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quinta-feira, 10 de junho de 2004

Ser Presidente da República... 

... deve ser tão maçador como ser tartaruga.

Cheguei a esta conclusão esta tarde. Por volta das 18 horas, liguei a televisão e assisti às cerimónias comemorativas do 10 de Junho, em Bragança. O voz off anunciava a interpretação do Hallellujah!, retirado d'O Messias de Haendel, pela orquestra e coro da Escola Superior de Educação de Bragança. Não desliguei de imediato e fiquei a ouvir, até porque não conhecia os intérpretes. Mal soaram as primeiras notas na trompete e na tuba, percebi que durante os próximos minutos me iria prostituir musicalmente. A maestrina bem se esforçava, em gestos de nadadora de mariposa, para arrancar uma boa interpretação, mas a única coisa que se ouvia era um grupo desalinhado, cujos violinos falhavam notas e cujo trompetista parecia estar a tocar a peça pela primeira vez. Entra o coro: os sopranos, visivelmente desconfortáveis; os contraltos... onde andariam eles?; os tenores a nadar; e os baixos a passar tempo. Quando tudo parecia não poder ficar pior, começa a secção "king of kings"... Os sopranos desatam num berreiro literal, a orquestra fica descompassada em relação ao coro, o desastre total, com a trompete a falhar notas, com a embocadura toda torta, enfim... o desastre. Antes do "Hallellujah" final, a maestrina dá indicação para a pausa e o primeiro violino faz descair uma nota... miséria... Depois, ainda não satisfeito, dá as seguintes todas ao lado!

Felizmente, a tortura que é ouvir boa música mal interpretada terminou. E a imagem seguinte foi a de um Presidente da República que penosamente se erguia na cadeira, provavelmente ainda incrédulo do efeito que o horrendo espectáculo musical surtira nos ouvidos presidenciais. A tarefa seguinte foi a cerimónia de imposição de insígnias nacionais.

A Comenda Pobre Jorge Sampaio, pensei. Ter de assistir a tudo isto presencialmente deve ter sido muito pior do que pela televisão. Valeu-nos o tropeção do Raul Solnado ao subir os degraus para nos lembrar que mesmo nestas circuntâncias, rir é o melhor remédio.

Nota de destaque merece a Professora Maria Helena da Rocha Pereira, a única mulher agraciada com uma condecoração - o Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, que tem por fim distinguir o mérito literário, científico e artístico. Mas a população feminina esteve muitíssimo bem representada - a obra de MHRP é incontornável, mesmo a nível internacional e o seu mérito é sobrevalorizado porque se destaca no meio académico, um meio que, à sua época, era ainda predominantemente masculino. Quem não leu os seus Estudos sobre a Cultura Clássica ou a Hélade? Se não leu, vá penitenciar-se imediatamente. Sugiro que assista a um concerto pela orquestra da Escola Superior de Educação de Bragança ou que se candidate a Presidente da República...

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