segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
O futuro do passado
As Três Idades do Homem (1940), Salvador Dali
A paisagem mostra três bustos de homem em diferentes estádios da vida: o homem velho, o adulto e a criança.
Vê-se ainda a cidade de Port Lligat por entre os arcos de ruínas de Ampurias.
E, de repente, tenho também dezasseis anos e sorrio entregue a amizades inquestionavelmente para a vida, a projectos únicos e que, cremos todos, marcarão, para sempre, os jovens desta cidade... sorrio, e o Douro reflecte o primeiro brilho de um olhar apaixonado... sorrio e despertam em mim todos os sonhos, todas as ânsias, traça-se em mim, bem definido e claro, o futuro especial da missão que me foi dada... sorrio a alguém que me diz que tudo aqui é perfeito... E, de repente, é mesmo!
E, de repente, tenho vinte anos e já não é ao Douro que sorrio mas ao Mondego, e já vem com Amor o brilho da paixão... sorrio e a amizade é já chão e comunhão... sorrio e sinto, ao som da guitarra, que o futuro são todas as possibilidades... sorrio e fecho os olhos enquanto o trovador de capa traçada na noite me sussurra ao ouvido que vivo um sonho... E, de repente, vivo mesmo!...
Pois é, estão cá todas as idades... todas menos uma: a presente!... E isto porque me recuso a reconhecer no presente o futuro que era nas idades que ainda sou! Assusta-me sentir que o futuro que fui é, afinal, tão só isto! Custa-me, acima de tudo, compreender, onde foi que, de repente, o que julguei ser presente se tranformou em passado...
E, no meio do meu síndrome Peter Pan, dou por mim a perguntar-me se as outras pessoas também serão assim: se os mais cinzentos dos homens também sentem o pulsar do ventre materno, quando ao deitar, dobram os joelhos e entrelaçam os braços como antes do seu primeiro natal... se as mais sérias mulheres recordam ainda, nos almoços de negócios ainda mais sérios que elas, com os sabores das comidas das avós, os sorrisos das casas cheias de primos e Amor... se todos os seres austeros com que me cruzo, sentem ainda nas veias, o pulsar da adrenalina dos sonhos da adolescência...
Adivinho a resposta pelas palavras iguais com que me cruzo por essa blogosfera fora... E, no entanto, não consigo deixar de me sentir tentada a acreditar que o meu presente é tão só e ainda o passado das idades que em mim não se expiraram e que o futuro, será ainda lá longe, onde as circunstâncias permitirem que o presente seja o que hoje quero para o futuro...
... Bem, mas isto sou já eu a divagar. O que queria mesmo dizer-vos era que fossem ler o post do Guitarrista, que, esse sim, está excelente!
ignorantia... eu sei bem o que fazer com impressões idênticas: ajudam-me a manter o ritmo da respiração quando tudo à volta parece desmoronar-se ;-)
Marriage is love. |