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domingo, 4 de abril de 2004

Tem lume?

E é ainda o Público que suscita mais um post, desta feita sobre a recente alteração legislativa verificada na Irlanda, proibindo o consumo de tabaco em todos os locais fechados. Quando cheguei à última página do jornal deparo-me com esta pergunta no Barómetro Público: Acha que deveria passar a ser proibido fumar nos bares e restaurantes em Portugal? É claro que pensei logo na minha resposta…
O número de fumadores em Portugal é preocupante. Mais preocupante ainda é o facto de o consumo de tabaco entre os jovens ter vindo a aumentar rapidamente, o mesmo sucedendo entre as mulheres, e de os fumadores começarem a consumir tabaco cada vez mais cedo. Isto já para não falar das doenças associadas ao tabagismo, que ceifam vidas a cada segundo, de forma dramática, implicando dor e sofrimento para os doentes e para as suas famílias. Mas estas preocupações parecem-me cada vez mais distantes do poder político…
Definitivamente, não me parece que o Estado Português esteja minimamente preocupado, repito, minimamente, com estes problemas que afectam a saúde dos portugueses. Ou isso, ou, então, é abominavelmente hipócrita. É que não creio que seja plausível que se preocupem com este tipo de doenças sem se preocuparem com outras que conduzem, igualmente, a um elevado índice de mortalidade. Se não, alguém me explique por que razão são licenciados tantos restaurantes de fast food em Portugal, quando se sabe que esse tipo de alimentação é responsável pelo aumento das doenças cardiovasculares - conjuntamente com outros factores, é certo, mas também o é - ? E por que razão continua a existir em Portugal a cultura do consumo de bebidas alcoólicas sem que não haja uma única campanha nacional que chegue a casa dos consumidores desse tipo de bebidas alertando-os para o mal que elas lhes fazem? Isto já para não falar do flagelo social que é o alcoolismo em Portugal, responsável por inúmeros acidentes de viação, por cenários de violência doméstica sobre os cônjuges e os filhos, por criminalidade originada na necessidade de saciar o vício, etc.. E uma vez que sobre o Estado recai o dever de se preocupar com a saúde dos seus cidadãos, porque raio há milhares de portugueses a viverem em condições sub humanas, onde proliferam as mais variadas patologias? E já agora, porque morrem tantos cidadãos à espera de uma intervenção cirúrgica numa lista de espera? Em suma, não creio que a razão que mobilizaria o Estado português a legislar no sentido de limitar os locais onde seria permitido o consumo de tabaco fosse a saúde dos portugueses. Adiante.
Mas se assim não é em Portugal - e, sabemo-lo, em nenhum país do mundo -, o que motivou a Irlanda a fazê-lo? Convém não esquecer que estamos perante um país extremamente conservador. Extremamente mesmo, porque o conservadorismo na Irlanda raia os extremos. Os extremos daquilo que o conservadorismo tem de bom e os extremos do que ele tem de mau. E esta medida legislativa é exemplo do que ele tem de mau. Proibir o consumo de tabaco em todos os locais fechados, sem mais, redunda numa limitação de direitos dos indivíduos fumadores. Não quero com isto dizer que os indivíduos sejam livres, arguindo a sua autodeterminação, de fazer aquilo que lhes aprouver, sem medir consequências, ou desconsiderando o outro - claro que não. Convém não esquecer que o direito de cada um termina onde começa o direito do outro. Ora, se assim é, é compreensível que se limite o consumo de tabaco, já não se compreendendo que o limite seja levado ao extremo, conduzindo à extinção.
Aplaudi com entusiasmo as proibições à publicidade ao tabaco, ao consumo de tabaco em programas de televisão, bem como a de fumar em espaços abertos ao público, nomeadamente, as repartições públicas - excelentes formas de "arrumar a casa", digamos, deixando entrar apenas o que é benéfico, a par do bom exemplo. As medidas que proíbem o consumo de tabaco em locais onde ele pode constituir perigo de vida para as pessoas também são absolutamente necessárias - como, por exemplo, nas estações de combustíveis, nos elevadores, nas zonas onde haja materiais inflamáveis, nos aviões, nos transportes públicos, etc.., e imprescindível era a proibição da venda de tabaco a menores. O mesmo não poderei fazer, no entanto, se uma medida idêntica à irlandesa vier a ser aplicada em Portugal. E como cidadã europeia, não me agradou nada a sua implementação, nem as declarações do senhor Comissário Europeu para a Saúde, David Byrne, que afirmou que gostaria de ver a medida implantada em todo o espaço europeu - dou-lhe um desconto, porque o senhor é irlandês…
Confesso que me incomoda bastante que fumem ao pé de mim. Incomoda-me o fumo, mormente, e o cheiro. E já cheguei mesmo a exigir outro quarto de hotel quando tentaram hospedar-me num que tresandava a charuto. Por isso defendo, para dar resposta à questão do Público, a existência de espaços delimitados para fumadores e não fumadores nos estabelecimentos de restauração. E isto porque respeito que haja pessoas que apreciem uma fumaça depois do almoço ou do jantar ou enquanto conversam nos bares. Não creio, de todo, que a proibição de fumar nos bares diminua o consumo de tabaco; quanto muito, diminuirá, por parte dos fumadores, a afluência a esses locais. Vejo os bares como espaços de divertimento nocturno. Para um fumador, que divertimento constituirá ter de se deslocar ao exterior para fumar? Ou ter de fazê-lo na casa de banho, a exemplo do protagonista da notícia do Público? Nenhum, penso. A solução que se me afigura mais viável é a de os fumadores irlandeses passarem a reunir-se em casa, como forma de evitar a quebra no consumo da cerveja Guiness
O ideal numa sociedade que se quer tolerante é a solução de compromisso, delimitando-se os espaços para fumadores e não fumadores. Esta é, a meu ver, a melhor solução. Daí que defenda que em todos os locais onde o consumo ainda não está regulado se opte pela criação - efectiva, obrigatória, e não mera letra morta da lei - de espaços delimitados. Assim, todos terão consciência de onde termina o seu direito e começa o do outro.
Quanto aos hambúrgueres e às pizzas, ao álcool, à pobreza e às listas de espera, continuam a ser ignoradas pelo Estado por uma razão muito simples: não emitem fumo, como o tabaco… Mas emitem cheiro. Um cheiro putrefacto que envergonha a sociedade portuguesa.

Nota da autora - Eu, fumadora desde os 15 anos, me confesso...



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