sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
Mozart
Johann Chrysostomus Wolfgangus Theophylus Mozart
27 de Janeiro de 1756 - 5 de Dezembro de 1791
Em 1984, Milos Forman realizou Amadeus*, um aclamadíssimo filme (vencedor de oito Óscares) que pretendia retratar a vida do compositor de um prisma antes não abordado: um Mozart mimado, imaturo, atrevido e, acima de tudo, atraiçoado pela inveja de Salieri (interpretado magistralmente por F. Murray Abraham, que com este papel arrecadou o Óscar e o Globo de Ouro na categoria de Melhor Actor Principal), que no filme é apontado como o responsável pelo envenamento do compositor. Segundo rumores, António Salieri, o compositor da corte preferido do imperador José II, teria sido atormentado pela inveja, pois acreditava que Wolfgang era, nada mais, nada menos, do que "a voz de Deus". Embora não haja indícios concretos da ligação de Salieri à morte do génio, a verdade é que o imperador ordenou o internamento de Salieri num hospício, onde aquele permaneceu até ao fim dos seus dias.
Página manuscrita da Abertura de Die Zauberflöte,
a última ópera composta por W.A. Mozart, em 1791
Mas Mozart é também caricaturado como sendo imaturo. Nada mais longe da verdade. Wolfgang rompeu com as barreiras do seu tempo, em que os compositores não passavam de assalariados dos nobres, do clero ou da própria corte. Ousou preferir sobreviver na luz sem a protecção do Arcebispo de Salsburgo do que viver no explendor mas na sombra do seu mecenas. À época, nenhum músico que pretendesse assegurar uma vida minimamente cómoda teria tido a coragem de tamanha façanha: simplesmente, havia convites que não podiam ser recusados e autoridades que não deveriam ser desafiadas. Quando Wolfgang pediu permissão ao Arcebispo Colloredo para viajar, em 1771, sabia que arriscava perder o lugar que tinha na orquestra, o que veio, de facto, a acontecer.
O jovem Mozart estava consciente de que o seu talento imenso não deveria ficar enclausurado nas paredes de um palácio, mas antes lhe permitiria alcançar o triunfo em qualquer parte do mundo, em qualquer sala de espectáculos, no salão das cortes que muito bem entendesse visitar. E assim fez, rompendo com o estilo de vida que a profissão lhe teria reservado se Mozart fosse um compositor "normal".
Mas estava longe de tal. Não só a sua precocidade como a sua incomparável capacidade de trabalho (não há nenhum compositor em toda a história da música ocidental que tenha escrito o mesmo número de obras em igual número de anos) fizeram dele um prodígio excepcional. Mozart foi e é ainda hoje um compositor singular.
Para assinalar o aniversário do seu nascimento, a Casa da Música e o Coliseu do Porto prepararam um programa especial que pode ser consultado na agenda cultural, na barra lateral. Quam tiver ouvidos, ouça - porque vale mesmo a pena ouvir Mozart. E para que a data não fique esquecida, toca na grafonola das Mentes a ária Die Vogelfänger bin Ich ja, uma das minhas preferidas da ópera Die Zauberflöte, na voz do tenor Gerald Finley, acompanhado pelos English Baroque Soloists sob a direcção de Sir John Eliot Gardiner.
* O filme passa hoje, cerca das 00h00, na RTP.
Marriage is love. |