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sexta-feira, 10 de junho de 2005

10 de Junho - Dia de Camões 

Aquele mover d'olhos excelente,
aquele vivo espírito inflamado
do cristalino rosto transparente;

aquele gesto imoto e repousado,
que estando n'alma propriamente escrito,
não pode ser em verso trasladado;

aquele parecer que é infinito
para se compreender de engenho humano,
o qual ofendo em quanto tenho dito,

me inflama o coração dum doce engano,
m'enleva e engrandece a fantasia,
que não vi maior glória que meu dano.

Oh bem-aventurado seja o dia
em que tomei tão doce pensamento,
que de todos os outros me desvia!

E bem-aventurado o sofrimento
que soube ser capaz de tanta pena,
vendo que o foi da causa o entendimento!

Faça-me, quem me mata, o mel que ordena;
trate-me com enganos, desamores;
que então me salva, quando me condena.

E se de tão suaves disfavores
penando vive üa alma consumida,
oh! que doce penar! que doces dores!

E se üa condição endurecida
também me nega a morte por meu dano,
oh! que doce morrer! que doce vida!

E se me mostra um gesto brando e humano,
como que de meu mal culpada se acha,
oh! que doce mentir! que doce engano!

E se em querer-lhe tanto ponho tacha,
mostrando refrear o pensamento,
oh! que doce fingir! que doce cacha!

Assi que ponho já no sofrimento Luiz Vaz de Camões (1524?-1580)
a parte principal de minha glória,
tomando por milhor todo o tormento.

Se sinto tanto bem só na memória
de vos ver, linda Dama, vencedora,
que quero eu mais que ser vossa a vitória?

Se tanto vossa vista mais namora
quanto eu sou menos para merecer-vos,
que quero eu mais que ter-vos por Senhora ?

Se procede este bem de conhecer-vos
e consiste o vencerem ser vencido,
que quero eu mais, Senhora, que querer-vos?

Se em meu proveito faz qualquer partido,
só; na vista duns olhos tão serenos,
que quero eu mais ganhar que ser perdido?

Se meus baixos espritos de pequenos,
ainda não merecem seu tormento,
que quero eu mais, que o mais não seja menos?

A causa, enfi, m'esforça o sofrimento,
porque, apesar do mal, que me resiste,
de todos os trabalhos me contento;
que a razão faz a pena alegre ou triste.



Luiz Vaz de Camões (1524?-1580)

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