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segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Há palavras que nos beijam * 

Um hino a um amor maior. O nosso.


Há uma música sorrateira em todas as minhas manhãs. Levanta-me os lençóis enquanto ainda estou a dormir, espreita prudentemente para o outro lado da cama, para se certificar que a minha Mente não dá por nada, escala a almofada sem um único ruído e depois, imparável, lá me entra ouvido dentro, sem cerimónias, sempre diferente e sempre com vontade de se demorar.

Hoje não foi excepção. Acordei com o som da chuva a cair lá fora e a duplicar o espaço vazio que tinha ao meu lado. Voltei-me na cama a gozar a preguiça de Domingo. A volta ainda não estava completa quando ela surgiu, madrugadora e pontual... como sempre! Desta vez trazia consigo o Rodrigo Leão, a sussurrar-me cá dentro:


"Hoje o céu está mais azul, eu sinto"




Lá fora a chuva caía com cada vez mais intensidade. Não fora o telhado arranjado no fim do Verão e não me sentiria segura ali, naquela cama enorme e vazia... E a minha cabeça a dizer-me que o céu estava mais azul! Graças a Deus tenho muita confiança na minha sanidade mental, por isso soube que virando-me para o outro lado a música desapareceria e outra mais à época viria em sua substituição, nem que fosse a "chuva no telhado, vento no portão", é verdade que é pirosa, mas ao menos é adequada! Mais uma volta na cama...


"Fecho os olhos, mesmo assim eu sinto"


Não tinha resultado! A música ali continuava, de pedra e cal, comodamente instalada no meu subconsciente. Música de Verão em manhã de Inverno! Que chatice! Há lá coisa mais nostálgica que recordar o calor daqueles passeios de fim de tarde à beira mar numa manhã gelada como esta? Ainda por cima dei uma volta na cama maior do que a que tinha programado e vim dar à parte fria da cama!


"o meu corpo estremecer"


Esquecida que estava já da tua ausência tinha tentado encontrar os teus braços quentes... mas caí nos lençóis gelados. Regressei ao meu cantinho, que as manhãs de Inverno não dão para grandes passeios por uma cama solitária. Na falta do teu abraço abracei-me a mim. Talvez devesse dormir mais um pouco, aproveitar a hora a mais que este dia nos ofereceu, talvez quando voltasse a acordar o frio fosse menos frio e a tua ausência menos dura. Fechei de novo os olhos...


"não consigo adormecer"


Estranho... eu que sou a pessoa que conheço que mais gosta de dormir, já estou aqui às voltas há não sei quanto tempo, sem conseguir agarrar um sono que nunca me foge! Abraço-me com ainda mais força, quase até me magoar. Quero que o tempo voe e que pare no exacto instante do teu regresso. Sei que não será assim, sei que em breve estarás ao meu lado, mas que em breve também terás que partir... cansam-me as partidas. Cansa-me sobretudo a frequência, a constante despedida... corrói-me a escassez dos minutos contigo.


"Nem o tempo vai chegar
para dizer o quanto
eu sinto
você longe de mim
é uma espécie de dor
"


Dou por mim a abraçar-me com demasiada força. Quase me magoei no braço de tanto me apertar. Sinto a tua falta... Talvez seja tão piroso como a tal música da "chuva no telhado" dizer que sinto a tua falta. Mas sinto! Sinto a tua falta, sinto-a agora também aqui neste braço pisado de tanto te buscar... Sinto tanto que até dói!

Por momentos consigo parar o pensamento que já ia alto. Regresso à minha cama e a esta manhã de chuva. O Rodrigo Leão continua a insistir:


"Hoje o céu está mais azul eu sinto.
Pois sinto."


Já conheço estas músicas sorrateiras. Nem vale a pena insistir! Bem que pode haver uma tempestade de neve, gelo e trovoada como não há memória neste planeta, hoje, dentro da minha cabeça o céu estará mais azul! Nem vou contrariar. Canta para aí, insensível, que nem sequer queres saber da minha nostalgia pelos dias solarengos de Julho!


"Olho à volta, mesmo assim
eu sinto
que este amor vai acabar
e a saudade vai voltar
"


Ah isso é que não! O amor não vai acabar coisíssima nenhuma, que disso quem sabe sou eu e mais ninguém... Mas que se vai adiar vai... como sempre. Já tive tempo para te dizer o quanto me custa adiar continuamente o nosso amor? O quanto custam as conversas adiadas, as palavras apressadas, os abraços atrasados? Não?


"Nem o tempo vai chegar
para dizer o quanto eu sinto
você longe de mim
é uma espécie de dor
"


O braço já não dói tanto. Dói mais a tua ausência – mais uma frase para a colecção da música do "vento no portão"! Dói sobretudo saber que te terei por instantes para logo te perder. Doem estes caminhos desencontrados de constantes cruzamentos e bifurcações. Dói dar-te a mão e logo largá-la para percorrer sozinha caminhos que já não fazem sentido sem ti. Dói não saber quando poderemos seguir as duas um único caminho, qualquer que ele seja, sem mais adeus, sem mais partidas, sem mais dias de silêncio forçado!


"Nem sei o que esperar/ dessa vida fugidia"


Vou ter mesmo que me levantar! Com o pensamento voou também o tempo e o dia já vai ficar curto para tudo o que tenho para fazer. Sei que me vou levantar e esta voz vai continuar a cantar, dentro de mim, que "o céu está mais azul". Sei também que vou tentar abstrair-me da música e da saudade, vou tentar, como sempre, fingir a felicidade longe de ti, fazer tudo o que tenho que fazer, ocupar o tempo para fazer chegar mais depressa a nossa hora. Mas sei também que nem a música nem a saudade vão desaparecer, e que a cada novo acorde que soe dentro de mim vou sentir mais presente a tua ausência...


"não sei como explicar
mas é mesmo assim o amor
"


*Para que este post faça o mínimo de sentido, aqui vai a letra da música "Rosa", do Rodrigo Leão:

Hoje o céu está mais azul,
eu sinto
fecho os olhos mesmo assim
eu sinto
o meu corpo estremecer
não consigo adormecer

Nem o tempo vai chegar
para dizer o quanto eu sinto
você longe de mim
é uma espécie de dor.

Hoje o céu está mais azul eu sinto
Pois sinto
Olho à volta, mesmo assim
eu sinto
que este amor vai acabar
e a saudade vai voltar
nem o tempo vai chegar
para dizer o quanto eu sinto
você longe de mim
é uma espécie de dor
nem sei o que esperar
dessa vida fugidia
não sei como explicar
mas é mesmo assim o amor"



Postado pela Assumida Mente há precisamente um ano. Repescado por mim do baú dos arquivos. Porque ao seu lado todos os dias o meu céu está um bocadinho mais azul.
Sou ou não sou uma mulher de sorte? ;)

* Verso de Alexandre O'Neill (1924-1986).

Comentários:
Sim... :-D Espero que tenha sido um ano bom para encurtar espaços e distâncias e aumentar o tempo dos abraços. Fico - eu que agora reaprendo a estar sozinho - com uma nostalgiazinha de recordações de outros tempos. Desejo-vos o melhor do mundo. Que a vida vos dê o que desejam as duas, e vos surpreenda com o que [de tão bom] não se lembraram de desejar, que vos seja generosa e abundante a vida em comum e a vida de cada uma. Que não deixa de existir, não se esqueçam. Um beijo amigo, nuno.
 
A Guini bem me disse que o Amor por aqui estava..... bem, estava como deve de estar, não é minhas caras?

Toda a felicidade do mundo. É o que vos desejamos deste canto. :)
 
v-e-l-ü-t-h-a, muitíssimo obrigada pelas tuas palavras generosas! É precisamente nessa consciência da individualidade - que as nossas opiniões quase antagónicas não nos deixam de recordar a cada momento - que está o nosso segredo!... Que os desejos que nos deixas se cumpram também em ti! Um abraço!

Scorpio, pois está claro que está! Muitas felicidades também para vocês!
 
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