começando como o encontro de duas almas que partilham a solidão e uma ambiência familiar austera (An, na casa-jardim botâncio, Min, no orfanato), rapidamente se transforma numa relação de companheirismo e amizade, para dar lugar a um amor puro e verdadeiro que já não se conforma com interdições nem separações.
É entre estes dois cenários que o filme se vai desenrolando e o espectador vai tomando consciência de como a identificação entre estas duas personagens, em circunstâncias tão adversas como estas, vai desde o melhor - digamos assim - ao pior. De facto, Min e An estão juntas na dor e na felicidade e por isso os laços que nascem entre ambas se revelam indissolúveis. De resto, As Filhas do Botânico não deixa de nos agitar a mente ao caracterizar a China dos anos 80 (uma China bem recente, portanto) onde a homossexualidade continua a ser identificada como uma doença e a sua vivência proibida pelo Estado, sendo punida com penas muito severas (se bem que, neste contexto, qualquer pena é severa).
A somar a tudo isto, não deixa de ser curioso que Dai Sijie, realizador e co-argumentista deste que pode (apesar de ser uma produção francesa e canadiana) ser considerado um exemplo de cinema asiático, venha de encontro à aposta do realizador Ang Lee em 2005, com o filme Brokeback Mountain, no que tange à abordagem da temática homossexual. Será caso para dizer que sopram novos ventos cinematográficos da China?
Destaque pessoalíssimo, ainda, para a brilhante (se bem que um pouco ocidentalmente estilizada) fotografia e para a excepcional banda sonora. Nota negativa para o templo apresentado no filme (muito pouco chinês e muito mais vietnamita do que o que seria desejável) e para a tradução portuguesa da moeda chinesa, que é o Renminbi e não o Yen, como erradamente se legendou.
Depois da estreia em exclusivo no Cinema King, em Lisboa, o filme encontra-se (ainda, espero!) em exibição nos Cinemas Medeia do Shopping Cidade do Porto, com sessões às 14h30 e às 18h45 e na sala 1 do Cinema Quarteto, em Lisboa, com sessões às 14h30, 16h45, 19h00 e 21h45. Para @s fans do cinema asiático, recordo ainda que ontem estreou o filme Sonhar Com Xangai (tradução portuguesa de Quing Hong, vencedor do Prémio de Júri doi Festival de Cannes em 2005) que, por enquanto ainda só pode ser visto em Lisboa, na sala 2 do Cinema King (sessões às 14h15, 16h45, 19h15, 21h45 e 00h15). Aviso ainda @s interessadas (isto é especialmente para si, Miss Choco) que Imagina Só (tradução portuguesa de Imagine Me & You) estreou ontem e já pode ser visto um pouco por todo o país. Caso tenha oportunidade de assistir a este filme, escreverei aqui umas quantas linhas sobre o assunto.
De resto, mantenham-se a par das novidades cinematográficas, literárias e sonoras através da barra lateral do Assumidamente, que já está actualizada desde ontem. :)
ACABAR COM A VIOLÊNCIA SOBRE AS MULHERES, CONTROLAR AS ARMAS!
O IMPACTO DAS ARMAS NA VIDA DAS MULHERES
Inúmeras mulheres e raparigas foram alvejadas e mortas ou feridas em todos os cantos do mundo. Muitos milhões vivem persistentemente com receio de serem vítimas de violência armada. Dois factores chave são os potenciadores destes abusos: a proliferação e uso generalizado de armas de pequeno porte e o profundamente enraizado sentimento de discriminação contra as mulheres. A violência armada contra as mulheres não é inevitável. Em muitos países as mulheres tornaram-se forças poderosíssimas em prol da paz e dos direitos humanos no seio das suas comunidades. Este tipo de acções e campanhas demonstram que as mudanças reais podem ser eficazes e que as vidas das mulheres podem ser mais protegidas.