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segunda-feira, 20 de outubro de 2003

Tréplica 


A propósito do que foi escrito num outro blog, escrevi o post «Orgulho Gay». Iniciei-o, precisamente, explicando que foi de comum acordo, mas tácito, que eu e a Assumidamente optámos por não nos debruçarmos sobre o que era afirmado em outros blogs. No entanto, por vezes, isso torna-se inevitável, pelo que, pela segunda vez desde o início da nossa assumida aventura na blogosfera, o faremos.
Para melhor se entender o que a seguir vai ser dito, leia-se, por favor, o que aqui foi escrito, com consequentes desenvolvimentos mais à frente, no referido blog.

Em jeito de tréplica, cá vai.

Diz o Hugo A. que «a condição "homossexual" não deveria ocupar em tempo algum a cabeça dos que o são. Deveria ser algo natural. Bem sei que assim não é e, o que constatei e aqui deixei escrito, foi a constante afirmação de uma sexualidade. Como se os próprios não estivessem convictos de si e tivessem que a todo momento de afirmar "sou homossexual".»
Pois bem. Ser homossexual não é para nós uma obsessão, é um facto. Ser lésbica é apenas uma das muitas características das nossas pessoas. Este blog não pretende (nunca pretendeu) ser uma afirmação de coisa nenhuma, muito menos da nossa sexualidade. Este espaço é uma ponte que construímos, post a post, entre nós e quem quiser ler-nos, independentemente da sua sexualidade. Afirmamo-nos, na descrição, como "um blog assumidamente lésbico", mas não exclusivamente lésbico. Quanto ao facto de parecer, ao Hugo A., que não estamos convictas de nós mesmas, motivo que nos levaria a afirmar repetidamente "sou homossexual", permitam-me que diga o seguinte: sempre estive certa daquilo que sentia, daquilo que o Hugo A. etiquetou de "condição homossexual", repito, sempre. Não tenho de o proclamar a cada instante, porque é algo intrínseco a mim. Escrevo num blog de temática lgbt, é certo. Mas não para meu auto-convencimento, longe disso; faço-o antes porque penso ser um blog um meio excelente para estabelecer contacto com outras pessoas, um meio para levantar um pouco o véu sobre o que sentem/vivem/pensam as lésbicas e os gays no seu dia-a-dia. Simplesmente, não me peçam, porque não podem pedir-mo, que desconsidere uma parte importantíssima de mim, que é a minha sexualidade e que, consequentemente, atravessa toda a minha vivência. Não preciso de gritar aos sete ventos que sou lésbica - é verdade. Mas porque haveria de escondê-lo, principalmente num meio como a blogosfera? Porque razão não poderei, ao menos aqui, abrir portas e deixar o pensamento voar, dizer o que penso, assumir uma perpectiva lésbica de alguns assuntos? Porque razão não poderei dedicar um blog, o meu blog, à homossexualidade? Será, porventura, um tema menos legítimo para ser abordado nestas paragens?

Refere-se ainda o Hugo A. ao facto de constituir uma ironia assinarmos sob a forma de pseudónimos num blog que tem por título "Assumidamente". Mas é precisamente por isso, porque entendemos que, ao menos aqui, podemos assumir aquilo que não podemos assumir noutras circunstâncias, que está presente essa ironia. Mas uma mais descarada ironia me parece, e esta do destino (?), que alguém que, como eu, não revela a ninguém a sua homossexualidade, frequenta exclusivamente espaços heterossexuais, tem amigos maioritariamente heterossexuais [e quanto aos que são gays, os assuntos discutidos não passam por esse facto], é sempre tomada por heterossexual (refiro-me tanto ao assédio, como aos diálogos que as pessoas mantém comigo, enfim, penso que me faço entender), seja indiciada, na internet, a propósito de um blog, um simples blog, como alguém que não está segura de si, alguém que tem de repetir incessantemente que é homossexual!

Fala também, o Hugo A., no seu post, acerca de uma pretensa "atmosfera gay" que se respira nos nossos blogs (referiu-se especificamente ao T2 com varanda e ao Casal Gay). Ora, mais uma vez, posso constatar que a diferença incomoda. Seria esta tal "atmosfera gay" criada pelo facto de, entre nós, nos linkarmos uns aos outros, o que daria uma ideia de ghetto gay na blogosfera. Nada de mais hilariante! Simplesmente, se o nosso blog foca um dos inúmeros aspectos da nossa vida - e fá-lo porque o pode fazer, aqui, uma vez mais, assumidamente - não me parece de estranhar que, no direito de opção que temos no que a tal concerne, nos tenhamos limitado a linkar blogs escritos por lésbicas e gays, assumidos ou não! Não passe, no entanto, pela cabeça dos nossos leitores, a não ser apenas - porque de outra forma não se compreende - a título de ingenuidade, que isso quer revelar que estamos fechadas aos comentários seja de quem for, lgbt ou não, nem que nos limitamos a ler os blogs linkados! Simplesmente, optamos, porque podemos e devemos fazê-lo, no exercício de um direito, digamos, de gestão do nosso espaço, por linkar apenas estes blogs - até ver, porque nunca desconsideramos a hipótese de deixar de ser assim! Questiona-se, a este propósito, o Hugo A.: «Foram a isso obrigados?». Não, meu caro Hugo, tal como não somos obrigados a seguir o rebanho da blogosfera e linkar os blogs que a esmagadora maioria dos bloguistas - para não arriscar totalidade, porque detesto generalizar - linka, não lhe parece?! Leio bastantes blogs, dentro da minha disponibilidade, e já pude constatar que muitos bloguistas linkam apenas blogs que poderíamos agrupar numa determinada categoria, por exemplo, "meninas", "meninos", "humor", "informação", "sociedade", etc.. Ora, nunca, por um instante sequer, me passou pela cabeça, que isso fosse reflexo de que aquelas pessoas se limitavam a consultar aqueles blogs, criando uma atmosfera "feminista", "machista", "humorística", etc. fechada ou, para citar o Hugo A., «mais do que predominante, quase exclusiva» nos seus blogs!

A terminar o seu post, o Hugo A. afirma: «Por fim, não queria deixar ninguém triste, mas continuo a achar que os homosexuais têm uma quota parte de responsabilidade na segregação a que estão sujeitos.»
Quanto às minhas considerações pessoais sobre isto, penso que já muito foi sendo dito ao longo da existência deste blog. No entanto, não posso deixar de dizer também, sob pena de desonestidade intelectual, que julgo que tudo isto seria evitado se aquilo que pode ser mudado o fosse. Não nos peçam para deixarmos de ser homossexuais, porque tal não é uma opção, mas, por favor, deixem de nos apontar o dedo, de nos discriminar de tantas e tantas formas, como o vêm fazendo há séculos, a começar, por exemplo, por não verem no aparecimento e proliferação de blogs de temática lgbt, a hipótese de, até na blogosfera, nos empurrarem para, cito novamente uma expressão da autoria do Hugo A. - profundamente ofensiva, considero - "nichos gay".
São esses olhares científicos, como pretende ser o deste bloguista - e que o leva a afirmar perólas como esta :«Esta semana foi feita uma análise aos blogues homossexuais [...]. Os resultados da análise ditaram um aspecto saudável das colónias, mas acusaram também o isolamento das mesmas em nichos gay.» - que são entraves à vida dos homossexuais. Um blog assumidamente lésbico merece esta conclusão brilhante: «isolamento em nichos»... será que o mesmo aconteceria com um blog assumidamente benfiquista, assumidamente comunista, assumidamente literário, assumidamente científico? Estou certa que não. E vocês?

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