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sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Prostituição: discutamo-la então! 


Gosto de desafios e de provocações (das intelectuais mais do que de quaisquer outras), por isso não podia deixar de responder com um novo post aos comentários suscitados em reacção ao “repto aos activistas” que aqui deixei no passado domingo!
Desafia-nos a Anabela Rocha , num comentário a esse post, a discutirmos abertamente a prostituição, a pormos o dedo na ferida e a “enfrentarmos o touro de frente”. Façamo-lo então, ponto por ponto e com a seriedade que os assuntos sérios nos merecem!

Analisemos os factos:

1. A prostituição existe!

2. A prostituição existe organizada de muitas e variadas formas, para satisfazer todos os gostos e feitios.

3. Há imensa gente, pessoas de todos os quadrantes da nossa sociedade, conhecidos e desconhecidos, gordos e magros, ricos e pobres, homo e heterossexuais que recorrem diariamente à prostituição, em todos esses diferentes moldes em que ela se organiza.

4. Existem também imensas pessoas e, entre elas, homossexuais que não recorrem à prostituição ponto!

Estes factos são simplesmente incontornáveis e irrefutáveis. O mesmo não será possível dizer dos juízos de valor que se seguem, tão pessoais quanto o são todos os pensamentos, todas as convicções, todos os princípios! Em relação a eles, admito que haja opiniões em contrário, vozes discordantes, pessoas que se insurjam. Admito até repensar os meus pontos de vista se os argumentos forem fortes, sérios e suficientemente esclarecidos para me demover dos meus “chavões”. Enquanto assim não for aqui vai o que penso sobre a prostituição:

1.
O primeiro juízo que faço é um não juízo, isto é, se pensavam ver-me aqui a fazer discursos moralizantes contra a prostituição, lamento desiludi-los… Se esperavam o contrário, menos desiludidos não vão!...
A prostituição é nada mais nada menos do que a procura do sexo pelo sexo (por parte de quem a ela recorre) ou do sexo pelo dinheiro (por parte de quem a pratica… com mais ou menos “sacrifício”, não vou, porque não quero, especular sobre isso agora!)... Seja como for, a questão acaba por se reconduzir sempre a uma ideia única: o sexo… E o sexo de cada um a cada um diz respeito… Todos nós somos livres para praticarmos sexo com quem quisermos, como quisermos, onde quisermos, desde que não desrespeitemos ninguém, não ofendamos ninguém e não provoquemos ninguém!
Por isso, recuso-me a fazer qualquer tipo de discurso moralizante sobre a prostituição. Se há quem a ela recorra com prazer, tudo bem, se há quem a ela se dedique por necessidade, menos bem… mas não deixa de ser uma opção (porque aqui sim estamos perante opções, e difícil será convencerem-me do contrário!) de vida de cada um… há que arcar com as consequências dessa opção!

2.
O segundo juízo é um sim! Sim à legalização da prostituição!
Sim à legalização da prostituição porque a função da lei, a função do direito, é regular o que existe na sociedade (“ubi societas ibi ius” – aprendamos com os antigos!) e na sociedade existem efectivamente centenas (milhares?!) de homens e mulheres que todas as noites (e dias!) saem à rua para vender o seu corpo e fazem-no à vista de toda a gente, sob o olhar dos mais ardilosos criminosos e das mais pueris crianças, em condições de higiene e saúde que nos transportam para o tempo dos nossos medievos antepassados, fazendo circular com eles uma boa quantia de dinheiro que é “fantasma” aos olhos do Estado!
Sou a favor da legalização da prostituição porque o direito não pode fechar os olhos a uma realidade tão evidente. Sou a favor da legalização da prostituição porque ao direito não cabe moralizar, mas apenas definir regras para o que existe, para que toda a sociedade possa conviver em harmonia, sem que a liberdade das pessoas de fazerem dos seus corpos e do seu dinheiro o que bem entenderem não colida com a minha liberdade de passear por determinadas ruas, a determinadas horas, sem ser tomada por prostituta!
Sou a favor da legalização da prostituição porque estou cansada de assistir diariamente aos deprimentes negócios de esquina de rua entre o velhote do café e a mulher (uma das!) do porteiro, não raras vezes terminados em desacatos que lá obrigam à intervenção de um “complacente” agente da autoridade... Porque acho sinceramente degradante passear pela noite e ver as ruas da minha cidade transformadas em montras de corpos, como se mais nada fosse possível no mundo do que a procura solitária (ou não) de um prazer rápido e volátil…
Sou a favor da legalização da prostituição porque não acredito que ela contribua para um aumento dos números da prostituição no nosso pais, mas antes acredito que possa contribuir para o melhor conhecimento da dimensão de uma realidade que salta à vista de todos nós e que apenas o direito insiste em ignorar!
Sou a favor da legalização da prostituição em nome da saúde pública, em nome de um rastreio às prostitutas e prostitutos do nosso país, porque as doenças sexualmente transmissíveis existem e urge impor regras de despistagem de tais doenças num mundo como o da prostituição onde elas facilmente se alastram.
Sou, finalmente, a favor da legalização da prostituição porque não consigo nem posso pactuar com o branqueamento de capital que a prostituição significa. Há verdadeiras fortunas em torno da prostituição... E bem sei que nem sempre são as prostitutas quem fica com a maior fatia desse bolo… Pois bem, chega de ver pessoas a transbordarem de dinheiro apresentarem-se como desempregados, candidatos a tudo o que é subsídios e fundos do Estado e muito pobrezinhos! Que a prostituição existe é um facto incontornável e intemporal, pois bem, então que as prostitutas, os prostitutos e quem à sua custa vive declarem os seus rendimentos e paguem os devidos impostos!

3.
Reconheço, portanto, que a prostituição existe; demito-me de um discurso moralizador e defendo a sua legalização, agora o que não posso, por princípio e convicção, admitir é que a prostituição se promova! E muito menos posso admitir que se promova a prostituição homossexual!
Normalmente não gosto de repetir ideias que escrevi em posts anteriores, mas porque acredito mesmo que a questão é crucial, aqui vão pontos dentro dos pontos: sou total e radicalmente contra a promoção da prostituição homossexual porque:
3.1. Homossexualismo é, para uma grande maioria da nossa sociedade, sinónimo de promiscuidade.
3.2. É impossível não associar à prostituição a noção de promiscuidade.
3.3. Promover a prostituição homossexual é simplesmente vir oferecer de mão beijada à sociedade argumentos a favor da ideia de que a comunidade gay não passa de uma comunidade sexualmente libertina e irresponsável, numa palavra, promíscua!
3.4. Regressando à frase que deu causa a toda esta discussão dizer-se que se “fica bem servido” com uma prostituta é inequivocamente promoção da prostituição e está já muito longe do que poderiam ser os limites da mera informação jornalística!
3.5. E se já condeno a promoção da prostituição em geral, mais o condeno ainda quando tal promoção é efectuada por alguém que é presidente de uma Associação Gay, e que o é sempre que surge em público, porque mesmo que se afirme como independente, o seu nome nunca deixará de ser associado ao cargo que desempenha e à responsabilidade que pesa sobre os seus ombros de representar centenas de homossexuais!

4.
Ainda em jeito de resposta à Anabela Rocha, saiba que é precisamente por não esquecer que os corpos que existem por trás da prostituição têm um nome, sentimentos e uma dignidade irrefutável que considero a prostituição um assunto sério e um problema premente da nossa sociedade!
Mas é também porque gostaria que ninguém se esquecesse que, por trás da grande maioria de homossexuais não assumidos existem nomes, sentimentos e vivências tão distantes da prostituição, que me agradaria ver quem dá a cara em nome de todos nós ser cauteloso com a imagem que faz passar do que é a comunidade gay! É quase um S.O.S. este que vos envio do fundo desta penumbra!

E já agora aqui vai outro repto a quem me lê: informem-me por favor, que começo a temer pecar por excesso de ingenuidade: não somos só nós, eu e a Mente Assumida, o único casal homossexual a acreditar em relações duradouras, de felicidade e fidelidade, pois não? Não somos só nós que achamos que cultura gay pode ser muito mais do que bares onde “drag queens” (sem desprimores para as ditas, fique desde já salvaguardado!) se expõem durante noites a fio, enquanto pessoas solitárias tentam a sua sorte em engates muito pouco subtis, pois não? Confesso que temo desiludir-me com as respostas!


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