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domingo, 27 de junho de 2004

Uma Marcha a Preto e Branco 

Sentei-me no computador. Já sabia todas as palavras que iria usar. Faltava apenas transferi-las da mente para o teclado e daí para a net…
Não vi nada nas notícias ontem sobre a Marcha, apenas uma nota de rodapé num bloco informativo tardio da SIC, o suficiente para saber que se fez. "Fez-se - pensei - e só o ter sido feita já é uma vitória!".
Por isso vinha aqui determinada e decidida a deixar uma palavra simultaneamente de apoio, incentivo e agradecimento a todos quantos tornaram a Marcha possível.

Antes de abrir o bloggar porém, decidi fazer uma pequena ronda pelos sites de alguns jornais da nossa praça, para ver se diziam algo sobre o evento. Confesso que ainda estou irritada com o que vi e li! Quase nenhuma referência às tão propagadas ideias que cada uma das cores do arco-íris significava, quase nenhuma nota sobre as razões de luta… e as poucas que vi vinham em fim de página, estilo nota de rodapé. As parangonas essas ficaram reservadas para uma lavagem de roupa suja por causa da organização, feita com água jorrada de bandeiras políticas!

Quem me lê sabe que normalmente sou contida nos meus comentários, e sabe também que respeito e admiro ao máximo todos aqueles que dão a cara por uma causa, principalmente se essa causa for a causa LGBT, pelas lutas adicionais que sempre lhe estão associadas. Mas sinceramente, desta vez, não consigo outro registo de discurso senão este:

I

Meus senhores (entenda-se este vocativo como deve ser entendido, um vocativo genérico para os activistas em geral, mas para ninguém em particular), já alguma vez pararam para pensar o que é isto da causa LGBT? Quais os seus objectivos? Quais as suas necessidades?

II

Meus senhores, acham verdadeiramente que, perante tais objectivos, faz sentido existir uma panóplia (para não lhe chamar parafernália) de associações LGBT tão grande como a que existe no nosso país (não vale a pena o argumento de que noutros países também é assim, os maus exemplos nunca foram bons argumentos!)? O que ganha a causa com tamanha dispersão de esforços e recursos? Sabem o que ganha? Nada!!! Pelo contrário, perde credibilidade, perde prestígio e perde sentido. Acham verdadeiramente que alguém vos levará a sério na vossa luta pela aceitação da diferença, quando no seio das vossas associações não se aceita a diferença, quando à mínima contrariedade decidem espartilhar-se e formar mais uma associação?!

Obviamente é compreensível e, mais do que isso, defensável, que as atenções não se foquem todas num único alvo ou numa forma de actuar. Obviamente que uma iniciativa como a "rede ex aequo" (que, sem qualquer receio de ser apelidada de tendenciosa excluo de todo este discurso, porque, resulta bem clara a distanciação que a associação mantém de todas estas "lutas paralelas") faz sentido, porque se focaliza nos jovens; assim como faz sentido que exista uma área de actuação mais atenta às especiais exigências e interesses das lésbicas, ou outra dos gays ou dos transgéneros, e outra que dê uma maior atenção à intervenção política, e outra à intervenção social, e outra à visibilidade nos media…. Mas tudo isso, desculpem que vos diga, só faz sentido enquanto partindo de um tronco comum, de uma única raiz e com um único objectivo!
É claro que não estou aqui a fazer a apologia da manada. É claro que não somos todos obrigados a pensar da mesma forma, a termos os mesmos gostos e interesses, ou a mesma cor política, simplesmente porque temos a mesma orientação sexual! Obviamente que não! Mas somos isso sim, e vocês, caros activistas, mais do que ninguém, obrigados a aprender a aceitar, tolerar e conviver com todo o tipo de diversidades, sob pena de terem o vosso discurso minado à partida pelo vosso próprio comportamento!
Nunca compreendi, e ainda hoje não compreendo a razão de ser de tamanho número de associações LGBT! Se alguém me souber abrir os olhos agradeço! Até lá ficarei sempre com esta firme convicção de que tudo seria muito mais fácil, mais produtivo e mais visível se existisse uma única associação dívida em diferentes áreas de intervenção!

III

Meus senhores, caros activistas, o vosso trabalho merece-me obviamente todo o respeito e mais do que isso, o meu agradecimento. Porque tenho a nítida convicção de que se um dia finalmente sair da penumbra e encontrar um mundo que me aceite em todas as minhas diferenças o deverei muito mais a vós, ao vosso trabalho e aos vossos sacrifícios do que a mim própria. Nunca deixarei de vos reconhecer esse mérito e de vos render a minha homenagem por isso.
Mas os méritos têm também o reverso da medalha, a responsabilidade! A responsabilidade acrescida de quem representa uma massa anónima, silenciosa e, mais do que isso, muito muito muito heterogénea, composta de pessoas de diversas etnias, credos, religiões, convicções políticas, idades, culturas e interesses… Mas acreditem, meus senhores, se essas pessoas quiserem fazer valer as suas etnias, credos, religiões, convicções políticas, idades, culturas ou interesses, elas têm muitas e diversas formas de o fazer, e muito facilmente… Não é a vocês que vos cumpre esse papel, a vós é-vos pedido simplesmente que façam essa enorme massa silenciosa ouvir-se numa única questão: a aceitação social da sua orientação sexual. Tão só e simplesmente isso (se é que isso tem alguma coisa de simples) sob pena de colocarem em causa todos os passos em frente já dados.

...


É uma pena que para a História, desta Marcha do Orgulho fique apenas a memória desta vergonhosa cisão que existe no seio do activismo LGBT português… e que aquela que prometia ser uma marcha colorida acabe assim, numa triste mancha preta e branca.

Ah, e porque, apesar de tudo, acredito que a Marcha em si deve ter sido muito mais do que aquilo que os jornais dela disseram, e porque sei que existiram pessoas que estiveram desde o princípio empenhadas em que esta Marcha se fizesse, sem qualquer outro objectivo que não o da própria marcha: tornar visível a nossa existência e fazer ouvir os nossos interesses, as palavras que tinha inicialmente guardadas para este post não podem deixar de ser ditas, agora com ainda mais calor: obrigado por acreditarem, obrigado pela vossa coragem e pelo vosso estoicismo! É óbvio que fazer melhor é sempre possível, mas fazer só por si é já uma conquista! Por isso, apesar dos contratempos externos e internos, nunca vacilem, porque a tal "massa" pode ser silenciosa mas está muito atenta e com muita esperança nos vossos passos!

sábado, 26 de junho de 2004

Portugal, que futuro?! 

Sou assumidamente anti-Durão Barrroso. Goodbye my love, goodbye!!!Sou-o desde sempre. Porque não partilho as suas convicões, não concordo com as suas políticas e não inspira em mim a mínima confiança. Ainda assim, desta vez, se aceitar ir para Presidente da Comissão Europeia não critico. Qualquer pessoa na sua posição faria exactamente a mesma escolha. Entre ficar a comandar um barco que se está a afundar e onde a tripulação apupa de cada vez que se cruza consigo ou fazer as malas e ir passar umas férias à Europa, com direito a tratamento VIP e todas as mordomias, a opção só podia ser mesmo uma.
Portanto, esqueçamos o cherne! Foi peixe que já rumou para outras costas... E no entanto, ainda aqui fica muito mar, muita água, um País! Hoje quando vi o telejornal pensei que estavamos de novo no 1 de Abril e era dia das mentiras! O Pedro Santana Lopes?!! Mas então é assim, vai-se ao cardápio laranja e escolhe-se, sem mais? Sem que o povo vote, escolha, se manifeste?! E mal me pergunte, o Pedro Santana Lopes não foi aquele a quem o próprio Durão mandou um recadinho no início do último Congresso Laranja (não vão lá tantos dias assim), a dizer: "ó menino rebelde, veja lá se se porta bem senão perde o direito a ficar aqui na mesa dos grandes"?!...

Já muito foi citada hoje a Constituição (não, não ainda a Europeia), mas houve um artigo que ainda não vi por aí, o:

Artigo 185.º
(Substituição de membros do Governo)

1. Não havendo Vice-Primeiro-Ministro, o Primeiro-Ministro é substituído na sua ausência ou no seu impedimento pelo Ministro que indicar ao Presidente da República ou, na falta de tal indicação, pelo Ministro que for designado pelo Presidente da República.

Ora, dúvidas não podem existir que é este artigo que se aplica nesta situação. Com efeito, Durão Barroso terá que deixar o "comando" do país por se encontrar impedido num cargo incompatível com o de Primeiro-Ministro...
Bem sei que o artigo não nos é favorável (não se afigura, na panóplia de Ministros ninguém que faça os portugueses sorrirem de alegria ao subir para a cadeira, já para não pensar no perigo que haveria de, por meio de trocas e baldrocas termos o inominável à frente do País), mas ao menos existe nele uma lógica compreensível de coerência: se o Primeiro-Ministro não está, quem ocupa o seu lugar é um membro de dentro do Governo, não alguém escolhido ao acaso, só porque o PPD/PSD acha que fica bem (vá lá ainda ninguém se lembrou do Scolari... ou do Valentim Loureiro - este é melhor não escrever, não vá alguém levar a sério!), que desconhece a estrutura sobre a qual está organizado o Executivo, o seu funcionamento e mesmo os seus membros. Colocar-se no lugar de Primeiro-Ministro alguém fora do Governo a vir a acontecer é, antes de mais, uma inconstitucionalidade crassa!
Mas, em face das circunstâncias em que o País se encontra, e dado o desencanto geral com a política deste Governo, também não me parece que exista no seio do Executivo uma única alma que, ao ser designada por Sampaio, satisfaça os portugueses!!!

Resta-nos rezar para que Sampaio não se deixe levar por esta onda (extraordinária, diga-se em abono da verdade) futebolística que galvaniza o país, e não se arme numa de seleccionador, pronto a convocar o novo Primeiro-Ministro, mas que antes dê ao povo o que é do povo: o poder político, o poder de eleger os seus governantes. Caso assim não seja, então, afirmo-o com a séria convicção de que não estou a cair num falso alarmismo, temo pela manutenção dos "brandos costumes" nesta pacata terra ocidental!

Do outro lado do mundo! 

Clique para ver a imagem aumentada
... E é quando vejo mapas como este que dou graças a Deus por, apesar de tudo, ter nascido do lado certo do mundo!... Arrepio-me sempre que penso que ainda existem cantos no mundo onde morrer por amor é literal e, pior que isso, patrocinado pelo Estado!

domingo, 20 de junho de 2004

Tatuagem 

Tatuagem
Elis Regina
Falso Brilhante, 1976, Ruy Guerra & Chico Buarque


Quero ficar no teu corpo feito tatuagem,
Que é p'ra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem.
E também p'ra me perpetuar em tua escrava,
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava.

Quero brincar no teu corpo feito bailarina,
Que logo se alucina,
Salta e te ilumina
Quando a noite vem.
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta,
Morta de cansaço.

Quero pesar feito cruz nas tuas costas,
Que te retalha em postas,
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem.
Quero ser a cicatriz, risonha e corrosiva,
Marcada a frio, a ferro e fogo,
Em carne viva.

Corações de mãe,
Arpões, sereias e serpentes,
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes.


domingo, 13 de junho de 2004

"O Voto em Branco e a Abstenção" ou "O Mito da Verdade Absoluta" 


Este post aparece aqui na sequência do que fui lendo e escrevendo em blogs de amigos (não foi nisso que a blogaysfera e a blogosfera nos tranformaram já?), acerca das eleições que decorreram hoje. A minha primeira discordância foi com a Sara. Defendia ela, aqui, recorrendo às metáforas futebolísticas, o dever cívico de votar. Seguiu-se o Boss, a quem o facto de ser tripeiro só engrandece [;)], que escreveu este post sobre a temática. Porque penso que o que reflecti e escrevi não deve ficar disperso num sistema de comentários e porque julgo que o assunto merece um pouco mais de sistematização, segue-se este texto.


O direito ao voto é, segundo a disposição da Constituição da República Portuguesa, um direito de participação política. Regula assim o artigo 49.º, n.º 1 - Têm direito de sufrágio todos os cidadãos maiores de dezoito anos, ressalvadas as incapacidades previstas na lei geral. E o n.º 2 - O exercício do direito de sufrágio é pessoal e constitui um dever cívico. Este artigo, portanto, caracteriza o direito ao voto como tendo duas dimensões: é, simultaneamente, um direito e um dever - um direito de participação e um dever cívico. Quer isto dizer, sem mais delongas, que todos podem votar, mas só vota quem quer.

Isto a propósito da elevada abstenção que se verificou em todos os países da U.E., mesmo nos que recentemente a ela aderiram. Chegada a hora da verdade, todos pretendem analisar os seus efeitos e as mensagens subliminares que possa conter. Mas que o cenário seria este, já ninguém duvidava. Seguem-se, vindas de todos os quadrantes, as mais diversas explicações e considerações acerca da abstenção. E quanto a isto, gostaria de deixar aqui escritas algumas ideias.

Naquilo que fui lendo nas minhas andanças blogueiras, uma coisa me desgostou - o facto de os mais empenhados nestas coisas do voto criticarem os menos empenhados.

A meu ver, ninguém deve ser escravo da democracia - o voto é um dever, mas apenas cívico. Se as pessoas não se identificam com os candidatos, com as suas ideias (quando as têm, claro...), com a sua forma de estar na e fazer política, porque diabo hão-de ser forçados a mudar de opinião só para combater a abstenção? Será preferível que os portugueses votem sem convicção (votar só para cumprir o dever) ou que, simplesmente, não votem e sejam honestos com a sua consciência política? Quais os resultados mais verdadeiros, os da primeira, ou os da segunda hipótese?

A questão da abstenção não favorece nenhum partido político, mas também não prejudica apenas este ou aquele. Os efeitos da abstenção terão reflexo em todos os partidos políticos. A estes cabe, agora, olhar para dentro e procurar perceber por que razão não conseguem cativar o interesse dos eleitores; porque razão, a cada eleição que passa, há menos votantes; por que razão, a cada dia que passa, os portugueses se desinteressam mais deles, mas não do seu país...

Porém, o entender do Tiago, entre outros, é diferente do meu. Para ele, o meu raciocínio sobre a cidadania e o dever cívico de votar cai num erro de julgamento. Dizia-me, num comentário no Cacaoccino: o facto é que, se os portugueses não se reveêm nos políticos, no sistema, devem na mesma ir votar. Se acham isso, votem - em branco. Tem, para mim, muito mais valor do que pura e simplesmente não ir votar e dar a entender que se esteve na praia, porque se prefere que outros decidam por nós. O Saramago já defende o mesmo. Mas eu já digo isto há alguns anos.

Daqui, parto para um conclusão: nem o Tiago, nem eu temos verdades absolutas. Haverá apenas uma forma de os portugueses demostrarem que não se revêem nos políticos e no sistema? Seremos nós forçados a escolher o voto em branco ou a abstenção?

O decidir não exercer o direito de voto não significa, de todo, desprezo pela democracia! Muito pelo contrário. Só uma visão redutora da questão tem para si que a democracia se limita ao exercício desse direito. Estar comprometido com a democracia é muito mais do que isso - é questionar, é ter sentido crítico, é ter vontade e fazer algo para mudar, é ter planos para um futuro político e social melhor, é exigir rigor e transparência, é, no fundo, viver o dia-a-dia com consciência política e ter noção do que é o interesse público.

Se todas estas facetas se concentrarem apenas no direito de voto, não será difícil deduzir que só tem "autoridade", digamos assim, para ter uma voz politicamente crítica quem vota. Mas não é assim que eu vejo as coisas. Creio que essa "autoridade" advém do facto de eu ser portuguesa, pagar impostos e ter o estatuto de cidadã deste país. Não há cidadãos de 1.ª (os que votam) e de 2.ª (os que não o fazem). Mal de nós se um dia assim for! Ninguém está melhor posicionado do que ninguém para exigir seja o que for, seja de quem for. Enquanto cidadã, tenho o direito de exigir de todos os partidos políticos, enquanto tais, o melhor serviço público que possam prestar a este país. Se concordo ou não com o que me oferecem, dir-lhes-ei nas urnas. O voto será, sempre, a última palavra a dizer, mas nunca a única.

A democracia revestiu-nos a todos com uma série de direitos e deveres - entre eles, o direito de votar (ou não) e o direito de exigir rigor, transparência, dignidade e objectividade na vida política deste país. Todos os portugueses deviam exigir mais de quem rege os destinos do seu país - quer tenham votado ou não naquele governo. É que convém ter em conta que as cadeiras do governo, da Assembleia da República e dos deputados ao Parlamento Europeu são de todos os portugueses, e não apenas de quem vota ou de quem nelas se senta.

Parece-me errado o entendimento que vê na abstenção a passividade, em vez da oposição. Parece-me errado que se defenda, em caso de desilusão com o sistema, o voto em branco ou o voto nulo, em vez da abstenção. É que contrariamente aquilo que possa pensar-se, os dados analisados são os da abstenção, e não os dos votos em branco ou nulos. Alguém ouviu, durante a cobertura dos resultados eleitorais, única referência que fosse aos votos nessas circunstâncias? Mas, no entanto, todos os partidos se referiram ao elevado número de abstencionistas... não será sintomático de algo? Pela minha parte, creio que sim, mas como afirmo no título deste post, não há verdades absolutas, e muito menos quero arrogar-me no papel de seu arauto...


Duas notas finais:

1. Apesar de ser esta a minha perspectiva, porque uma coisa não é incompatível com a outra, votei nestas eleições, como sempre fiz, em todas as eleições e referendos realizados desde que completei 18 anos. Penso que isso se depreende do que afirmei quanto ao meu entendimento do que é a democracia. O que eu não faço, e não farei, é tecer juízos de valor negativos em relação a quem não vota. Afinal, as razões para que alguém o decida fazer parecem-me tão óbvias, que não me resta outra atitude sensata senão respeitar a opinião dos abstencionistas e reconhecer-lhe um fundo de razão...

2. Este post é apenas uma súmula de algumas das minhas convicções. Não é, nem pretende ser, uma apologia da abstenção.


Que o voto é uma arma, ninguém duvida. Mas sempre se tem provado que a abstenção não deixa de o ser, depende é da vontade de o perceber. Para todos os que estiverem dispostos a isso, a cruz não é a única via da salvação...


Ite, missa est

Bandeiras, bandeirinhas e bandeirolas 

Portugal está enfeitado de bandeiras nacionais, é um facto. A esmagadora maioria dos portugueses aderiu ao mote e enfeitou as suas casas e os carros de bandeiras nacionais. O mesmo fiz eu própria, em minha casa e no meu blog. Sou portuguesa, e tenho orgulho naquilo que Portugal faz bem feito, ainda que sejam poucas coisas.

Já aqui afirmei várias vezes: não sou adepta de futebol. Não perco cinco minutos do meu tempo a ver um jogo, não ouço notícias sobre futebol, nem sequer sei o nome dos jogadores da Selecção Nacional, muito menos quanto ganham ao fim do mês (seja muito ou pouco, não me tira um minuto de sono, pois não sou eu quem lhes paga - nunca dei um tostão por um bilhete de futebol e não sou sócia de nenhum clube). Ainda assim, não posso esconder que estou felicíssima com o facto de Portugal ter sido o país seleccionado pela UEFA para organizar o Euro 2004, pois, apesar de tudo, sei que se trata de uma das competições mais importantes, só comparável ao Mundial de Futebol. É o campeonato continental, onde só jogam as selecções mais prestigiadas. Acima de tudo, importa ressaltar que é um acontecimento que projectou o nome de Portugal no mundo, tanto ou mais, muito provavelmente, do que o facto de o Porto ter sido a Capital Europeia da Cultura em 2001. Por isso, confesso que ... m'espanto às vezes, outras m'avergonho..., como Sá de Miranda, com certas coisas que leio e ouço.

A bandeira... a questão gravita em torno da bandeira nacional, em torno da forma como uns e outros interpretam a sua aposição nas casas, nos carros, nas lojas, nos blogs, onde quer que seja. Uns, chamam-lhe "bandeiras"; outros, "bandeirinhas"; outros ainda, "bandeirolas".

Os que lhe chamam "bandeiras", têm, decerto, a consciência de que elas simbolizam o orgulho de ser português, o orgulho de organizar um campeonato como o Euro 2004. Apesar de, no entender de alguns, como por aí se apregoa - repito, não aprecio futebol, não tenho opinião formada sobre este assunto - a Selecção Nacional jogar mal, ela tem estado presente em vários campeonatos deste género, Euros e Mundiais. Porém, nunca se viram as bandeiras nacionais expostas pelo país fora como se vê este ano. Será que este estranho fenómeno para(a)normal de deve somente ao facto de a Selecção Nacional estar a disputar o campeonato, como vem acontecendo há já uns tempos? Será um fenómeno com raízes meramente desportivas? Não será difícil concluir que não. O verdadeiro e fundamental motivo pelo qual os portugueses enfeitaram as suas casas com a bandeira nacional é a organização deste campeonato. Essa é que é a diferença entre este Euro e os anteriores. A diferença não está no seleccionador, nem nos jogadores, nem nas hipóteses de vencer... a diferença está no facto de cada português, este ano, se sentir orgulhoso do seu país, por ter conseguido organizar este evento da forma como conseguiu. Está de parabéns, Portugal, quer alguns queiram, quer não. O pequeno rectângulo à beira-mar plantado, que muitos - demasiados - gostam de achincalhar, está de pé, está vivo, está a ter um enorme sucesso! Está a ver o seu nome ser referido internacionalmente por factos (muito) positivos, para variar! Está a vibrar com o trabalho que levou a cabo durante todo este tempo - está a admirar o fruto do seu empenho. E com ele, vibram muitos portugueses, orgulhosos dos feitos presentes do seu país. Como eu, por exemplo.

Adorava poder hastear a bandeira nacional todos os anos, pelos mais variados motivos - culturais, políticos, sociais e, porque não, desportivos. Mas, infelizmente, o nosso país não alcança em todas as áreas o sucesso que alcança no futebol. E quando me refiro ao sucesso, mais uma vez, não estou a referir-me aos resultados da Selecção Nacional, mas à organização do Euro 2004. O que recuso liminarmente é fazer coro com aqueles que vêm nesta autêntica manifestação de empenho e orgulho nacional uma coisa pobrezinha, de "bandeirinhas", ou inculta, de "bandeirolas". Recuso o discurso da diminuição, do desprezo, da deturpação. Como o Régio, não vou por aí. Este país tem demasiados motivos para chorar, para se lastimar, mas esses motivos não são os únicos que lhe restam - tem também motivos para festejar, para rir, para se orgulhar. Por que razão o cinzentismo há-de ser sobrevalorizado e as cores da bandeira nacional hão-de ser diminuídas? Apenas porque o Euro 2004 teve início no dia anterior ao das eleições europeias? Apenas porque se prevê que a abstenção nessas mesmas eleições seja superior ao habitual?

Penso que cabe aqui uma reflexão. Uma reflexão e um paralelismo. O telejornal de hoje, inevitavelmente - e excessivamente, a meu ver -, debruçou-se sobre o Euro e sobre a derrota da equipa portuguesa. Ora, inevitavelmente, porque aguardava as outras notícias nacionais e internacionais, ouvi as declarações do seleccionador nacional, que parecia querer atribuir a derrota a erros individuais. É claro que a sua posição não é a mais confortável, uma vez que dele se esperava outro tipo de atitude, como a assumpção dos erros que lhe caberiam - se é que lhe cabiam alguns, já que não faço a mais pálida ideia se assim é ou não... Ora, tal como o seleccionador parecia querer encontrar, desesperadamente, explicações para o inesperado, também parecem alguns querer diminuir a importância do Euro apenas porque temporalmente coincidiu com a data das eleições europeias. E eu pergunto: o que tem uma coisa a ver com a outra? Porque é que se procura desesperadamente associar o interesse pelo futebol ao desinteresse pela política? Porque é que os políticos e os "politiqueiros" procuram encontrar sempre explicações relacionadas com causas externas à política para os problemas políticos deste país?

A resposta é simples: é muitíssimo mais fácil justificar a abstenção com o jogo inicial do Euro, com a noitada de Santo António, com o fim de semana prolongado, com o bom tempo e o apelo da praia do que com a miserável campanha política, com o perfil desajustado da maioria dos candidatos, com a evidente ausência de estratégias e propostas políticas, com a demagogia, com o populismo fácil das acções em feiras e mercados que já não convencem ninguém, mas que iludem os que pretendem ser deputados. Algum desses senhores crê, verdadeiramente, que conquistará um voto mais facilmente por distribuir panfletos nas ruas do que por discutir causas e coisas que verdadeiramente cativam a atenção dos portugueses? No que a isto concerne, só me apetece sorrir quando ouço ou leio críticas feitas ao "circo" que os portugueses tanto apreciam, proferidas por aqueles que são, nada mais, nada menos, os principais palhaços do circo... O povo que agita as "bandeirolas" é exactamente o mesmo que amanhã irá (ou não) às urnas. E esse mesmo povo, provavelmente, dirá, por via da abstenção, que não ficou convencido com as acções políticas (?!) desta campanha.

Tudo isto prova, acima de tudo, uma coisa - os portugueses sabem muito bem ser solidários e unir-se em torno de algo (pois deram provas disso no acolhimento do Euro 2004) com uma força capaz de mudar o mundo, se preciso for. Se esse algo é positivo ou negativo, depende, logicamente, da perspectiva. Da mesma forma que o nacionalismo não é necessariamente negativo, nem o hegemonismo positivo. Aliás, se bem me lembro, a bandeira (e este termo - "bandeira" - está aqui com um propósito) de todos os partidos políticos concorrentes ao Parlamento Europeu é a defesa dos interesses nacionais... Para quem tem uma visão redutora do nacionalismo, este pode cingir-se da mesma forma a símbolos, campeonatos de futebol ou a eleições europeias. Pena é que quem vê uma coisa, não veja a outra. Eu, pelo menos, tenho para mim que o nacionalismo tanto se demonstra num aspecto, como no outro, e que ser nacionalista não é incompatível com ser europeísta, que gostar de futebol não é sinónimo de não ler livros e não ver filmes e que agitar uma bandeira de Portugal hoje não tem nada a ver com o passado, mas com o presente. Se os portugueses apreciam mais o "circo" do futebol do que o "circo" da política, talvez esteja na altura de alguns palhaços alterarem o show ou sairem de cena... Porque afinal o circo... é o maior espectáculo do mundo.

sábado, 12 de junho de 2004

A hora em que Portugal parou 

Por ironias da vida, nos primeiros momentos dos 90 minutos mais aguardados pelos portugueses, há pelo menos um ano, estava em viagem pelo País. Em noventa quilómetros cruzei-me com pouco mais de meia dúzia de carros. Portugal estava parado! Agarrado às emoções proporcionadas por uma bola polémica, à espera de gritar de alegria. Nas janelas o vermelho e verde lançava no vento a esperança de um país.
E era mais do que futebol que se sentia naquelas janelas e naquele silêncio! Era a união de um povo, o abraço dado em uníssono em torno de um só sentir, de um só desejo. Como se, de repente, Portugal inteiro fosse uma grande família, onde todos, mas mesmo todos: pretos e brancos, mulheres e homens, hetero e homossexuais, pobres e ricos, partilhassem, sem qualquer distinção, o orgulho de se ser português!

... Mal entrei na cidade, abri o vidro do carro. Na TSF o Perestrelo relatava como só ele sabe fazer, e eu ansiava por ouvir aquele grito que explode das casas, invadindo as ruas, os cafés e as veias!!!

O golo veio, mas do outro lado. E as ruas ficaram ainda mais frias. Nas janelas o vermelho invadia cada vez mais o verde, e o vento tornava-se desagradável...

O jogo lá passou. Noventa minutos de azar, de um ser que está quase a ser, que tem tudo para ser mas não é... de uma luta constante, sofrida, suada.

Foi uma derrota diferente daquelas a que assistimos no Mundial, por exemplo. No Mundial, os jogadores estavam distraídos, em jogos individualistas, esquecendo-se que eram um grupo e que deveriam jogar como equipa.

Hoje não. Hojes os Quinas jogaram com garra. Nos seus pés sentia-se-lhes o peso que sobre os ombros lhes impendia de ter que responder a um país inteiro que, apoiando-os como poucas selecções são apoiadas, lhes exige necessária e legitimamente resultados. É verdade que estavam nervosos, é verdade que falharam, mas é verdade também que lutaram até ao último minuto.

E é por isso que, apesar desta derrota inicial, as bandeiras não devem sair nem das janelas, nem dos blogs! É que tenho cá para comigo que estes miúdos no próximo jogo, vão realmente mostrar aquilo que valem!... Têm que mostrar! Pelo menos por respeito a um país que pára para apoiá-los e para levantar, pelos seus pés, o esplendor de um país à beira de uma crise de nervos!

Por isso, no próximo jogo, dêmos o benefício da dúvida! Que o país páre de novo! Que as ruas fiquem vazias, mas que desta vez, alguém esquecido dentro de um carro, sinta a terra tremer com uma explosão de alegria! We will be waiting!

O sonho começou 

É Uma Partida de Futebol
Skank
O Samba Poconé, 1996 , Samuel Rosa & Nando Reis © Skank


Bola na trave não altera o placard
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

A bandeira no estádio é um estandarte
A flâmula pendurada na parede do quarto
O distintivo na camisa do uniforme
Que coisa linda, é uma partida de futebol

Posso morrer pelo meu time
Se ele perder, que dor, imenso crime
Posso chorar se ele não ganhar
Mas se ele ganha, não adianta
Não há garganta que não pare de berrar

A chuteira veste o pé descalço
O tapete da realeza é verde
Olhando para bola eu vejo o sol
Está rolando agora, é uma partida de futebol

O meio campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol

O meu goleiro é um homem de elástico
Os dois zagueiros tem a chave do cadeado
Os laterais fecham a defesa
Mas que beleza é uma partida de futebol

Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

O meio campo é lugar dos craques
Que vão levando o time todo pro ataque
O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol !

Utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê



Bom, rapazes da Selecção Nacional, a partir daqui é convosco. Dancem em campo como se tivessem, de novo, 16 anos e tornem o sonho de 10 milhões de portugueses realidade, como o fizeram então. Força, Portugal!

sexta-feira, 11 de junho de 2004

Sondagem 

Há quem se queixe que, ao aceder ao nosso blog, tem imensos problemas, desde bloqueios a dificuldades em deixar comentários. Gostávamos de saber se o problema é geral. Digam-nos de vossa justiça, nos comentários ou por mail, que nós "assumidamente" queremos prestar um bom serviço a quem tão pacientemente nos lê!

Um blog, uma bandeira


E não percam o próximo passo: aprender o hino da selecção portuguesa... ai desculpem, de Portugal!!

Podemos ser a favor, contra, assim assim, apáticos, acomodados, irritáveis até, mas uma coisa é necessariamente inegável: está bonito o país, sim senhor, com a Bandeira Portuguesa a deixar transbordar pelas janelas um sentir português!
Eu, pelo menos gosto de ver! Mas confesso que me dói um bocadinho num espírito patriótico que nem sequer sabia que possuía, ver a bandeira tão erradamente representada: ele é o vermelho do lado da tralha, ele são os castelos mal feitos, ele é bandeiras quadradas!!!
Sejamos, uma vez na vida, rigorosos! Sejamos mais do que um povo afável, simpático e hospitaleiro, sejamos acima de tudo, competentes e exigentes connosco próprios!
Por isso, caro concidadão, amigo, camarada, que me lês e ainda não compraste a tua bandeira! Antes de entregares a moedinha em troca de tão prestigiado pano, lembra-te com rigor do que foi decretado em 1911:

"A bandeira nacional da República Portuguesa é um pano de comprimento igual a três meios da sua altura, partido de verde e vermelho, ocupando a área verde os dois quintos da área total da bandeira mais próximos da tralha e a vermelha os três quintos restantes. No centro da divisão, o brasão d’armas nacional (na sua forma “menor”, i.e., sem a coroa de louros), sendo o diâmetro da esfera armilar igual a metade da altura da bandeira.

As armas menores são constituídas de uma esfera armilar “moderna” dourada, armada com eclíptica, equador, dois paralelos e um meridiano, estes arcos com remate em relevo visível, carregada de um escudo de formato dito português (ponta redonda), de proporções 8:7, carregado de “Portugal moderno”, i.e., com a seguinte descrição:

De prata, cinco escudetes, de azul, postos em cruz, cada um carregado com uma aspa de cinco besantes, de prata; bordadura de vermelho orlada exteriormente de prata, carregada com sete castelos, de ouro, sendo três em chefe."!

Ah, e porque apesar de não sermos, nem eu nem a minha Mente, fervorosas adeptas do futebol, no que toca a estas coisas da selecção também a nós o coração se acelera, de forma totalmente irracional, não podíamos deixar de aderir à campanha "uma janela uma bandeira" e perguntar, e porque não "um blog, uma bandeira"! Vá lá, soltemos o português que há em nós! :-)

Hoje o meu dia começou... 

...assim, com uma barra de 50 gramas de Toblerone. Estava com desejos. Não comia chocolate há que tempos! A Sara Cacao é que despertou o meu apetite pelas pirâmides suiças. E nem foi preciso ir comprar: bastou-me tirá-lo do olho! ;)

quinta-feira, 10 de junho de 2004

Ser Presidente da República... 

... deve ser tão maçador como ser tartaruga.

Cheguei a esta conclusão esta tarde. Por volta das 18 horas, liguei a televisão e assisti às cerimónias comemorativas do 10 de Junho, em Bragança. O voz off anunciava a interpretação do Hallellujah!, retirado d'O Messias de Haendel, pela orquestra e coro da Escola Superior de Educação de Bragança. Não desliguei de imediato e fiquei a ouvir, até porque não conhecia os intérpretes. Mal soaram as primeiras notas na trompete e na tuba, percebi que durante os próximos minutos me iria prostituir musicalmente. A maestrina bem se esforçava, em gestos de nadadora de mariposa, para arrancar uma boa interpretação, mas a única coisa que se ouvia era um grupo desalinhado, cujos violinos falhavam notas e cujo trompetista parecia estar a tocar a peça pela primeira vez. Entra o coro: os sopranos, visivelmente desconfortáveis; os contraltos... onde andariam eles?; os tenores a nadar; e os baixos a passar tempo. Quando tudo parecia não poder ficar pior, começa a secção "king of kings"... Os sopranos desatam num berreiro literal, a orquestra fica descompassada em relação ao coro, o desastre total, com a trompete a falhar notas, com a embocadura toda torta, enfim... o desastre. Antes do "Hallellujah" final, a maestrina dá indicação para a pausa e o primeiro violino faz descair uma nota... miséria... Depois, ainda não satisfeito, dá as seguintes todas ao lado!

Felizmente, a tortura que é ouvir boa música mal interpretada terminou. E a imagem seguinte foi a de um Presidente da República que penosamente se erguia na cadeira, provavelmente ainda incrédulo do efeito que o horrendo espectáculo musical surtira nos ouvidos presidenciais. A tarefa seguinte foi a cerimónia de imposição de insígnias nacionais.

A Comenda Pobre Jorge Sampaio, pensei. Ter de assistir a tudo isto presencialmente deve ter sido muito pior do que pela televisão. Valeu-nos o tropeção do Raul Solnado ao subir os degraus para nos lembrar que mesmo nestas circuntâncias, rir é o melhor remédio.

Nota de destaque merece a Professora Maria Helena da Rocha Pereira, a única mulher agraciada com uma condecoração - o Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, que tem por fim distinguir o mérito literário, científico e artístico. Mas a população feminina esteve muitíssimo bem representada - a obra de MHRP é incontornável, mesmo a nível internacional e o seu mérito é sobrevalorizado porque se destaca no meio académico, um meio que, à sua época, era ainda predominantemente masculino. Quem não leu os seus Estudos sobre a Cultura Clássica ou a Hélade? Se não leu, vá penitenciar-se imediatamente. Sugiro que assista a um concerto pela orquestra da Escola Superior de Educação de Bragança ou que se candidate a Presidente da República...

quarta-feira, 9 de junho de 2004

Faleceu Sousa Franco 

António Lúcio de Sousa Franco
O cabeça de lista do Partido Socialista às eleições europeias morreu esta manhã, em consequência de um ataque cardíaco, no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos. Sousa Franco terá ficado incomodado com os aguerridos confrontos entre os apoiantes de Narciso Miranda e Manuel Seabra, que disputarão a candidatura à Câmara Municipal da cidade em 2005.

Esta notícia não parece real. Corri uma série de sites e pensei, honestamente, que hoje era outra vez 1 de Abril. Mas não é. E António Sousa Franco, um professor de Finanças Públicas que aprendi a respeitar, morreu mesmo. A sua morte mancha indelevelmente esta campanha, como se as manchas não fossem já abundantes. As circunstâncias que rodearam a morte do candidato em nada abonarão a imagem de Portugal, onde quer que seja. Desta, confesso, não estava à espera.

Agoram digam lá que as macumbas do Paulo Portas não resultam...

Um Especialista...


... É aquele que sabe pouco sobre uma coisa em concreto e nada sobre coisa nenhuma... Pelo menos era mais ou menos assim que o via Pessoa.
Recordo-me que há uns tempos atrás se levantou uma polémica em torno dos blogs de temática exclusiva ou predominantemente gay ou lésbicos. Todos os argumentos partindo daquilo que se vai tornando já uma máxima na mente dos homofóbicos retraídos: "ok, gostem lá de quem quiserem, mas não estejam sempre a falar do mesmo, que não há assunto para tanto"!
Depois a polémica passou... e o crescimento da blogaysfera está aí para quem quiser constatá-la. De tal forma que (e isto é só um palpite, porque não me dei ao trabalho de fazer uma estatística) poderá muito certamente ser uma das questões mais abordadas nos blogs ditos temáticos.

Mas a "especialidade" não se faz sentir só na blogosfera. Cada vez mais as pessoas atentas compreendem que há um enorme e extenso mercado homossexual, disposto a consumir tudo aquilo que, de uma forma ou de outra, permita uma identificação com a sua própria natureza (ai desculpem, esqueci-me que éramos naturais e que, por isso, não temos natureza!)... E é ver os filmes, os livros, as séries, os debates e reportagens sobre homossexualidade a aparecerem... E agora mais do que isso um canal inteiro, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas de temática homossexual!

"Logo" veremos como será recebida a "Logo", cujas primeiras emissões estão a ser preparadas para Fevereiro de 2005. "Logo" veremos o que tem para oferecer aos seus espectadores. "Logo" veremos o número das suas audiências.

Aconteça o que acontecer, duas certezas são já inegáveis:
- o crescimento da visibilidade homossexual é já uma questão que nem os mais acérrimos homofóbicos em luta poderão impedir... e
- afinal de contas, nem tudo o que vem dos Estados Unidos é mau!

Bem, vou-me ali beber uma coca-cola, antes de começar o trabalho!

A propósito da P.D.I. 



terça-feira, 8 de junho de 2004

Um dó li tá...


E eis que pela primeira vez na minha vida estou a menos de uma semana das eleições e ainda estou indecisa em quem votar:*





- a Ilda parece-me uma pessoa com experiência e capacidade de produzir boas lutas, é talvez a única candidata que tenho ouvido a falar sobre a Europa... o problema é que não concordo com muitas das suas ideias europeístas....

- o Miguel era o meu candidato à partida, mas está a desiludir-me "un petit peu" o cunho demagógico que tem dado à sua campanha;

- os Humanistas têm a grande vantagem de falar sobre homossexualidade na sua campanha... mas eu ainda sou daquelas que (critiquem à vontade, estou preparada para isso!) pensa na utilidade do seu voto...
Bem, já faltam poucos dias para ter que tomar uma decisão... Bem, das duas uma, ou tiro à sorte ou então ainda me dá um ataque de lucidez

*Uma coisa que estou a achar divertida nesta campanha são certos e determinados senhores, que devem ser jograis, ou contratados pelas Produções Fictícias, e que andam a animar a jornada eleitoral com críticas pessoais , num guião que podia muito bem ter sido escrito por Gil Vicente... anedótico não fora ser tão dramaticamente o espelho da nossa classe política!

Pequeno pensamento...


... talvez non sense, talvez despropositado, talvez a pólvora rebentada já há séculos, mas por que dei fé só agora, num momento em que, por motivos vários, pessoais e não só, dou por mim a pensar nestas coisas. Nunca tinha reparado na contradição que existe no brocardo da "minha" Igreja Católica sobre os casamentos: "até que a morte os separe"... Mas não é suposto ser precisamente ao contrário? Não é depois da morte que as almas se reencontram no seu mais puro estado?... Bem, vou dormir sobre o assunto... nesta noite em que a vida me separou transitoriamente da minha Mente!

Acabo de me transformar em hetero!!


Informamos os estimados leitores que esta imagem é da exclusiva responsabilidade de quem a fez e não fui eu... Mas que ficavam bem ficavam!!!
Cruzes credo se eu algum dia queria ter alguma coisa em comum com estes dois senhores! É que nem a orientação sexual!*

Mentezinha querida, brincadeirinha! Não te livras de mim, assim por um "Mirror"zito qualquer!

Virtualmente "The Master of the Universe"


O Xô Bush e o planeta
Habitualmente sou moderada, habitualmente sou racional... habitualmente contenho-me e tento procurar sempre a lógica por trás das ideias contrárias às minhas para tentar descobrir onde está o erro do meu raciocínio. Habitualmente não sou de radicalismos... Mas isto passou todos os limites do razoável! Bem sei que nós juristas, estamos habituados e mais do que treinados a contornar a lei, mas haja um mínimo, valha-me Deus!!!l!!!
Agora afirmar que: "o Presidente dos EUA dispõe de poderes virtualmente ilimitados para conduzir uma guerra como entender, sem que o Congresso, os tribunais ou as leis internacionais possam interferir" e que, por isso, "os militares americanos envolvidos no escândalo dos abusos contra detidos iraquianos não podem ser acusados judicialmente se tiverem cumprido ordens do próprio George W. Bush" é de tal forma hediondo, irrazoável, intolerável, que não consigo descobrir mais nada para dizer senão: os americanos andam todos a chutar-se para a veia, com certeza!!!

Pronto, confesso que nunca fui uma acérrima admiradora da cultura e do povo americano, agora, depois desta manifestação boçal simultaneamente de arrogância internacional e subserviência presidencial, vou considerar definitivamente hipótese de até deixar de beber coca-cola!

Ah, e ainda estou para perceber o que é isso dos poderes "virtualmente ilimitados"! Será que são os poderes que se concretizam via net? Ou andarão o "Master of the Universe" e o seu séquito de juristas a blogar demais?! Razão tinham os outros quando diziam que isto podia provocar dependência!!

segunda-feira, 7 de junho de 2004

Acabado de ver...

Toque de Veludo
"Toque de veludo", na cada vez melhor 2:, só pecou por ficar com a história suspensa até ao próximo Domingo!
O adiantado da hora já não me permite grandes raciocínios, mas ainda assim ouso dizer (e perdoem-me o feminismo ou lesbianismo ou qualquer outra espécie de -ismo que vá subjacente a esta frase): há lá coisa mais bonita e sensual do que o amor entre duas mulheres?!...

domingo, 6 de junho de 2004

Seus grandessíssimos... Coelhos! 


Encontrei a notícia aqui, mas não resisto em postá-la na íntegra:

Rabino diz que gays reencarnarão como coelhos

Com toda polêmica envolvendo a Parada Gay de Jerusalém, que acontece nesta quinta-feira, 3/6, o rabino isralense chefe de uma seita mística David Batzri afirmou que homossexuais reencarnarão como coelhos. Segundo os preceitos judaicos coelhos não são kosher (puros).Eu e a minha Mente depois de reencarnarmos... bem, antes coelhos que... porcos, sei lá!!!

ESte não é o primeiro ataque de Batzri aos homossexuais. Em entrevista ao jornal israelense Ma`ariv, em 2002, o rabino disse que gostaria de ver todos os homossexuais mortos. “Gays e lésbicas não são apenas uma doença, eles são uma abominação e deveriam ser expulsos de todas as cidades deste país e, também, de todos os distritos onde eles se sentem protegidos, como Tel Aviv”.

Recentemente, durante a guerra no Iraque, Batzri reuniu seus seguidores e rezou para que anjos protegessem Israel dos mísseis inimigos. Segundo a imprensa local, o rabino também planejou que, se o Iraque os atacasse com mísseis, ele voaria sete vezes sobre Israel em um helicóptero para tentar desviá-los.

Sinceramente, isto é tão surreal que nem sequer me acorre um comentário à altura!!

Socorro!! 

A minha mãe comprou o Vagabundos de Nós! Fujo para o Brasil ou peço asilo em Espanha?... Não riam! Isto é sério... Isto é muito sério!!!... Vou ali estudar as possibilidades de processar um autor por danos morais e já volto :-|

Vício bom 

E quem disse que todas as dependências eram sinónimo de prisão?
Li ou ouvi algures, já não me recordo muito bem aonde que a blogosfera pode criar dependência... Sei que foi uma daquelas notícias dadas assim com ares de grande cientificidade, com argumentos e fundamentos trazidos ao público por doutos e ilustres cientistas da nossa praça - daqueles de quem inevitavelmente nunca ninguém ouviu falar... De tal forma que, quem estivesse de fora poderia acreditar que isto dos blogs é mesmo um vírus muito mau que ataca via computador!!!

Confesso que me irrita profundamente esta mania que existe em procurar uma justificação, um gene ou um átomo que justifique o prazer por uma actividade diferente, mal ela se começa a transformar em algo de quotidiano. Foi assim quando surgiram os computadores, e depois a internet.... e mais especificamente os chats... e agora os blogs! Mas pior do que afirmar esta dependência é a carga negativa que se coloca na afirmação, como se sobre a actividade de escrever e participar na blogosfera pendesse uma sombra escura de pecado e maldição!!!

Como me cansam estes cientistas! É óbvio que os blogs causam dependência sim senhor, graças a Deus!!! Mas haverá alguma coisa que se faça com prazer e que não cause dependência?!! Namorar causa dependência, ler um bom livro causa dependência, enterrar os pés na areia causa dependência, o pôr de sol na praia causa dependência!... As coisas boas da vida, todas elas, todos aqueles momentos que fazem com que os dias tenham sentido são potenciais causas de dependência na medida em que, em última instância, sem elas viver perderia toda a piada!

Sim, a blogosfera causa dependência! E vai daí?! Sinceramente não me consigo recordar de uma dependência com tantas potencialidades positivas como esta! Há lá vício melhor do que este que nos leva a pensar, expressar, comunicar e interagir, com pessoas que, de outro modo, nunca na vida poderiamos conhecer? Há lá forma mais rica de abrir horizontes e promover o debate de ideias! Se a blogosfera é um vício, é-o na medida em que a própria vida em sociedade o é, é-o na medida em que a partilha de culturas o é, é-o na medida em que a procura pela progressão de cada um enquanto ser humano, e da sociedade enquanto colectividade o é!

E se assim é (e é mesmo, não haja dúvidas!!!) que não percam os senhores cientistas dois milésimos de segundo a procurar um antídoto para esta dependência tão positiva! Acreditem, senhores cientistas, por muito dependentes que estejamos, por muito que nos custe viver assim meses seguidos sem saber o que tem andado a irritar a Sara, que novas contratações fez o Boss, o que de interessante tem andado o Miguel a dizer, que voltas tem dado a Ana, como estão as obras da Teca, ou muito genericamente o que se tem dito e feito dentro e fora da blogaysfera; por muito que demorem mais a passar os dias sem se poderem partilhar ideias e pensamentos num post, por muito rápido que seja; por muito que, de repente, dêmos por nós a ter saudades de pessoas que nem sequer conhecemos fisicamente, mas que, por tanto termos já debatido com elas, fazem inevitavelmente parte das nossas vidas... por muito, senhores cientistas, que se torne penosa a vida para além da internet e dos blogs, não queremos, nunca quereremos ver-nos livres, desintoxicados ou curados desta dependência, saudável, que promove as tertúlias, os debates e a nossa saúde mental!!!....

É por isso que, ainda que um dia o Governo mande colar uns papéizinho no meio de cada blog a dizer "BLOGAR PROVOCA DEPENDÊNCIA", ou, então, por muito que a vida nos mantenha afastadas, tempos sem fim das lides internéticas e das relações que por aqui se vão criando, uma coisa é certa, caros companheiros de vício, mais cedo ou mais tarde, regressaremos aqui, ao blog e a vocês... mmm e que bem que sabe este vício bom ;-)

Somos altos, baixos, magros, gordinhos, extrovertidos, introvertidos, religiosos, ateus, conservadores, liberais, ricos, pobres, famosos, comuns, brancos, negros... Só uma diferença : amamos pessoas do mesmo sexo. Campanha Digital contra o Preconceito a Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgéneros. O Respeito ao Próximo em Primeiro Lugar. Copyright: v.


      
Marriage is love.


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