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domingo, 13 de junho de 2004

Bandeiras, bandeirinhas e bandeirolas 

Portugal está enfeitado de bandeiras nacionais, é um facto. A esmagadora maioria dos portugueses aderiu ao mote e enfeitou as suas casas e os carros de bandeiras nacionais. O mesmo fiz eu própria, em minha casa e no meu blog. Sou portuguesa, e tenho orgulho naquilo que Portugal faz bem feito, ainda que sejam poucas coisas.

Já aqui afirmei várias vezes: não sou adepta de futebol. Não perco cinco minutos do meu tempo a ver um jogo, não ouço notícias sobre futebol, nem sequer sei o nome dos jogadores da Selecção Nacional, muito menos quanto ganham ao fim do mês (seja muito ou pouco, não me tira um minuto de sono, pois não sou eu quem lhes paga - nunca dei um tostão por um bilhete de futebol e não sou sócia de nenhum clube). Ainda assim, não posso esconder que estou felicíssima com o facto de Portugal ter sido o país seleccionado pela UEFA para organizar o Euro 2004, pois, apesar de tudo, sei que se trata de uma das competições mais importantes, só comparável ao Mundial de Futebol. É o campeonato continental, onde só jogam as selecções mais prestigiadas. Acima de tudo, importa ressaltar que é um acontecimento que projectou o nome de Portugal no mundo, tanto ou mais, muito provavelmente, do que o facto de o Porto ter sido a Capital Europeia da Cultura em 2001. Por isso, confesso que ... m'espanto às vezes, outras m'avergonho..., como Sá de Miranda, com certas coisas que leio e ouço.

A bandeira... a questão gravita em torno da bandeira nacional, em torno da forma como uns e outros interpretam a sua aposição nas casas, nos carros, nas lojas, nos blogs, onde quer que seja. Uns, chamam-lhe "bandeiras"; outros, "bandeirinhas"; outros ainda, "bandeirolas".

Os que lhe chamam "bandeiras", têm, decerto, a consciência de que elas simbolizam o orgulho de ser português, o orgulho de organizar um campeonato como o Euro 2004. Apesar de, no entender de alguns, como por aí se apregoa - repito, não aprecio futebol, não tenho opinião formada sobre este assunto - a Selecção Nacional jogar mal, ela tem estado presente em vários campeonatos deste género, Euros e Mundiais. Porém, nunca se viram as bandeiras nacionais expostas pelo país fora como se vê este ano. Será que este estranho fenómeno para(a)normal de deve somente ao facto de a Selecção Nacional estar a disputar o campeonato, como vem acontecendo há já uns tempos? Será um fenómeno com raízes meramente desportivas? Não será difícil concluir que não. O verdadeiro e fundamental motivo pelo qual os portugueses enfeitaram as suas casas com a bandeira nacional é a organização deste campeonato. Essa é que é a diferença entre este Euro e os anteriores. A diferença não está no seleccionador, nem nos jogadores, nem nas hipóteses de vencer... a diferença está no facto de cada português, este ano, se sentir orgulhoso do seu país, por ter conseguido organizar este evento da forma como conseguiu. Está de parabéns, Portugal, quer alguns queiram, quer não. O pequeno rectângulo à beira-mar plantado, que muitos - demasiados - gostam de achincalhar, está de pé, está vivo, está a ter um enorme sucesso! Está a ver o seu nome ser referido internacionalmente por factos (muito) positivos, para variar! Está a vibrar com o trabalho que levou a cabo durante todo este tempo - está a admirar o fruto do seu empenho. E com ele, vibram muitos portugueses, orgulhosos dos feitos presentes do seu país. Como eu, por exemplo.

Adorava poder hastear a bandeira nacional todos os anos, pelos mais variados motivos - culturais, políticos, sociais e, porque não, desportivos. Mas, infelizmente, o nosso país não alcança em todas as áreas o sucesso que alcança no futebol. E quando me refiro ao sucesso, mais uma vez, não estou a referir-me aos resultados da Selecção Nacional, mas à organização do Euro 2004. O que recuso liminarmente é fazer coro com aqueles que vêm nesta autêntica manifestação de empenho e orgulho nacional uma coisa pobrezinha, de "bandeirinhas", ou inculta, de "bandeirolas". Recuso o discurso da diminuição, do desprezo, da deturpação. Como o Régio, não vou por aí. Este país tem demasiados motivos para chorar, para se lastimar, mas esses motivos não são os únicos que lhe restam - tem também motivos para festejar, para rir, para se orgulhar. Por que razão o cinzentismo há-de ser sobrevalorizado e as cores da bandeira nacional hão-de ser diminuídas? Apenas porque o Euro 2004 teve início no dia anterior ao das eleições europeias? Apenas porque se prevê que a abstenção nessas mesmas eleições seja superior ao habitual?

Penso que cabe aqui uma reflexão. Uma reflexão e um paralelismo. O telejornal de hoje, inevitavelmente - e excessivamente, a meu ver -, debruçou-se sobre o Euro e sobre a derrota da equipa portuguesa. Ora, inevitavelmente, porque aguardava as outras notícias nacionais e internacionais, ouvi as declarações do seleccionador nacional, que parecia querer atribuir a derrota a erros individuais. É claro que a sua posição não é a mais confortável, uma vez que dele se esperava outro tipo de atitude, como a assumpção dos erros que lhe caberiam - se é que lhe cabiam alguns, já que não faço a mais pálida ideia se assim é ou não... Ora, tal como o seleccionador parecia querer encontrar, desesperadamente, explicações para o inesperado, também parecem alguns querer diminuir a importância do Euro apenas porque temporalmente coincidiu com a data das eleições europeias. E eu pergunto: o que tem uma coisa a ver com a outra? Porque é que se procura desesperadamente associar o interesse pelo futebol ao desinteresse pela política? Porque é que os políticos e os "politiqueiros" procuram encontrar sempre explicações relacionadas com causas externas à política para os problemas políticos deste país?

A resposta é simples: é muitíssimo mais fácil justificar a abstenção com o jogo inicial do Euro, com a noitada de Santo António, com o fim de semana prolongado, com o bom tempo e o apelo da praia do que com a miserável campanha política, com o perfil desajustado da maioria dos candidatos, com a evidente ausência de estratégias e propostas políticas, com a demagogia, com o populismo fácil das acções em feiras e mercados que já não convencem ninguém, mas que iludem os que pretendem ser deputados. Algum desses senhores crê, verdadeiramente, que conquistará um voto mais facilmente por distribuir panfletos nas ruas do que por discutir causas e coisas que verdadeiramente cativam a atenção dos portugueses? No que a isto concerne, só me apetece sorrir quando ouço ou leio críticas feitas ao "circo" que os portugueses tanto apreciam, proferidas por aqueles que são, nada mais, nada menos, os principais palhaços do circo... O povo que agita as "bandeirolas" é exactamente o mesmo que amanhã irá (ou não) às urnas. E esse mesmo povo, provavelmente, dirá, por via da abstenção, que não ficou convencido com as acções políticas (?!) desta campanha.

Tudo isto prova, acima de tudo, uma coisa - os portugueses sabem muito bem ser solidários e unir-se em torno de algo (pois deram provas disso no acolhimento do Euro 2004) com uma força capaz de mudar o mundo, se preciso for. Se esse algo é positivo ou negativo, depende, logicamente, da perspectiva. Da mesma forma que o nacionalismo não é necessariamente negativo, nem o hegemonismo positivo. Aliás, se bem me lembro, a bandeira (e este termo - "bandeira" - está aqui com um propósito) de todos os partidos políticos concorrentes ao Parlamento Europeu é a defesa dos interesses nacionais... Para quem tem uma visão redutora do nacionalismo, este pode cingir-se da mesma forma a símbolos, campeonatos de futebol ou a eleições europeias. Pena é que quem vê uma coisa, não veja a outra. Eu, pelo menos, tenho para mim que o nacionalismo tanto se demonstra num aspecto, como no outro, e que ser nacionalista não é incompatível com ser europeísta, que gostar de futebol não é sinónimo de não ler livros e não ver filmes e que agitar uma bandeira de Portugal hoje não tem nada a ver com o passado, mas com o presente. Se os portugueses apreciam mais o "circo" do futebol do que o "circo" da política, talvez esteja na altura de alguns palhaços alterarem o show ou sairem de cena... Porque afinal o circo... é o maior espectáculo do mundo.

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